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Prazos do ‘open banking’ ainda podem mudar
O “open banking”, ou sistema financeiro aberto, entra em seu segundo ano de existência ainda com muito a ser cumprido em termos de cronograma. As etapas de implementação seguem em curso e, para os participantes, novas alterações no calendário estabelecido pelo Banco Central (BC) podem ser necessárias. A visão geral, no entanto, é de que o desenvolvimento do sistema, mesmo com os atrasos, tem sido bastante veloz quando comparado a outros países.
Hoje, a primeira fase do open banking, que começou com os grandes bancos disponibilizando informações padronizadas sobre canais de atendimento, catálogos de produtos e taxas praticadas, completa um ano. O lançamento já ocorreu após adiamento e, em meio a novos ajustes de cronograma, vieram as fases seguintes.
De acordo com o BC, o open banking completa um ano com cerca de 800 instituições participantes. Até janeiro, a autoridade monetária registrou 3,3 milhões de consentimentos de clientes para compartilhamento de dados. O sistema parte da premissa de que pertencem ao cliente as informações sobre sua vida financeira e, assim, podem ser compartilhadas com quem ele autorizar.
“Já é possível verificar aprimoramento nos processos de análise de crédito e de ‘onboarding’ de clientes por parte das instituições participantes, bem como soluções de aconselhamento financeiro. Parte dessas iniciativas ainda está em estágio inicial, com ajustes e melhorias em curso, o que é natural dado que o lançamento dessa fase é muito recente”, destaca a autoridade monetária.
Dentro de cada etapa estipulada pelo BC há um escalonamento e a implementação segue em curso neste ano. O coordenador do grupo de trabalho de open banking da Associação Brasileira de Fintechs (ABFintechs), Rogerio Melfi, e o diretor executivo de inovação, produtos e serviços bancários da Federação Brasileira de Bancos (Febraban), Leandro Vilain, apontam que novos ajustes de calendário, embora pontuais, podem ser necessários.
De acordo com o diretor da Febraban, há uma atenção especial com o mês de março, no qual há a entrada das funcionalidades da fase quatro (câmbio, investimentos, seguros e previdência), uma por semana. “De qualquer forma, o Brasil ainda vai ser seguramente o país que implementou o open banking mais amplo, avançado e de forma mais rápida do mundo.”
Um dos dados apontados por especialistas para mostrar a evolução do sistema é o número de chamadas de APIs realizadas, ou seja, as interações de trocas de informações entre instituições. Em dezembro, foram 84 milhões, contra pouco menos de 13 milhões em novembro. “É muito significativo e este ano é esperado um crescimento muito maior”, afirma Melfi.
Na visão de Leandro Pupe Nóbrega, líder de operações da plataforma de open banking Belvo, a implementação não seguiu como esperado inicialmente em 2021, mas os atrasos foram necessários para que se desenhasse um ecossistema mais sólido e seguro. “Nos deparamos com uma agenda que não conseguimos seguir, porém por um bom motivo, que foi amadurecer a infraestrutura para que se crie um open finance bem estruturado para o consumidor final.”
O BC criou grupos de trabalho com integrantes do mercado, modelo conhecido como autorregulação assistida. No formato, os participantes debatem soluções e levam demandas ao regulador. “Embora seja democrático, ocorreram muitas discussões, que acabaram se alongando muito”, avalia Nóbrega. Segundo ele, a expectativa era que no primeiro ano o consumidor e as instituições já conseguissem usufruir do ecossistema. “Mas não foi o que ocorreu”, diz, acrescentando que, neste ano, os benefícios devem começar a surgir.
Vinicius Nascimento Carrasco, diretor executivo da Associação Brasileira de Instituições de Pagamento (Abipag) e conselheiro suplente do Conselho Deliberativo do open banking, afirma que a pandemia trouxe desafios adicionais para a implementação do sistema. Ele destaca o potencial da iniciativa e diz que ainda há certa dificuldade de se vislumbrar todos os novos modelos de negócios que podem surgir com sua total implementação.
O CEO da Celcoin, que fornece infraestrutura de tecnologia financeira e bancária, Marcelo França, acredita que a terceira fase, que trata da iniciação de pagamentos, está entre as que mais expandem os casos de uso. “É uma das minhas apostas de crescimento forte”, afirma.
Para o consultor Boanerges Ramos Freire, da Boanerges & Cia, até o momento, foi dado só o “primeiro passo de uma longa caminhada”. “Temos muito o que aprender, o que ajustar, tanto da parte de quem oferece o serviço financeiro quanto do usuário. Há todo um processo de tomada de consciência, preparação e aprendizado de quem contrata o serviço financeiro.” Vilain acredita que, em um horizonte de cinco anos, é possível que o país tenha cerca de 30 milhões de consumidores participantes e um volume de 10 bilhões de chamadas por mês. “É uma ambição, mas não ficaria surpreso se acontecesse.”
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