Quem é Marina Silva, reconduzida por Lula ao Ministério do Meio Ambiente

Chefe da pasta quando houve queda no desmatamento nos anos 2000, ela terá desafio de recuperar a agenda ambiental

A deputada federal eleita Marina Silva (Rede-SP) será novamente ministra do Meio Ambiente (MMA), levando seu prestígio nacional e internacional na área para o terceiro governo de Luiz Inácio Lula da Silva (PT), que prometeu zerar o desmatamento da Amazônia e dar um novo impulso à agenda climática. O anúncio ocorreu nesta quinta-feira (29) após semanas de rumores sobre se a ambientalista ocuparia a pasta ou se seria nomeada para o cargo de Autoridade Climática prometido pelo presidente eleito.

No final da última semana, contudo, aliados do petista já davam como certa a indicação de Marina. Sua recondução ao Ministério do Meio Ambiente é fruto de uma reaproximação política com Lula e o PT, articulada com o intuito de estimular a formação de uma frente ampla contra o presidente Jair Bolsonaro (PL) e de recuperar a agenda ambiental e climática do Brasil, marca que o terceiro governo Lula aspira a deixar.

Marina Silva, 64 anos, iniciou sua militância política no PT ainda nos anos 80 e chegou ao cargo de ministra do Meio Ambiente entre 2003 e 2008, nos dois governos Lula. Especialistas atribuem à sua gestão no Ministério do Meio Ambiente a queda expressiva do desmatamento na Amazônia, fruto do Plano de Ação para Prevenção e Controle do Desmatamento na Amazônia Legal (PPCdam), lançado em 2004.

O plano, elaborado por uma equipe interministerial liderada por Marina Silva, previa a redução do desmatamento, e a consequente redução das emissões de gases causadores do efeito estufa, a partir de três pilares: ordenamento fundiário e territorial; monitoramento e controle; fomento às atividades produtivas e sustentáveis.

Do lançamento do PPCdam até 2012, o desmatamento na Amazônia caiu mais de 80%, segundo dados do Prodes/INPE. Em números absolutos, a queda foi de 27,77 mil, em 2004, para 4,57 mil quilômetros quadrados de área desmatada em 2012.

A partir de 2014 o desmatamento do bioma amazônico voltou a crescer por anos consecutivos. Durante a gestão Jair Bolsonaro, a devastação cresceu 75,6% até 2021, de 7,54 mil para 13,24 mil quilômetros quadrados de área desmatada. O Prodes estima que, em 2022, o desmatamento fique em 11,6 quilômetros quadrados.

É com o desafio de mais uma vez derrubar as taxas de desmatamento que Marina Silva assume o Ministério do Meio Ambiente. Lula incluiu em seu programa o compromisso de promover “o desmatamento líquido zero, ou seja, com recomposição de áreas degradadas e reflorestamento dos biomas”, além de cumprir as metas climáticas do Acordo de Paris.

Quando sua antiga — e futura — ministra aderiu à campanha, ainda antes do primeiro turno, Lula também passou a se comprometer com a criação de uma autoridade nacional para a emergência climática e de envolver todos os ministérios em torno do tema. Na lista de compromissos firmados está também a atualização do PPCdam.

Histórico de militância

Nascida em um seringal no Acre, Marina Silva foi alfabetizada na adolescência e se graduou em História. Ao lado do seringueiro, ambientalista e sindicalista Chico Mendes, liderou o movimento sindical no estado e filiou-se ao PT — após uma passagem pelo Partido Revolucionário Comunista. Em 1988, elegeu-se vereadora da capital Rio Branco; em 1990, a deputada estadual. Conquistou uma vaga no Senado em 1994 e foi reeleita em 2002, ano em que foi escolhida por Lula para o Ministério do Meio Ambiente.

Ela deixou a pasta em 2008 sob relatos de que se desentendera com a ala mais desenvolvimentista do governo Lula, que defendia a realização de grandes obras de infraestrutura — como a construção da usina hidrelétrica de Belo Monte, em Altamira, no Pará. As divergências se davam sobretudo com a então ministra da Casa Civil, Dilma Rousseff (PT), sucessora de Lula na Presidência, além de Roberto Mangabeira Unger, então ministro da Secretaria Especial de Assuntos Estratégicos da Presidência da República.

Depois de deixar o governo e retornar ao Senado, Marina Silva se candidatou à Presidência da República pelo PV em 2010 e ficou em terceiro lugar, com 19% dos votos válidos. A votação, considerada expressiva, projetou a ex-ministra definitivamente como liderança política nacional.

Em 2014, Marina se lançou a vice-presidente na chapa do então governador de Pernambuco Eduardo Campos (PSB). Com a morte de Campos em um acidente aéreo naquele ano, ela se tornou a candidata do partido e chegou a liderar as intenções de voto. Depois de ataques da campanha de Dilma Rousseff, comandada pelo marqueteiro João Santana, Marina Silva perdeu força na corrida eleitoral e ficou novamente em terceiro lugar, com 21% dos votos válidos.

Os ataques da campanha do PT em 2014, além da Operação Lava Jato e as acusações de corrupção contra as gestões petistas, fizeram com que Marina se afastasse ainda mais de seu antigo partido e de Lula. Já com o processo de criação da Rede concluído, Marina Silva tentou novamente chegar à Presidência em 2018, mas acabou ficando em oitavo lugar, com 1% dos votos.

Neste ano, Marina Silva decidiu mudar seu domicílio eleitoral para São Paulo e, com a reaproximação com seu antigo partido em curso, chegou a ser cotada para ser vice na chapa de Fernando Haddad (PT) para o governo de São Paulo. Finalmente optou por lançar sua candidatura para deputada federal para ajudar a Rede a superar a cláusula de barreira. Foi eleita com 237.526 votos.

(Por Felipe Betim, editor-assistente do JOTA em São Paulo)