Múcio diz que militares concordam com punição de envolvidos em atos e pede cautela para evitar injustiças

Ministro da Defesa de Lula afirma que atentado golpista e depredação dos Três Poderes em Brasília é 'página virada' na relação com militares

O ministro da Defesa, José Múcio, disse hoje que as Forças Armadas estão “cientes” e “concordam” com a tomada de providências contra militares que tenham participado dos atos golpistas de 8 de janeiro. Múcio pediu “cuidado”, entretanto, para que as ações, julgamentos ou penas sejam “justas”. Apesar disso, ele defendeu ao mesmo tempo que não houve envolvimento direto da instituição Forças Armadas no episódio e que, por isso, o assunto é “página virada”.

“Os militares estão cientes e concordam que nós vamos tomar essas providências [punição de militares independentemente da patente]. No calor da emoção, a gente precisa ter cuidado, para que as acusações sejam justas e as penas sejam justas. Mas tudo será providenciado a seu tempo”, afirmou antes de rechaçar um envolvimento generalizado das instituições militares. “Eu entendo que não houve envolvimento direto das Forças Armadas. Agora, se algum elemento, individualmente, teve a sua participação, ele vai responder como cidadão”, defendeu.

Empresários compareceram à reunião

O ministro falou à imprensa após o Palácio do Planalto promover uma reunião entre o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e os três chefes das Força Armadas: general Júlio Cesar de Arruda (Exército), almirante Marcos Sampaio Olsen (Marinha), e o tenente-brigadeiro do ar Marcelo Kanitz Damasceno (Aeronáutica).

O ministro da Casa Civil, Rui Costa (PT) e o vice-presidente, Geraldo Alckmin, também participaram da conversa, assim como o presidente da Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp), Josué Gomes, o ex-presidente do Banco Nacional do Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) Luciano Coutinho e empresários como Benjamin Steinbruch.

‘Renovar a confiança’ foi motivo de encontro, diz ministro

O ministro admitiu, entretanto, que a reunião entre o presidente e os chefes das Forças Armadas foi antecipada justamente para ajudar a “renovar a confiança” do governo no Exército, Marinha e Aeronáutica e “virar a página”. Na avaliação de Múcio, era necessário que fosse convocado um encontro sobre outro tema, que não o ato de 8 de janeiro, para deixar o episódio para trás.

“Não tenha a menor dúvida [de que reunião criou ambiente de distensão]. Foi por isso que nós procuramos antecipar essa reunião. Eu tenho ciência, e as Forças Armadas também, da atenção que ele [Lula] deu às Forças Armadas [nos últimos mandatos]. Ele [Lula] quis renovar essa confiança. Evidentemente, nós não poderíamos ficar com essa agenda última. A gente tem que focar no pra frente, a gente tem que pacificar o país. A gente tem que governar. Então, a conversa de hoje, que seria só no fim de janeiro, início de fevereiro, […] eu pedi ao presidente que antes da viagem dele para a Argentina, que nós antecipássemos [o encontro]”, explicou.

Múcio: Forças Armadas não permitirão outra depredação

Em seguida, Múcio explicou que tem certeza de que as Forças Armadas não permitirão qualquer outro ato de depredação das sedes dos poderes. “Não tenho a menor dúvida de que outro daquele não vai acontecer, até porque as Forças Armadas irão se antecipar”.

Além disso, o ministro afirmou que Lula teria demonstrado na reunião que confia nos chefes das forças.

“[A mensagem Lula aos comandantes foi] de entusiasmo, de fé no trabalho deles. Todos [os chefes das Forças Armadas] se indignaram [com os atos de 8 janeiro]. Não houve quem não se indignasse. De maneira que o presidente Lula disse que confiava no trabalho deles. Tanto que nós hoje tratamos de uma ajuda completamente diferente”, defendeu antes de admitir que existia uma “tensão”.

“Nós não tivemos um problema? Precisávamos ter uma conversa sobre outro tema para apresentar serviço. Eu queria virar a página disso”, contou.

Neste sentido, Múcio negou que os atos golpistas tenham sido sequer citados na reunião. “[A reunião] foi para tratar dos investimentos da indústria de defesa do Brasil. Se vocês me perguntarem se a gente tratou do dia 8, nós não tratamos. Isso está com a Justiça. Nós tratamos da capacidade de geração de emprego que o Brasil tem na indústria de Defesa. Teve a presença do presidente da Fiesp e outros cinco empresários”, disse.

“Todos propondo soluções para que nós coloquemos recursos na indústria de defesa brasileira, para a gente gerar emprego gerar divisa, investir na tecnologia. É um investimento de curtíssimo prazo. São benefícios a curtíssimo prazo. E nós precisamos criar mecanismos, que tenham dinheiro extraorçamentário, para que nós possamos fazer essas coisas”, complementou.

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