Irã ataca Israel: quais são os possíveis efeitos na renda fixa brasileira pós-ataque no Oriente Médio?

Irã ataca Israel e aumenta incertezas pelo mundo; neste cenário, saiba como fica o comportamento da renda fixa no Brasil

O final de semana foi marcado por novos capítulos nas tensões geopolíticas que afetam investidores pelo mundo. Com a notícia de que o Irã atacou Israel, o mercado se preparou, no sábado, para movimentos importantes no início da semana. Com isso, o dólar e os juros futuros dispararam nesta segunda.

O ataque do Irã foi classificado por alguns especialistas muito mais como um “ensaio” do que como uma deflagração de conflito. Foram mais de 200 drones, mísseis balísticos e de cruzeiro disparados na direção de Israel, uma resposta a um ataque do país à embaixada do Irã na Síria, que matou sete oficiais iranianos.

O Irã é um dos aliados mais importantes da Palestina na defesa de seu território diante da operação israelense, que vem se desenrolando como resposta aos ataques feitos pelo Hamas em outubro de 2023.

“Resta esperar qual vai ser o espalhamento da crise no Oriente Médio”, diz o economista Álvaro Bandeira, que ainda crê num recrudescimento do conflito.

Apesar disso, os EUA afirmaram publicamente que não participarão de uma provável ofensiva de Israel contra o Irã. Com isso, “a resposta dos mercados hoje está sendo mais tranquila do que o esperado”, complementa Bandeira.

Os efeitos práticos para o investidor brasileiro até então têm sido a queda da bolsa e a valorização do dólar nesta segunda (alta de 1,3% por volta das 16h) ante o real. Simultaneamente, as treasuries americanas de longo prazo sobem com força (+2,8% para os títulos de 10 anos no mesmo horário das 16h). Isso porque os investidores se afastam de ativos de risco e de mercados emergentes em momentos de iminência de crises.

O que esperar de impacto na renda fixa brasileira?

O conflito no Oriente Médio pode afetar mais a taxa de câmbio caso haja um escalada das tensões envolvendo diretamente o Irã. “Isso poderia provocar um movimento de aversão a risco e valorização global do dólar”, destaca Sérgio Goldenstein, estrategista-chefe da Warren Investimentos.

Nesse sentido, o câmbio poderia afetar a renda fixa no Brasil. “Caso o real continue se desvalorizado, isso geraria efeitos inflacionários e, consequentemente, poderia prejudicar o ciclo de queda de juros que está sendo promovido pelo Banco Central”, complementa Goldenstein.

Apesar da mediana das expectativas dos economistas para a taxa Selic terminal ser ainda de 9,0%, o mercado de juros futuros já precifica uma Selic final entre 10% e 10,25%.

Pós-fixado ou prefixado?

Assim, se o BC encerrar o ciclo com uma taxa Selic num patamar ainda bem restritivo, como está se desenhando, isso geraria efeitos negativos sobre o mercado de crédito e a atividade doméstica, falando em economia real.

No mercado financeiro, deve haver uma reversão das expectativas, que já estavam sendo encaminhadas pela resiliência da inflação americana. Nesse sentido, o CPI (principal índice de preços daquele país) de março, bem acima do imaginado, fez o mercado mudar projeções sobre a queda de juros nos EUA. Antes, a expectativa era para junho. Agora, passa a ser setembro.

“Isso tira graus de liberdade do próprio Banco Central brasileiro para ser mais agressivo com o corte de juros aqui”, avalia o economista André Perfeito.

Assim, o efeito para o investidor brasileiro seria o benefício de modalidades pós-fixadas, imaginando juros mais altos no longo prazo.

Perspectiva para novo ataque do Irã

Hoje, mesmo com o ataque do Irã ter sido considerado algo como um “ensaio de força” e não como um ameaça real, já há um alerta sobre os mercados com o avanço dos juros futuros, do dólar e do ouro (modalidade de investimento que se beneficia de momentos econômicos e políticos críticos).

Se o conflito entre as duas potências do Oriente Médio for realmente deflagrado com um novo ataque do Irã ou um revide de Israel, então, a percepção é de que pode ser muito difícil uma política monetária mais branda, como se imaginava, o que favoreceria ainda mais a renda fixa pós-fixada, segundo Perfeito.