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Análise: Com promessas aos militares, Moraes tenta esvaziar 7 de Setembro de Bolsonaro
Com o tom amistoso da reunião entre o general Paulo Sérgio Nogueira e Alexandre de Moraes, o Ministério da Defesa e o Tribunal Superior Eleitoral (TSE) tentam virar a página da polêmica envolvendo as sugestões dos militares para aumentar a transparência do sistema de votação. A trégua, contudo, tem caráter simbólico, às vésperas das manifestações de 7 de Setembro.
Nenhuma das providências ainda em discussão pelo tribunal para implementação no processo eleitoral deste ano representa mudança operacional significativa no modelo de urnas e totalização de votos, amplamente contestado por Jair Bolsonaro e seus auxiliares das Forças Armadas.
O que na prática foi reconhecido pelo ministro da Defesa foi o sucesso do teste de integridade das urnas, consolidado por universidades e que é praxe desde 2002.
A reivindicação mais controversa dos militares, na verdade, ficou para mais adiante. O que está pactuado com os técnicos do TSE é um piloto de novo formato de teste público de segurança. Isso caso se viabilize mecanismo que preserve o sigilo do voto, em caso de uso de biometria para a checagem dos dados constantes das urnas e conferidos com impressão.
Na saída do encontro, embora tenha sido combinada apenas uma manifestação oficial do TSE, interlocutores de Nogueira disseram ao JOTA que o encontro foi “extremamente positivo” e procuraram demonstrar alinhamento com as promessas feitas por Moraes.
O coronel Marcelo Nogueira de Souza, que em julho disse no Senado que os militares não tinham informações que garantissem a segurança das urnas contra “ataques internos”, também participou da conversa.
Cronologia
O recuo do Ministério da Defesa ocorre depois que a tentativa de Bolsonaro de gerar desconfiança internacional sobre o sistema eleitoral fracassou. Após a reunião com embaixadores na qual condicionou a aceitação do resultado das urnas à incorporação pelo TSE de sugestões feitas pelos militares, o presidente foi confrontado com reações diplomáticas, econômicas e institucionais de peso.
Primeiro, foi o Departamento de Estado dos EUA, que referendou sua confiança no TSE, seguido pelo governo do Reino Unido. Na semana seguinte, entidades tradicionalmente governistas, como a Fiesp e a Febraban, engrossaram o coro.
O cerco se fechou com a posse de Moraes no dia 16 de agosto, quando o ministro foi avalizado pelo establishment político de Brasília, com representantes de todos os Poderes amparando seu discurso em defesa do sistema eletrônico de votação adotado pelo Brasil.
Sinal amarelo
Moraes, que conduz no STF inquéritos hostis a Bolsonaro, procurou atuar diretamente com o comando das Forças Armadas, de forma a reduzir a tensão com os oficiais. Foi dele a iniciativa de estimular o debate, que vinha interditado pela gestão de Edson Fachin, seu antecessor no tribunal.
Agora, a uma semana dos atos previstos para o Dia da Independência, Moraes tenta tirar da pauta das manifestações de rua pró-Bolsonaro a contestação do sistema eleitoral e a suposta vulnerabilidade das urnas.
Trata-se de um movimento para esvaziar o engajamento da ala mais radical do bolsonarismo às passeatas, que tendem a ser numerosas e com capilaridade nacional.
O governo, que já vinha demonstrando preocupação com a mobilização para o 7 de Setembro, acendeu o sinal de alerta. Bolsonaro foi orientado a reforçar a convocação de apoiadores para os atos nas redes e nos discursos em comícios, sob pena de ver um esvaziamento dessas manifestações, que ele considera decisivas para demonstrar que conta com respaldo das ruas para a eleição.
(Por Fábio Zambeli, analista-chefe do JOTA em São Paulo)
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