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O que esperar do mercado de M&A em 2025?
Em janeiro de 2024, escrevi um artigo compartilhando minha leitura sobre o que viria no ano. Estava otimista. Terminei o texto dizendo: “Enxergamos à frente um ano muito positivo para as fusões e aquisições de forma geral, com foco no crescimento das empresas e na retomada dos IPOs reprimidos nos últimos anos”. Conclusão: pesei a mão no otimismo!
A poucos dias do encerramento do ano, estamos caminhando para um cenário melancólico em 2024. As expectativas eram de mais ofertas iniciais de ações (IPOs, na sigla em inglês), juros abaixo de 10% e uma bolsa pujante.
Contudo, a realidade foi bem diferente: os juros caíram, mas não demorou para voltarem a subir. O dólar, que estava na faixa dos R$ 5, já alcançou R$ 6, com um cenário ainda incerto sobre até onde pode chegar.
Os juros futuros agora apontam para algo entre 14% e 15% ao ano nos próximos encontros do Banco Central, e os IPOs, além de não terem voltado este ano, estão muito longe de qualquer perspectiva de retorno em 2025.
Estive recentemente em um evento com gestores de recursos das principais empresas do segmento no Brasil, e parece haver um consenso no mercado.
A mensagem mais repetida durante a programação foi: “vamos esperar a eleição de 2026”. A expectativa é que, de alguma maneira, as eleições tragam um alento para a nossa economia.
Uma foto desse ano em números, os dados da KPMG evidenciam um avanço de 5% no volume de transações no Brasil no período até 30 de junho de 2024. Contudo, os números do TTR apontam que, até 31 de outubro, o volume recuou 23%.
Ainda aguardamos dados mais recentes da KPMG para conferir se houve alguma mudança de tendência. Mas, diante do cenário, é plausível concluir que o volume de fusões e aquisições no Brasil em 2024 deve ficar estável, próximo do que acompanhamos em 2023, ou, no máximo, levemente abaixo do ano passado.
Sem IPOs no radar para o próximo ano, será difícil observar uma grande retomada de fusões e aquisições em 2025, considerando o cenário de juros elevados, com inflação pressionada pela demanda estimulada pelas políticas governamentais. Temos adiante um horizonte econômico cinzento.
No entanto, ao observar o recorte do mercado por segmentos específicos, existe a expectativa de encontrar melhores oportunidades em 2025.
No varejo, por exemplo, as redes podem buscar transações como alternativa estratégica para lidar com os desafios impostos pela pressão da alta de juros. Já no setor do agronegócio, a resiliência deve prevalecer, mesmo diante do impacto dos juros elevados por mais tempo.
A tecnologia, por sua vez, permanece em um caminho relativamente independente das decisões políticas em Brasília. Esse segmento deve continuar ativo, impulsionado por inovações, demandas por eficiência e capital de fundos de private equity e venture capital.
O setor de saúde, que tem gradualmente superado sua crise mais aguda, apresenta sinais de recuperação, o que pode favorecer novas transações. Acredito que o mercado de energia tem motivos para apresentar consolidações, especialmente com o avanço do mercado livre de energia para pequenos consumidores.
A indústria também pode surpreender positivamente, considerando a pressão sucessória que vem ganhando força mais recentemente. De acordo com um levantamento da Confederação Nacional da Indústria (CNI), 30% das empresas já possuem pelo menos um líder com mais de 61 anos. Esse fator, combinado ao cansaço de muitos empresários diante do cenário econômico desafiador dentro e fora do país, pode estimular transações no setor.
Outro ponto relevante é o papel dos fundos de private equity e venture capital. Muitos deles estão em fase de desinvestimento, e as vendas de empresas maduras podem contribuir para o aumento no volume de transações. Essa maturação das carteiras tende a movimentar o mercado, mesmo em um cenário adverso.
Apesar das adversidades aqui mencionadas, de forma geral, não esperamos grandes retrações no mercado em 2025. Contudo, os motores tradicionais de estímulo — juros baixos, economia aquecida, inflação controlada e IPOs — não estarão presentes, o que deve limitar uma recuperação expressiva.
Ainda assim, historicamente, no mercado de fusões e aquisições, cenários mais desafiadores e com algum grau de antecipação podem gerar oportunidades vantajosas para compradores. Com os vendedores conscientes e ajustando suas expectativas de preço, o mercado pode encontrar estímulo para gerar novos negócios.
Portanto, acredito que manteremos o cenário de um mercado no patamar de 1.300 a 1.500 transações anuais, com um amadurecimento constante da classe empresarial em relação ao ambiente de M&As e transacional.
A única convicção que resta é de que 2025 será o ano do não avanço e do compasso de espera. Resta saber se esse ritmo se estenderá até as eleições de 2026. Espero que não.
Artigo originalmente publicado no Valor Econômico. Este artigo reflete as opiniões do autor.
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