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Nyse vê ano melhor para IPOs após seca de 2022
A crise bancária e as incertezas sobre os ajustes que o Federal Reserve (Fed, o banco central americano) poderá fazer nas taxas de juros dos Estados Unidos não impedem que a Bolsa de Valores de Nova York (Nyse) enxergue uma tendência positiva para as ofertas iniciais de ações neste ano. Isso vale, segundo o vice-presidente da Nyse, John Tuttle, não apenas para empresas americanas, mas também para estrangeiras.
Em viagem ao Brasil para visitar empresas, participantes do mercado, reguladores e representantes de governos, Tuttle diz que nos últimos anos houve uma mudança nos objetivos dos investidores na bolsa americana. Os anos de 2020 e 2021, de taxas de juros baixas como forma de enfrentamento da pandemia, trouxeram ótimos resultados para a Nyse, embalados pelas empresas com forte potencial de crescimento. “Eles [investidores] estavam menos focados em empresas com grande lucratividade e ganhos por ação porque estávamos em um ambiente de baixas taxas de juros”, afirma o executivo, que conversou com o Valor durante sua estada no Rio. “Então havia muito dinheiro se movendo para o patrimônio.”
No ano passado, com a subida dos juros pelo Federal Reserve, os investidores começaram a olhar outros fatores, afirma Tuttle. “Passaram para uma base maior de companhias com lucratividade.”
Do lado das empresas, isso causou uma parada nas ofertas públicas iniciais de ações (IPOs, na sigla em inglês). Empresas que se preparavam para a listagem na bolsa desistiram dos planos, o que levou 2022 a ser, lembra Tuttle, o pior ano em para esse tipo de operação “em muitas décadas” – foram captados apenas US$ 9 bilhões em aberturas de capital nos EUA.
Agora, há a expectativa de uma retomada. “O mercado ano passado desacelerou, mas agora vemos companhias se preparando para vir ao mercado. Companhias americanas e não americanas”, afirma.
De acordo com ele, a primeira onda deve ser de empresas de energia, “o que faz sentido dentro da atividade geopolítica do último ano”, quando a guerra na Ucrânia pressionou os preços dos ativos do setor. Mas o executivo ressalta que também já podem ser vistas “várias companhias” já listadas na bolsa começando os preparativos para separar partes do negócio de forma a destravar valor para os acionistas.
“Então vai haver um número de ‘spin-offs’ e cisões vindo ao mercado. E assumindo que esses ‘spin-offs’ e cisões serão bem recebidas pelos investidores, vamos ver também empresas de mais setores da economia começarem a perseguir seus IPOs”, projeta Tuttle. “Então estou otimista. Vamos ver atividade de abertura de capital em 2023 e vamos ver mais em 2024.”
Tuttle também se mostra entusiasmado com as perspectivas para as empresas brasileiras no mercado americano. O Brasil é o terceiro país estrangeiro com o maior número de listadas Nyse, atrás apenas de Canadá e China, com 34 companhias. O valor de mercado dessas empresas, segundo Tuttle, soma US$ 500 bilhões e elas empregam mais de 1 milhão de pessoas. “Há muitas coisas acontecendo no Brasil, que é um país da mais alta importância para a Nyse e já o é há algum tempo”, afirma Tuttle.
Segundo ele, qualquer que seja o ambiente ideal para os investidores – se empresas jovens em busca de crescimento ou boas pagadoras de dividendos -, o Brasil está “bem representado” em diversos setores.
Nesse sentido, ele lembra as razões de sua visita ao Brasil e ressalta a “oportunidade” de estar no país numa semana importante devido à decisão do Federal Reserve sobre os juros americanos, no próximo dia 22.
“Há muito interesse sobre o que acontece nos Estados Unidos em relação ao ambiente macroeconômico, sobre o que o Fed vai fazer e como vai ser o impacto disso nos mercados”, diz Tuttle.
Tuttle ressalta a importância do New York Stock Exchange Institute, lançado em julho do ano passado com o objetivo de fazer chegar a diferentes locais os valores do mercado. O executivo lembra que a Nyse tem 2,4 mil empresas de 46 países listadas, que somam cerca de US$ 40 trilhões de valor de mercado, geram US$ 20 trilhões de receita e empregam 43 milhões de pessoas. “Como aproveitamos o poder dessa comunidade? Garantindo que os políticos em Washington e em outras cidades e capitais do mundo entendam o importante papel que os mercados de ações e as companhias abertas têm no crescimento inclusivo.”
Questionado por e-mail sobre os efeitos da quebra do banco americano SVB, Tuttle respondeu que não comentaria o assunto.
Por Rafael Rosas, do Valor Econômico
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