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Chegou a hora de olhar o esporte como negócio e investimento
No mundo dos investimentos as novidades cada vez mais tecnológicas valem mais do que o que se passa na vida real. O esporte costuma ser tratado como patinho feio, em detrimento de techs e teses que acumulam “futuro” e artificialidade. Mas a vida é ao vivo, é agora, e quanto mais tempo as pessoas tiveram em função dos avanços tecnológicos, mais disponibilidade terão para usufruir de atividades reais, como o esporte. Então, chegou a hora de olhar o esporte como negócio e investimento.
Investidores de olho em… esportes
Alguns players já perceberam este movimento. E, por isso, temos visto cada vez mais fundos de investimentos, private equities, family offices, entre outros, em busca de ativos voltados ao esporte.
Desde a pandemia temos observado aumento no consumo de assuntos ligados ao esporte, da prática esportivo às transmissões, seja em modelos tradicionais ou alternativos, como redes sociais.
Segundo a pesquisa anual da Sport Track, 2023 foi o ano em que 82% dos brasileiros disseram ter praticado alguma atividade física, número que em 2020 era de 69%.
42% diziam frequentar academia, 38% jogavam futebol e 22% caminhavam com frequência.
E não apenas praticaram, mas acompanharam esportes. Os dados da pesquisa, que é nacional e está detalhada no Relatório Convocados / Galapagos Capital de 2024, apontam que 68% das pessoas acompanha esportes pela TV aberta, e 66% pelas redes sociais.
Além disso, 33% assinam algum canal de streaming com o objetivo de acompanhar esportes.
O mercado dos esportes
Ou seja, temos um mercado consumidor de fato, que cresce, e que carrega uma série de segmentos e indústrias, criando um ecossistema.
Quem pratica esporte precisa de algum equipamento, nem que seja um tênis, um calção, camiseta e meias. Sem contar as raquetes e bolas.
Boa parte consome produtos especiais, como suplementos alimentares, barrinhas proteicas, isotônicos. Relógios e equipamentos para monitorar fazem parte da rotina de exercícios, além de serem usados de maneira casual.
Quando seu time disputa uma partida, quando Bia Haddad entra em quadra, quando vemos aquela turma correndo no domingo de manhã, tudo movimenta muita gente, diversos negócios e dinheiro.
De quem vendeu o ingresso a quem pagou pela transmissão, passando por quem preparou as estruturas, quem vendeu o pacote de viagem, quem organizou o evento.
E, claro, quem patrocinou, porque o esporte é uma ferramenta importante na divulgação de marca e acesso ao consumidor.
Quanto os esportes movimentam pelo mundo
Segundo Tony Ressler, da Ares Management, o segmento de esportes é uma classe de ativos estimada em mais de US$ 3 trilhões. E tudo nasce nas ligas e franquias. Não é à toa que a Ares é acionista do Atlanta Hawks, particiam no Atlético de Madrid, no Chelsea, participa em ligas e franquias de outros esportes nos EUA.
A partir dos clubes e ligas, ele adiciona serviços que agregam valor ao negócio, reforçando a tese de ecossistema. E a camada mais jovem da população está acompanhando cada vez mais esportes em diversas plataformas.
Hoje acompanha-se muito mais esportes que há 20 ou 30 anos, pois é possível ver a partida inteira, vendo os highlights, com lances históricos, de diversas formas. No passado era necessário esperar o gols da rodada, a partida de domingo de manhã, a hora do almoço – antigamente chamados de “melhores momentos”. Enquanto hoje há esporte 24 horas à disposição.
Ativos ligados aos esportes estão mais valorizados
E os ativos estão se valorizando, à medida em que é possível extrair mais valor dos negócios, conforme eles evoluem.
Por exemplo, Silvio Berlusconni vendeu o AC Milan em 2017 por cerca de € 700 milhões, e em 2022 o fundo Elliot vendeu o clube para a RedBird por € 1,2 bi.
RedBird que tem participação na empresa de mídia dos Yankees, e é parceira da CFG, que possui presença em 15 clubes ao redor do mundo.
Formação de ecossistema
Os clubes, de qualquer esporte, são a porta de entrada para o mundo dos esportes. Eles possuem os maiores valores do ecossistema: marca, história e consumidores. A partir daí cria-se a relação com outros negócios satélites, pois eles têm a propriedade intelectual mais valiosa.
E, além de ganhar dinheiro no processo de compra e venda dos clubes, agrega-se valor com a formação de um ecossistema. Estar na indústria abre possibilidades.
Fundos menores optam pela tendência óbvia do investimento em sportechs. Fan Engagement, ticketing, análise de dados de diversas áreas. Tudo contribui, mas dependem do essencial: clube, marca e consumidor.
Acesso aos consumidores
E há outro movimento interessante que é participar e consolidar a presença em ligas. Quem tem feito este papel é o CVC, que em percentual da LaLiga, da Ligue 1, da F1, da FIVB, entre outras. Ser o “dono do jogo” permite acessar toda a base de consumidores, ainda que traga mais riscos.
Falando em risco, não é fácil pensar nessa construção. O mundo do esporte é fragmentado, por vezes tratado de forma artesanal, com interesses dispersos.
E não é uma questão de juntar A com B, mas de fazer as conexões que gerem valor, ter capacidade de entender a dinâmica da operação esportiva, a melhor forma de maximizar investimentos, acessar os torcedores e fãs, valorizar a relação com parceiros comerciais, encontrar os pontos de conexão.
Só quem tem visão 360º e acompanha o setor por dentro, mas com a devida distância, é capaz de criar a estrutura de investimentos mais eficiente. Posso garantir que há pouca gente no Brasil capaz de fazer isso.
Sucesso da Fórmula 1
Um exemplo de sucesso recente é a Fórmula 1. Desde que foi adquirida pela Liberty Media a modalidade apresenta saltos de crescimento de receitas e penetração no dia a dia das pessoas de maneira impressionante.
Criou-se um ecossistema, com produção da série “Drive to Survive” da Netflix, um canal de streaming próprio, aumento na quantidade de corridas no ano, uso abundante de redes sociais para aumentar a base de público.
As receitas cresceram 20% no 1º semestre de 2024 em relação ao mesmo período de 2023, atingindo US$ 871 milhões. Enquanto isso, o montante repassado para as equipes cresceu 26%, atingindo US$ 435 milhões no semestre. Donos de equipes agradecem. Aliás, outro ativo interessante, dentro de um ecossistema.
Esportes: um mundo de oportunidades
Falando em ativos interessantes, há alguns dias o grupo LVMH, dono de marcas de alto luxo como Louis Vuitton, Dior, Moet & Chandon entre outros, anunciou a aquisição do Paris FC, clube da Ligue 2 francesa, em conjunto com a Red Bull. Marca de luxo de olho num mercado em franca expansão.
Clubes, ligas, eSports, produtos, competições, tecnologia, mídia e publicidade. Um mundo de oportunidades numa indústria que sempre ficou à margem dos olhos de quem investe. A hora chegou.
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