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Corinthians e São Paulo: quando a fantasia toma conta da realidade
A indústria do futebol não é fácil. Acho que já repeti esta frase umas 50 vezes nas colunas escritas para a Inteligência Financeira. E, ao mesmo tempo em que ela se profissionaliza e atrai interesse de investidores, nos deparamos com situações que representam certa disfuncionalidade cognitiva de players importantes, que ratificam a dificuldade em se fazer futebol de maneira organizada e profissional. Hoje vamos entender isso nos exemplos de Corinthians e São Paulo.
Olha lá, escrevi “profissional” duas vezes no mesmo parágrafo. Sim, precisamos trabalhar para que isto se torne realidade e destrave valores na indústria. Mas, como diz uma frase que li por aí, “tem dia que de noite é dose”.
Corinthians e São Paulo em um universo paralelo
Precisamos falar do que se passa na dupla que protagoniza o clássico Majestoso: Corinthians e São Paulo, e que parecem viver num universo paralelo. E vamos falar sobre isto agora, porque quando os balanços de 2024 surgirem já estará em andamento o Campeonato Brasileiro, a Libertadores, a janela de transferências já terá passado.
Do lado do Parque São Jorge a situação financeira é catastrófica. O clube sinaliza fechar o ano com mais de R$ 2,4 bilhões em dívidas, para receita da ordem de R$ 1,0 bi – sendo bem generoso – o que indica alavancagem de 2,4x, número absurdamente impossível de ser gerido, uma vez que só o custo Selic da dívida gera mais de R$ 300 milhões em despesas financeiras.
Não é à toa que o clube se agarra à paixão do torcedor para reduzir o passivo com a Caixa associado à Neoquímica Arena. Precisou apelar para uma “vaquinha” para tentar reduzir os R$ 700 milhões de dívida. Respeito muito a iniciativa da torcida, mas é o rabo abanando o cachorro.
Além disso, nos últimos dias o clube anunciou que pretende centralizar suas dívidas num RCE – Regime centralizado de Execuções – de forma reduzir as penhoras que asfixiam o caixa. Ótimo, mas o impacto de R$ 50 milhões é uma gota num oceano, e já sinaliza algo mais drástico num futuro próximo.
Esportivamente conseguiu reverter um cenário muito ruim do primeiro semestre, não só escapando da zona de rebaixamento como se classificando para a Libertadores de 2025.
Bom trabalho esportivo, que certamente teve um custo imenso e que contribuiu para a dívida chegar aos atuais patamares. Aliás, foram duas ondas de contratações para reforçar o elenco, mas a do primeiro semestre fez água, e preciso abrir os cofres vazios no segundo semestre.
E parece tudo bem. Memphis, Yuri, Hugo, Libertadores, R$ 2,4 bi em dívidas, vaquinha. E vida que segue, inclusive com planos de contratar mais estrelas para 2026. Como se tudo estivesse bem, e os credores estivessem felizes com os atrasos. Até o Ronaldo lembrou que tem boleto pendente.
São Paulo com altos e baixos
Algo que parece acontecer pelos lados do Morumbi. O São Paulo FC é quase bipolar. Num mês anuncia a emissão de um FIDC para equacionar as dívidas caras – aliás, excelente alternativa – com controles financeiros que servirão de amarras para que o clube efetivamente volte aos trilhos financeiros. No mês seguinte anuncia um deficit de R$ 191 milhões e uma dívida que beira R$ 900 milhões – pelas contas do clube, que normalmente são inferiores à realidade.
Para ajudar nessa conversa, o treinador diz que precisa contratar reforços, para um elenco que custou mais de R$ 120 milhões em contratações em 2024 e que não deixa nenhuma saudade no sãopaulino acostumado a equipes competitivas.
Isto tudo acontecendo e o clube deixou de formar e negociar atletas de base, fonte importante de desafogo de caixa e recomposição de dívidas. E nada muda numa diretoria que se mostrou incapaz de fazer mais com menos, como acontece com o Fortaleza por exemplo, e que tem o desafio de limitar gastos a partir do ano que vem.
Área financeira do Santos trabalhando em dobro
Poderia trazer o Santos para este grupo, que ao voltar para a Série A e se ver com aumento de receitas com direitos de transmissão já coloca as mangas de fora e fala em contratações e reforços, como se dinheiro desse em árvore.
E vindo de um ano difícil em que não se ouviu falar em atrasos e problemas relevantes, certamente fruto de uma área financeira que se desdobrou para garantir resultados fora de campo.
Situação geral no futebol
Este é o comportamento que os clubes estão adotando para tentar acompanhar os co-irmãos que estão algumas léguas à frente.
Clubes com dívidas comportadas, receitas elevadas e crescentes, categorias de base funcionando, custos controlados. Ou donos que estão em fase de investimentos nos ativos.
Wrong way! E amparados na festividade das torcidas e de parte da imprensa.
Ajuste de rota para São Paulo e Corinthians
Passou da hora de São Paulo e Corinthians ajustarem a rota.
Não dá mais para olhar o ponteiro das dívidas subindo, dos custos crescendo, e achar que este é o caminho de tijolos amarelos que os levará a Oz.
O Corinthians e todos os seus stakeholders precisam deixar a megalomania no passado. Sem uma reestruturação dura não haverá futuro. Em algum momento vai emperrar.
No São Paulo passou da hora dos donos do clube, os conselheiros vitalícios, entenderem que é preciso oxigenar as ideias e os profissionais.
Não dá para não ter uma estrutura profissional na gestão do futebol, da base, e retomar o ritmo de crescimento de receitas. O efeito está na última pesquisa Datafolha de torcidas, quando apareceu com 6%, número inferior aos anos anteriores.
Ou conformem-se com a bruxa malvada do oeste tomando conta da cidade.
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