Análise: No fim das contas, Dia pagou para vender e operar no Brasil

Segundo apurou o Valor, os espanhóis já teriam aportado entre 500 milhões de euros e 1 bilhão de euros nos últimos anos no Brasil, por conta dos prejuízos acumulados e pela necessidade de capital na operação

Os espanhóis do grupo Dia praticamente pagaram para operar e para conseguir se desfazer de seu negócio no Brasil.

A venda da cadeia de supermercados ao Lyra II Fundo de Investimento em Participações Multiestrategia ocorreu por valor simbólico de R$ 570 (100 euros), e os espanhóis estão colocando cerca de R$ 220 milhões antes do dia do fechamento (“closing”) do negócio, equivalente a 39 milhões de euros.

Os recursos irão para o caixa do Dia Brasil, para manter a atividade, como injeção de capital. Outros R$ 170 milhões são dívidas em que o grupo espanhol era o garantidor.

São recursos que se somam a outros aportes já feitos pela matriz, depois que o negócio passou a perder vendas, com a forte competição local dos atacarejos, além de medidas da ex-administração que não deram resultado esperado após a pandemia, pressionando os números operacionais de dois anos para cá.

Segundo apurou o Valor, os espanhóis já teriam aportado entre 500 milhões de euros e 1 bilhão de euros nos últimos anos no Brasil, por conta dos prejuízos acumulados e pela necessidade de capital na operação.

A transação atual com o fundo envolve as dívidas concursais, de cerca de R$ 1,1 bilhão, num formato de venda de “porteira fechada”. Ou seja, o Lyra II Fundo de Investimento em Participações Multiestratégia assume o negócio no estado em que se encontra e, assim, isenta o vendedor de eventuais perdas, mesmo que apareçam novos passivos e contingências.

O FIP em questão foi aberto apenas há duas semanas, em 17 de maio, apurou o Valor. A gestora MAM Asset, do banco Master, viabilizou a criação do fundo, mas não participa do investimento.

Apesar de existir um trabalho de recuperação do negócio antes de uma venda, liderado pela nova administração desde o anúncio da recuperação, a matriz analisou, em paralelo, soluções para colocar um fim mais rápido a sua atividade no Brasil.

E com isso receberá royalties da marca e poderá “limpar” o balanço global, tirando em definitivo as contingências de Brasil. A marca Dia continuará em operação no Brasil, como já antecipou o Valor hoje. O fundo deve operar como um controlador estratégico.

A ideia de tirar Brasil das demonstrações de resultado era um desejo dos espanhóis, e o interesse de um investidor em montar um fundo para ficar com o negócio fez acelerar a transação neste mês.

O principal banco credor da rede é o Santander. Ainda são credores o Daycoval e o Banco do Brasil, mas a maior parte da dívida está nas mãos de fornecedores.

Com informações do Valor Econômico