Entenda porque os donos da IGB, antiga Gradiente, resolveram recomprar ações da empresa

Em recuperação judicial, a IGB teve uma das maiores altas da bolsa nesta segunda (12)

Entre os maiores avanços da bolsa brasileira nesta segunda-feira, as ações da IGB Eletrônica (IGBR3), antiga Gradiente, em recuperação judicial desde 2018, fecharam em alta de 27,44%, a R$ 33,30.

O movimento ocorreu após a companhia propor uma oferta de aquisição de ações (OPA) para fechar o capital na B3. O volume de negociações somou R$ 1,952 bilhão, ante os R$ 31,4 mil registrado na última sexta-feira (9).

A empresa chegou a disparar mais de 40% após propor recompra de ações.

Com base na oferta de R$ 40,51 por ação na OPA, para fechar a operação, a companhia teria de desembolsar R$ 24,3 milhões, uma vez que 49% das ações da empresa estão em circulação. Sem receitas operacionais, o faturamento da companhia hoje provém do recebimento de aluguéis do seu parque industrial localizado na Zona Franca de Manaus.

Fechamento de capital

A Gradiente, uma das empresas mais lembradas pelos brasileiros, prepara seu fechamento de capital enquanto enfrenta um futuro incerto sobre o que já foi a maior fabricante de produtos eletrônicos do país.

Na última sexta-feira (9), os controladores da IGB Eletrônica lançaram uma oferta de aquisição de ações para comprar a participação de 49% dos acionistas minoritários.

A oferta, que vai dar R$ 40,51 por ação da IGB, que atualmente está em recuperação judicial, impulsionou as ações da empresa, que sobem 34,52%, a R$ 35,15, entre as maiores do mercado na segunda-feira.

O volume financeiro soma mais de R$ 1,5 milhão, contra R$ 31 mil da sexta-feira (12).

O valor ofertado implica em um prêmio de 55% sobre o preço de fechamento anterior.

Movimento previsto na recuperação judicial

O processo de fechamento de capital já era previsto em seu processo de recuperação judicial homologado pela Justiça do Amazonas em 2019, diz uma fonte ligada à empresa.

“Hoje a IGB é um papel com movimentação irrisória, ter ações em circulação prejudica a saída da recuperação judicial”, afirmou uma fonte que pediu para não ser identificada.

A oferta foi lançada pela controladora HAG Holding, criada em 2008 para abarcar os ativos da Gradiente, que tem como único sócio Eugenio Emilio Staub. Os recursos para comprar as ações sairão diretamente do bolso de Staub, afirma a fonte.

Prejuízo de 54 milhões

Em 2021, a IGB Eletrônica teve prejuízo líquido de R$ 54,1 milhões, redução de 36,1% das perdas na comparação com o ano anterior.

A receita líquida foi de R$ 5,5 milhões, alta de 5% na comparação com 2020. Hoje, a IGB é uma empresa não-operacional, com seu faturamento vindo do aluguel de suas fábricas na Zona Franca de Manaus.

“O principal motivo para o fechamento de capital é reduzir custos, hoje para manter o capital aberto é cerca de R$ 1,5 milhão por ano, além de eliminar a especulação envolvendo os papéis”, diz a fonte.

A IGB conta com cerca de 850 acionistas minoritários, sendo que 761 possuem menos de mil ações.

IGB x Apple

Um caso de especulação constante envolvendo as ações da IGB é o processo que a empresa move contra a Apple pelo uso da marca iPhone.

Em andamento há mais de dez anos, hoje um recurso movido pela empresa está parado no Supremo Tribunal Federal (STF) aguardando julgamento.

Após sucessivas derrotas na Justiça, no último mês de julho, o procurador-geral da república, Augusto Aras, deu parecer contrário ao pedido da IGB, destacando que a Apple tem direitos de uso da marca iPhone no país, apesar de a Gradiente afirmar que a registrou em 2000, sete anos antes do lançamento do celular americano.

O processo de fechamento de capital não tem nada a ver com o processo envolvendo a Apple e o iPhone, afirma a fonte ligada à empresa.

Após uma audiência de conciliação não resultar em acordo, o caso aguarda julgamento, sem data definida. O fechamento de capital elimina essa fonte de especulação.

Após o fim do processo de fechamento de capital, o que deve acontecer nas próximas semanas caso não aconteça pedido de assembleia por até 10% dos acionistas minoritários, a IGB planeja sua saída do processo de recuperação judicial.

A companhia conseguiu recentemente um acordo com a Receita para renegociar dívidas.

Tentativa de licenciar a marca

Sem perspectiva de retomar a produção de eletrônicos, a empresa ainda nutre uma esperança de conseguir licenciar a marca Gradiente para uso por terceiros, mas não há nenhum plano em andamento no momento para implementar essa possibilidade.

A fonte diz que hoje a IGB só continua existindo por razões emocionais da família controladora.

Fundada por um grupo de estudantes de engenharia da Universidade de São Paulo (USP), em outubro de 1964, como fabricante de amplificadores de som via transistores, uma inovação à época, a empresa foi vendida para o empresário Émile Staub em 1970, que logo passou o controle para seu filho, Eugênio, que se mantém à frente da companhia.

A empresa foi uma das que melhor se beneficiou do milagre econômico da década de 1970, abrindo capital em 1974, se aproveitando das restrições de importações impostas pelos governos militares, ganhando escala ao produzir os mais variados produtos eletrônicos, notadamente aparelhos de som, em suas fábricas na Zona Franca de Manaus.

A situação começou a mudar na década de 1990, com a abertura da economia durante o governo Collor, quando a Gradiente se viu engolida pela entrada dos produtos eletrônicos vindos da Ásia.

A empresa tentou diversificar sua produção, apostando em videogames, com uma parceria com a Nintendo, mas nunca conseguiu se reerguer.

Após sucessivas tentativas infrutíferas de reestruturação, a Gradiente, já conhecida como IGB Eletrônica, uma manobra feita para evitar a falência da companhia e subsequente perda da marca, entrou com um processo de recuperação judicial em 2018 que se arrasta desde então.