Bolsa mantém giro baixo de negócios e investidor mira decisão de juros do Fed

No quadro macro, mais à frente, há alguns fatores que podem resultar em volatilidade na bolsa, uma vez encerrado o recesso do Congresso, no começo de agosto

Com o noticiário e a agenda de indicadores econômicos domésticos novamente esvaziados nesta quinta-feira (20), o mercado local tem poucas referências para operar. O giro dos negócios na bolsa de valores (B3) deve ficar no mesmo patamar de R$ 21 bilhões na sessão, volume que tem sido registrado desde a segunda-feira (17).

Para efeito de comparação, em junho, a B3 reportou um crescimento de 5,8% na base anual do volume financeiro médio diário do segmento ações, saindo de R$ 28,840 bilhões para R$ 30,509 bilhões, de acordo com dados divulgados pela operadora da bolsa. Ou seja, o giro de negócios está mesmo mais lento. Com isso, o Ibovespa acumula na semana perda de – 0,13%.

No mês, o principal índice da bolsa registra perdas – 0,45%. No ano, no entanto, o Ibovespa avança 7,12%. O investidor local aproveita o momento para recalibrar a carteira de investimentos, de olho nas decisões de juros dos bancos centrais dos Estados Unidos (dia 26 de julho) e Brasil (dia 2 de agosto).

Ibovespa acima de 120 mil pontos

Ainda falando sobre o principal índice da bolsa, embora o Ibovespa tenha perdido o patamar dos 118 mil pontos, a edição de julho da pesquisa LatAm Fund Manager Survey, do Bank of America (BofA), captou uma nova rodada de melhora na percepção de gestores latino-americanos sobre a bolsa brasileira.

A proporção dos que esperam que o Ibovespa encerre 2023 acima dos 120 mil pontos subiu a 76% nesta leitura, de 69% em junho. Para 72% dos gestores ouvidos pelo BofA, as projeções de lucro das empresas brasileiras este ano devem ficar estáveis ou serem revisadas para cima. Menos de 20% dos entrevistados pelo banco americano esperam uma revisão baixista. A ver.

A LatAm Fund Manager Survey ouviu em julho 36 gestores de fundos da América Latina com aproximadamente US$ 65,5 bilhões em gestão.

No quadro macro, mais à frente, há alguns fatores que podem resultar em volatilidade na bolsa, uma vez encerrado o recesso do Congresso, no começo de agosto.

“Os principais pontos de debate e incerteza no mercado, por aqui, devem vir com a segunda parte da reforma tributária, que deve tratar de tributação sobre dividendos, mudanças no IRPJ, além de novas revisões da tabela de IRPF e outros temas relacionados à tributação de renda”, observa Antonio Sanches, analista da Rico Investimentos.

Bolsas da Ásia

As bolsas asiáticas fecharam em baixa nesta quinta-feira (20), após a China deixar juros inalterados apesar da fraqueza de seus últimos dados econômicos.

O banco central chinês, conhecido como PBoC, deixou suas principais taxas de juros inalteradas, poucos dias depois de manter juros secundários igualmente intocados, embora a segunda maior economia do mundo siga desacelerando. No mês passado, o PBoC havia reduzido todas as suas taxas em 10 pontos-base.

Embora tenha mantido juros, a China vem buscando estimular sua economia por outros meios. Nos últimos dias, o governo chinês prometeu ampliar o apoio a empresas privadas e adotar medidas para incentivar o consumo.

O Nikkei caiu 1,23% em Tóquio, a 32.490,52 pontos, em um possível ajuste antes da publicação de novos dados da inflação ao consumidor (CPI) do Japão, enquanto o Hang Seng recuou 0,13% em Hong Kong, a 18.928,02 pontos, e o sul-coreano Kospi teve perda de 0,31% em Seul, a 2.600,23 pontos.

Semana que vem tem decisão de juros

Como vimos, esta semana o mercado observa certa acomodação, à espera da muito aguardada decisão do Federal Reserve (Fed, o banco central dos Estados Unidos) sobre juros, na próxima quarta-feira (26).

O mercado estima que o Fed irá elevar os juros em 25 pontos-base (pb) na próxima decisão monetária, levando a taxa de juros para a faixa entre 5,25% e 5,50%. “Os números desta semana sobre a atividade americana, com dados de varejo e emprego abaixo do esperado, mostram que o ‘efeito juros’ está entrando na economia dos EUA”, diz Fabrizio Velloni, economista-chefe da Frente Corretora.

Copom

O mercado está posicionado para uma dose mínima de redução da taxa básica no próximo Copom, considerando os núcleos de inflação ainda desconfortáveis e a comunicação recente do Banco Central, que fala em “parcimônia” ao tratar da conjuntura atual.

Por outro lado, o mercado considera nada desprezível a possibilidade de um afrouxamento de 0,5 ponto, dados os sinais também de desaceleração da atividade, como os emitidos pela queda de 2% do IBC-Br de maio.

“Avaliamos que seria prudente o Bacen iniciar o corte da taxa básica em 0,25 ponto para 13,5% em agosto, para a aceleração em 0,50 ponto na decisão de setembro. Os núcleos e a inflação de serviços ainda não corroboram convergência à trajetória de metas até 2024”, comenta Eduardo Velho, economista-chefe da JF Trust.

Desinflação na zona o euro

No exterior, há sinais mais firmes de desinflação na Europa. A queda da inflação na zona o euro, de 6,1% em maio para 5,5% em junho em base anualizada, e no Reino Unido, no mesmo período, de 8,7% para 7,9% – e abaixo das estimativas de 8,1% -, trouxe alívio para os mercados globais na quarta-feira (19).

Mercados ontem

O Ibovespa testou leve alta perto das 16h, mas, com giro financeiro ainda fraco, não encontrou fôlego para cortar a acomodação que tem prevalecido em julho, após o sprint do mês anterior. No fechamento de quarta-feira, o índice da B3 mostrava perda de 0,25%, aos 117.552,07 pontos, entre mínima de 116.659,55 e máxima de 118.011,46 pontos (+0,14%), saindo de abertura aos 117.841,92.

“Os resultados trimestrais da WEG deram impulso às ações da empresa, em sessão que contou também com outro destaque corporativo, os dados de produção e vendas da Vale, da noite anterior”, diz Lucas Serra, analista da Toro Investimentos. As ações da mineradora fecharam em leve baixa de 0,27%.

Segundo a estrategista-chefe do Inter, Gabriela Joubert, o relatório de produção e vendas da Vale, ontem, mostrou certa recuperação de resultados operacionais, e estabilidade na produção. Mas, quanto ao minério de ferro, principal produto da empresa, a analista aponta que a demanda na China continua fraca, o que mantém patamar desafiador para a comercialização da commodity.

Bolsas de Nova York

As bolsas de Nova York fecharam em alta na quarta, com o índice Dow Jones alcançando a oitava sessão consecutiva de ganhos pela primeira vez desde setembro de 2019. Os balanços corporativos trimestrais também estiveram no foco dos investidores, depois da divulgação de números do Goldman Sachs e à espera de resultados que saíram depois do fechamento dos negócios.

O índice Dow Jones fechou com avanço de 0,31%, a 35.061,21 pontos; o S&P 500 ganhou 0,24%, a 4.565,72 pontos; e o Nasdaq subiu 0,03% a 14.358,02 pontos.

Dólar

O dólar à vista recuou 0,48% em relação ao real nesta quarta, a R$ 4,7857, contrariando a valorização global da divisa americana. Operadores atribuem o movimento a um fluxo positivo, em meio ao fortalecimento de commodities agrícolas. Como resultado do movimento, a moeda americana zerou os ganhos em relação à brasileira na semana e no mês, e passa a cair 0,19% e 0,08%, respectivamente.