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É hora de fugir dos fundos de pensão com o aumento do juro real?
A mudança do cenário macroeconômico brasileiro em 2024 pode fazer com que investidores reavaliem suas carteiras. Não só investimentos mais arrojados, a exemplo da renda variável, como também produtos conservadores, caso dos fundos de pensão.
Isso porque a alta do juro real (que é a taxa básica menos a inflação) melhorou substancialmente a performance de títulos atrelados ao IPCA. E, como resultado, a atratividade desses ativos também cresceu aos olhos dos investidores.
Mas vale a pena largar a segurança de um fundo de pensão para investir em papéis ligados à inflação? Ou o cenário requer a busca de outras classes, como ativos dolarizados? Confira o que dizem especialistas.
O que são fundos de pensão e como funcionam?
Os fundos de pensão são uma modalidade de previdência privada fechada. Isto é, são planos para complementar a previdência social do Instituto Nacional do Seguro Social (INSS) oferecidos exclusivamente a empregados e associados de entidades fechadas de previdência complementar (EFPC).
As EFPCs, por sua vez, são organizações sem fins lucrativos de dois tipos, que oferecem produtos distintos:
- Entidades ligadas a empresas públicas e privadas oferecem planos patrocinados, em que complementam os aportes realizados pelos funcionários na previdência;
- Organizações como entidades de classe, cooperativas e associações disponibilizam opções instituídas, sem obrigação de patrocinar os aportes dos seus membros.
Além disso, os dois planos costumam ser ofertados em três modalidades:
- Benefício definido, em que o participante recebe valores previamente calculados e a contribuição pode variar;
- Contribuição definida, em que o participante investe valores previamente determinados e os benefícios podem variar;
- Misto, que combina as duas modalidades.
Pois bem, as EFPCs possuem equipes de gestão que trabalham para bater a meta atuarial de seus fundos, que é basicamente uma taxa mínima de retorno que as instituições têm de entregar aos participantes.
Como a alta dos juros e da inflação impactam o cenário?
A alta dos juros afeta, primeiramente, as opções de investimento dos fundos de pensão. Não por acaso, a alocação da classe em ações, por exemplo, baixou ao menor nível desde que os dados começaram a ser compilados em 2006.
Segundo a Associação Brasileira das Entidades Fechadas de Previdência Complementar (Aprapp), a renda variável correspondia a 10,4% da carteira dos fundos de pensão em junho de 2024, muito abaixo dos 20,4% de 2020. O total de ativos das EFPCs é de R$ 1,3 trilhão.
Ao mesmo tempo, há também um efeito negativo em termos de atratividade dos produtos. Em outras palavras, o investidor olha para um título do Tesouro como o Tesouro IPCA+2045, que paga a inflação (4,76% em outubro) mais uma taxa fixa de 6,62% (no dia 26 de novembro), e se questiona se deve ou não manter seus recursos em fundos de pensão.
É hora sair de fundos de pensão para buscar outras oportunidades?
Apesar disso, especialistas entendem que investidores devem analisar um escopo mais amplo antes de tomar esse tipo de decisões. Guilherme Almeida, especialista em educação financeira da Suno Research, defende que a comparação entre as classes de ativos nem sequer faz sentido.
Segundo ele, os fundos de pensão são produtos estruturados com foco no longo prazo, para aposentadoria. Muitos, inclusive, têm benefícios em termos de tributação, de planos de sucessão, de escolha sobre como a renda será recebida. Para além da figura do patrocinador em alguns casos.
“A alta dos juros facilita, inclusive, a busca dos fundos de pensão por boas alternativas de investimentos na renda fixa”, diz. “Em geral, é uma boa alternativa visando o longo prazo. Só é preciso lembrar que normalmente existem mecanismos que limitam a retirada de recursos antes do prazo estipulado.”
Nessa linha, Harion Camargo, consultor de investimentos, defende que sair totalmente desses fundos para investir diretamente em títulos públicos ou ativos dolarizados é arriscado, principalmente para aqueles que não possuem o conhecimento ou tempo necessário para gerir suas carteiras.
“Mas o momento atual exige cautela e, eventualmente, um ajuste nas estratégias de contribuição e diversificação, aproveitando as oportunidades que o cenário econômico apresenta sem comprometer os benefícios de longo prazo desses veículos”, afirma Camargo.
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