Em carta, Cosan (CSAN3) reforça aposta na Vale (VALE3) e lembra desafios com Esso e fusão ALL-Rumo (RAIL3)

'A Vale tem o melhor minério de ferro do mundo e reservas de metais básicos promissoras, o que a faz uma empresa-chave para a transição energética global e descarbonização', diz a carta

A Cosan, cujas ações sofreram um duro baque após o anúncio de compra de 4,9% da Vale com potencial de chegar a 6,5%, veio novamente a público para defender o investimento. Depois de uma rodada extensa de conversas, conferências e entrevistas e uma série de documentos publicados, a companhia divulgou há pouco uma carta aos acionistas, reiterando a crença de que pode contribuir com a gestão da mineradora, em um momento em que o mundo se volta à descarbonização.

O grupo, um dos maiores conglomerados empresariais do país, lembra que ele próprio já enfrentou momentos tão ou mais desafiadores quanto o atual, como a queda das ações após a compra da Esso em 2008 ou a conturbada fusão entre a ALL e Rumo. E também por isso tem a contribuir com a Vale.

Conforme a carta, o interesse da Cosan na mineradora é antigo. Até que, em 2018, se aprofundou nas análises e iniciou conversas com alguns de seus acionistas, mas as tratativas não prosperaram.

Naquele momento, a Vale, como sócia da Samarco, ainda trabalhava nas consequências da tragédia de Mariana (MG). Em janeiro do ano seguinte, a mineradora enfrentava novo desastre, com o rompimento da barragem de Brumadinho (MG).

“A Vale tem o melhor minério de ferro do mundo e reservas de metais básicos promissoras, o que a faz uma empresa-chave para a transição energética global e descarbonização. A Vale não pode ficar isolada em função do que ocorreu. Para ser uma força na transição energética futura, a Vale precisa de disciplina e consistência para gerar resultado com segurança e um impacto social e ambiental positivo”, diz.

O momento de entrada na mineradora, segue a Cosan, é adequado não só por causa do potencial de valorização de suas ações mas porque está executando uma nova estratégia, “reparando o passado e caminhando na direção correta, com princípios alinhados ao que acreditamos”.

“Sempre fomos atraídos por grandes oportunidades de transformação em negócios que são posicionados de forma única em seus setores, por mais desafiante que seja (…) Temos a oportunidade de participar diretamente da implementação de melhores práticas ESG (…) Não podíamos ficar de fora da Vale agora, um ativo irreplicável que se encaixa nos princípios norteadores do nosso portfólio, focado em recursos naturais fundamentais para a descarbonização, bem quando enxergamos o potencial futuro de geração de valor financeiro, social e ambiental”, afirma a Cosan, acrescentando que o apoio de seus acionistas é fundamental para o sucesso dessa estratégia.

No documento, o grupo lembra que, entre 2008 e 2009, um momento de crise global, a compra da Esso e a incorporação da Nova América geraram dúvidas no mercado. A criação da Raízen, em 2011, também não foi bem recebida por todos. E a aquisição da Comgás foi criticada por se tratar de setor regulado. “De 2012 a 2022, o valor do nosso portfólio cresceu mais de 5 vezes. Sem mencionar, a trajetória da expressiva melhoria nos índices de segurança (índice LTIF – Lost Time Incident Frequency apresentou uma queda de 97% em 11 anos) e a redução de emissões de carbono”, ressalta.

Sobre a fusão ALL-Rumo, tida como a mais complexa das aquisições, a Cosan defende que, desde 2015, o Ebitda da Rumo aumentou quase 3 vezes e a empresa está entre as melhores ferrovias do mundo em níveis de segurança, comparada a CSX e Canadian Pacific Railway.

“Nossa capacidade e disciplina de execução foram testadas nesses momentos de mudança e nossa performance vem demostrando uma consistente criação de valor para todos nossos stakeholders. Por que agora seria diferente?”, questiona.