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Eleição será decisiva a rumo de setores
Além da prevista mudança da política monetária nas economias desenvolvidas, com alta de juros já esperadas, em especial nos Estados Unidos, os diferentes setores do mercado acionário brasileiro enfrentarão um 2022 marcado pela disputa política. De acordo com analistas, o retorno da polarização ideológica, como ocorreu em 2018, vai trazer forte volatilidade e pode afastar o investidor, principalmente o estrangeiro, de tomar risco no Brasil, levando a um provável fortalecimento de posições na renda fixa.
Para quem não quiser perder eventuais oportunidades no meio desse esperado tumultuado trajeto, as “blue chips” (ações de grandes companhias, com atuação consolidada em seus setores de atuação e alta liquidez) devem ser o ativo mais seguro – ou menos inseguro -, notadamente as exportadoras, segundo analistas.
Em 2022, o cenário internacional vai dar uma parte do tom na atratividade dos ativos de risco no Brasil, especificamente no mercado acionário. A retomada de uma política monetária mais restritiva deve favorecer a fuga do capital estrangeiro dos países emergentes. Esse movimento vai ser particularmente impulsionado pelo cenário político nacional, além da atuação do Banco Central, dando continuidade ao ciclo de alta da Selic, a taxa básica de juros – favorecendo a renda fixa.
“O cenário político ainda está muito aberto em relação a candidaturas”, afirma Filipe Villegas, estrategista da Genial Investimentos. “A cada pesquisa em que um nome mais pró-mercado se destacar vai se traduzir em maior atratividade para os ativos brasileiros. E vice-versa.”
A recomendação do estrategista da Genial é “ter uma postura conservadora, com bons investimentos em renda fixa”. No entanto, se o investidor “não quiser ficar de fora da renda variável e perder boas oportunidades que possam acontecer mesmo diante desse cenário de muita incerteza, as melhores alocações são em grandes empresas, as blue chips, dentro de setores consolidados, que consigam de alguma forma se descolar da economia brasileira, ou seja, as exportadoras, dolarizadas, que poderão apresentar menor volatilidade”.
Apesar de ter um cenário bastante diverso por conta do aumento da concorrência, os bancos também são um setor que pode ser atrativo, segundo Villegas, mas há alguns fatores que podem influenciar negativamente o setor. “Os bancos são a porta de entrada do investidor estrangeiro, mas também a de saída”, ressalta. “O cenário eleitoral pode pesar muito nesse movimento. Além disso, o cenário para crédito também deve ficar um pouco mais difícil, dado o aumento do nível de endividamento das famílias.”
“Nosso foco de compra está nas empresas expostas a consumo não discricionário, isto é, consumo básico, que deve ocorrer mesmo com menor renda disponível e juros mais altos”, afirma Tomás Awad, sócio-fundador da gestora 3R Investimentos, reforçando que as posições vão depender muito de “como se desenhar o resultado das eleições”. No sentido oposto, ele aponta a venda de ações de setores “muito sensíveis a crédito e/ou juros, ou setores onde a competição está muito alta”.
“Uma possível vitória de um candidato de terceira via seria muito provavelmente um catalisador positivo, por representar uma verdadeira mudança, com maior racionalidade, visão econômica mais realista e ímpeto para realizar um mínimo de reformas que são mais que necessárias”, afirma.
Assim como Villegas, Awad também recomenda posição defensiva dos investidores, “focando na preservação de capital, preparados para o pior, e em oportunidades de valor relativo, mas estarem preparados para mudar para um viés mais otimista, se as condições se mostrarem favoráveis”.
Também para Phil Soares, chefe de análise de ações na Órama, “2022 vai ser um ano com uma perspectiva de atividade reduzida, tanto por causa dos juros recentemente majorados, quanto por causa de eventos como eleições e Copa do Mundo”. Para ele, a alta volatilidade que o cenário político deve trazer vai afetar mais fortemente as empresas estatais, como Petrobras e Eletrobras, esta com o processo de privatização ainda em suspense.
Soares também reforça que as empresas de commodities “deverão se beneficiar do dólar alto e de preços altos dos seus produtos”. Ele aposta ainda em empresas de varejo e consumo, principalmente as que tiverem menos receita em reais. Setores de serviços essenciais, como gás, energia elétrica e saneamento básico, além do setor bancário, devem ter menos volatilidade, na avaliação do analista da Órama.
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