Recessão volta a assombrar e bolsas desabam pelo mundo

O dia de aversão a risco no exterior tende a se materializar em um pregão negativo para os ativos brasileiros nesta sexta-feira

Na semana passada, o índice já havia fechado com a maior sequência positiva desde agosto - Foto: Getty Images
Na semana passada, o índice já havia fechado com a maior sequência positiva desde agosto - Foto: Getty Images

Os riscos de recessão voltaram a assombrar os mercados financeiros globais. Na medida em que os principais bancos centrais do mundo se movem em sincronia no combate às pressões inflacionárias, os temores de uma atividade econômica mais fraca bateram novamente à porta e derrubaram as bolsas ao redor do globo.

Assim, o otimismo nos ativos de risco de quarta-feira, após a decisão do Federal Reserve (Fed), se desfez e deu lugar a um aperto mais intenso das condições financeiras.

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“A última investida ‘hawkish’ [favorável a aperto monetário] do Fed e do Banco Central Europeu, juntamente com as surpresas altistas contínuas na inflação, estão pressionando os bancos centrais a agir de forma mais decisiva”, afirmam os economistas Nora Szentivanyi, Olya Borichevska e Michael Hanson, do J.P. Morgan. Eles notam, inclusive, que as projeções do banco para os juros em diversos países têm aumentado nos últimos dias.

“Embora o escopo para aumentos de taxas de juros mais agressivos tenha aumentado, o aperto associado nas condições financeiras está elevando os obstáculos ao crescimento”, dizem os profissionais. Eles notam que o J.P. reduziu a projeção de crescimento nos EUA para 2,5%, em base anualizada, no segundo trimestre e apontam que a desaceleração no segundo semestre deve ser ainda mais forte, com “sérias ramificações para o crescimento econômico global”.

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Não por acaso, mais instituições financeiras têm apontado para chances maiores de uma recessão no próximo ano. “Estamos mudando nosso cenário base para o próximo ano de um pouso suave na economia para uma leve recessão a partir de meados de 2023”, diz o economista-chefe do Wells Fargo, Jay Bryson, em relação aos EUA.

“Dados recentes sugerem que a inflação está se tornando cada vez mais arraigada na economia. A inflação alta está corroendo a renda real, o que provavelmente pesará sobre o crescimento dos gastos dos consumidores nos próximos trimestres.

Além disso, o Fed está se tornando cada vez mais ‘hawkish’ ”, nota Bryson. Ele observa que, desde março, os juros americanos já foram elevados em 1,5 ponto percentual e que o Fed deve elevar as taxas em mais 2,75 pontos até o início de 2023.

Na visão do Wells Fargo, as taxas de juros mais elevadas devem deprimir o consumo mais sensível aos aumentos nos juros. Além disso, Bryson também aponta que as condições financeiras, em geral, sofreram um aperto significativo nos últimos dias. “Os spreads de crédito aumentaram, a maioria dos principais índices de ações entrou em ‘bear market’ [território baixista] e o dólar se fortaleceu consideravelmente”, afirma o economista.

Assim, embora enfatize que muitos fundamentos subjacentes permanecem sólidos, o economista do Wells Fargo acredita que haverá uma recessão nos EUA, que será equivalente em magnitude e em duração à vivenciada nos anos de 1990 e 1991.

“Essa recessão durou dois trimestres, com um declínio de 1,4% no PIB do pico ao vale. A recessão no próximo ano não está necessariamente garantida e o Fed ainda pode conseguir um pouso suave, mas as perspectivas parecem cada vez menos críveis, e agora julgamos que uma recessão no próximo ano é mais provável”, diz.

Diante da queda firme das ações no pregão de ontem e do temor de recessão, o rendimento da T-note de dois anos caiu 0,116 ponto percentual, para 3,106%, enquanto o retorno do título dos EUA de dez recuou 0,88 ponto, para 3,201%. Além da maior demanda por Treasuries, investidores também foram à procura do ouro, cujos preços têm sido bastante afetados pelo aumento dos juros. Ontem, o contrato futuro de ouro para agosto fechou em alta de 1,66%, cotado a US$ 1.849,90 por onça-troy, na Comex, divisão de metais da Nymex.

O dia de aversão a risco no exterior tende a se materializar em um pregão negativo para os ativos brasileiros nesta sexta. Ontem, quando o mercado doméstico estava fechado devido ao feriado de Corpus Christi, o principal fundo de índice (ETF) de ações brasileiras negociado em Nova York, o EWZ, sofreu queda de 4,43%, e terminou o dia negociado a US$ 28,27. Além disso, o pregão de ontem foi bastante negativo para moedas de mercados emergentes, o que pode indicar uma abertura negativa também para o real e os juros futuros.

Com um cenário bastante incerto quanto aos rumos da atividade econômica e da inflação, o diretor de investimentos (CIO) da Deutsche Asset Management (DWS), Stefan Kreuzkamp, também não enxerga um ponto de virada para os mercados neste momento. “Somos céticos em relação a qualquer tentativa de identificar um ponto de virada. Até que haja mais clareza sobre a dinâmica da inflação, a política dos bancos centrais, bem como o desenvolvimento dos lucros econômicos e corporativos, os mercados provavelmente permanecerão nervosos e voláteis”, afirma.

Para Kreuzkamp, há bastante clareza, no momento, quanto a expectativas de inflação e a movimentos dos bancos centrais, mas há muitas dúvidas em relação a um cenário de enfraquecimento expressivo da atividade econômica. “Até agora, apesar de todas as adversidades, a economia, especialmente nos EUA, tem se mostrado robusta. Embora os riscos de recessão tenham aumentado claramente, vemos uma chance maior de que uma recessão possa ser evitada tanto na Europa quanto nos EUA”, afirma, em nota enviada a clientes.

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