Risco de recessão nos EUA divide os principais bancos americanos

Nos EUA, índice de desemprego está em 3,6%, próximo do menor patamar da história. Mas inflação de 8,6% em maio, maior nível em 40 anos, preocupa

A situação da economia dos EUA é uma miscelânea de dados bons e de sinais alarmantes e nem entre os bancos há um consenso sobre o risco de uma recessão.

O índice de desemprego está em 3,6%, próximo do menor patamar da história. Os dados sobre o consumo e a produção industrial têm se mostrado robustos durante todo o ano. As vendas de casas usadas se desaceleraram em abril, mas os preços ainda estão em alta.

A inflação chegou a 8,6% em maio, maior patamar em 40 anos, e os preços dos alimentos e de energia estão em alta. Interrupções nas cadeias de suprimentos pelo mundo e a guerra na Ucrânia complicam ainda mais o cenário. Os mercados de ações e bônus indicam problemas à frente. Nesta semana, o índice S&P 500 entrou tecnicamente em tendência de queda, com uma queda de 20% em relação a seu pico mais recente, e o nervosismo dos investidores impulsionou os juros dos títulos de dez anos do Tesouro dos EUA para o maior patamar em dez anos.

Na quarta-feira o Federal Reserve (Fed, banco central dos EUA) elevou os juros referenciais para tentar conter a inflação, só que o objetivo de taxas mais altas é esfriar a economia como um todo — e ninguém sabe ao certo com que rapidez elas terão efeito e exatamente qual será esse impacto.

“Acho que este cenário está entre os mais complexos e dinâmicos que já vi em minha carreira — se não for o mais”, disse o presidente do Goldman Sachs Group, John Waldron, neste mês.

O cenário levou o CEO do JPMorgan Chase & Co, Jamie Dimon, a fazer também neste mês um alerta sobre um tumulto econômico por vir, embora sem ser específico sobre qual seria. “Esse furacão está logo ali à frente na estrada, vindo em nossa direção”, disse Dimon. “Só não sabemos se é um dos pequenos ou se é uma supertempestade Sandy. É preciso se preparar.”

Outros executivos reverberaram o receio de Dimon. “Será difícil evitar algum tipo de recessão”, disse o CEO do Wells Fargo & Co, Charlie Scharf, em maio, no Future of Everything Festival, organizado pelo “The Wall Street Journal”.

Em maio, a CEO do Citigroup, Jane Fraser, disse que os EUA poderiam escapar de uma recessão, mas que a Europa não. Na segunda-feira, o CEO do Morgan Stanley, James Morgan, disse que, com base em sua experiência, o risco de uma recessão nos EUA é de 50%, mas que está “bastante tranquilo” quando ao possível impacto.

O CEO do Goldman Sachs, David Solomon, disse em entrevista em maio à rede CNBC que as chances de uma recessão ou de um crescimento econômico baixo são “razoáveis”, o que exige mais cautela dos executivos. “Se você comanda uma grande empresa, precisa olhar através de uma lente um pouco mais cautelosa neste momento do que há um ano”, disse.

As empresas tentam se adaptar. Na semana passadas, a Target emitiu um alerta sobre os lucros, depois de uma queda na demanda por produtos como móveis para áreas ao ar livre e alguns artigos eletrônicos ter deixado a rede varejista com um volume de estoque indesejado. A Microsoft alertou recentemente que o lucro ficará abaixo do previsto em razão da alta do dólar e das consequentes taxas de câmbio desfavoráveis, algo que afeta todas as empresas americanas que operam no exterior.

Grandes empresas de gestão de riqueza dizem que, por enquanto, os consumidores estão honrando seus compromissos. O CEO da American Express, Stephen Squeri, disse neste mês que as dívidas dadas como perdidas e a inadimplência entre seus clientes devem permanecer abaixo dos níveis pré-pandemia até o fim do ano.

O CEO do Bank of America, Brian Moynihan, disse neste mês que os gastos estão crescendo mais rápido do que a inflação em todas as categorias, menos no caso da gasolina. Ele acrescentou que seus clientes ainda não estão falando sobre uma possível recessão.

Dimon, do JPMorgan, por sua vez, estimou que os consumidores têm o equivalente a seis a nove meses de poder de compra em suas contas bancárias.