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Protecionismo e inflação: como as promessas de Trump podem elevar os preços inclusive aqui
A nova onda de protecionismo, desencadeada por Donald Trump e suas promessas de campanha, devem impactar os preços nas economias pelo mundo. Isso depois de parte dessas mesmas economias terem se reerguido de uma longa e degradante crise de inflação por conta da pandemia.
Para a maior parte dos economistas consultados pela Inteligência Financeira, a onda protecionista ganha impulso com Trump, mas as medidas nesse sentido avançam faz algum tempo. Mais especificamente desde 2018.
Nos últimos anos, as políticas de nearshoring, já haviam dado as primeiras indicações de um mundo que caminhava economicamente para uma espécie de fechamento.
“A onda protecionista vem crescendo desde o primeiro mandato de Trump, sendo que em 2018 foram anunciadas grandes medidas aduaneiras que não eram vistas no comércio global há muito tempo. E elas levaram até a renegociação do Nafta”, diz José Maria Correia, economista da Avenue.
Impacto das promessas de Trump sobre a inflação
O principal efeito prático do fechamento do mercado americano deve ser a alta dos preços, dizem os economistas. “Dado que maiores tarifas implicam maiores custos, passados ao consumidor”, detalha Correia.
Além disso, é esperado também menor crescimento econômico. Para o economista da Avenue, as medidas protecionistas aumentariam custos de maneira permanente, especialmente para os Estados Unidos.
“Assim, a inflação americana demoraria mais para chegar a 2% (meta daquele país) e talvez aumente estruturalmente a inflação para 2,5% e 3% no médio e longo prazos”, acrescenta Correia.
E o Brasil e sua inflação, como ficam?
“Se, de fato aumentar o movimento protecionista, não ajuda, seria mais um fator inflacionário com o qual será preciso conviver”, diz Felipe Salles, economista-chefe do C6.
Já para o economista Roberto Luis Troster, a alta dos preços atuais do Brasil não está relacionada a questões externas. Ao menos, por enquanto.
Ele vê, inclusive, possibilidade de uma pressão inflacionária menor para o país daqui em diante.
“Há muitos fatores para deflacionar a economia no Brasil. Essa última alta, o IPCA-15 foi muito mais por motivos pontuais, com aviação e alimentos. O dólar deve cair e com ele, os preços dolarizados da economia brasileira. Além disso, o esperado esfriamento da atividade econômica deve reduzir a pressão sobre os preços”, avalia Troster.
Retaliação da China e ressonância na inflação brasileira
Andréa Angelo, estrategista de inflação da Warren Investimentos, vê a inflação de alguns itens ganhando força.
“Se realmente é verdade que Trump vai taxar a China, vai haver retaliação e o exemplo pode ser o setor de carne”, avalia Andréa. A economista diz que os preços praticados no Brasil podem subir por conta do aumento da demanda pelos produtos brasileiros.
O Brasil já tem aumentado sua exportação de proteína animal para a China. “Caso realmente as tarifas do Trump afetem os produtos chineses, pode haver retaliação e a China não comprar mais carnes dos EUA”, explica a estrategista.
Isso implicaria aumento do preço da carne no Brasil.
Por outro lado, como o Brasil consome produtos industrializados americanos, a inflação também poderia pegar o consumidor na outra ponta, de produtos importados.
“O Brasil compra muita coisa manufaturada dos EUA. E se eles comprarem matéria-prima mais cara, isso vai deixar o produto mais caro na ponta também”, alerta Andréa.
Contraponto sobre protecionismo e inflação
Por outro lado, Matheus Pizzani, economista da CM Capital, diz que é “prematuro falar de uma onda de protecionismo”.
Além disso, globalmente é pouco provável que medidas unilaterais tenham efeito inflacionário.
“Tomando os Estados Unidos como exemplo, a imposição de tarifas e recusa em negociar com países como a China tende apenas a afetar a própria economia do país, que sofrerá um choque de oferta no curto prazo que pode ou não resultar em inflação mais elevada”, diz Pizzani.
“Em termos globais, seguimos operando em um regime de mercado, de maneira que a oferta que não for absorvida por um determinado país será destinada a outros, com possibilidade até mesmo disto ser feito a preços mais brandos”, acrescenta o economista.
Parceiros dos EUA também devem sofrer sanções
A China é o principal alvo da promessa de aumento das tarifas de Trump, podendo chegar a 100% de tarifação. O gigante asiático é o terceiro maior parceiro comercial dos Estados Unidos.
À frente da China em importações para os Estados Unidos estão Canadá e México, que também devem sofrer sanções.
Agora, com o anúncio feito recentemente, de que a elevação de tarifas atingiria também os vizinhos dos EUA, Trump descumprirá o novo acordo do Nafta, assinado em 2020.
Desde então, as medidas de proteção promovidas por Trump foram mantidas pelo democrata Joe Biden. Isso está relacionado ao fechamento estrutural da maior economia do mundo para conter o desenvolvimento de outros grupos econômicos. E um avanço para um mundo de diferentes núcleos de poderes econômicos. Mas principalmente visando conter a ascensão chinesa.
Blefe de Donald Trump?
Economista-chefe do C6, Felipe Salles diz que as promessas de Trump podem não se consolidar.
Nesse sentido, as falas do presidente eleito teriam principalmente a intenção de colocar México e Canadá novamente na mesa de negociações.
“Tem muitos analistas que acreditam que essas promessas são mais estratégia de negociação na qual os EUA buscariam acordos e concessões de outros países sem que elas fossem de fato implementadas”.
Fechamento global vai além de Trump
Correia lembra ainda que houve a expansão da globalização nos anos 1990 até meados dos anos 2000. Contudo, isso vem mudando gradativamente. “Entre 1990 e 2008, o percentual de trade global de produtos e serviços em relação ao PIB global foi de 39% para 62%. Desde então, caiu para a casa de 55%. E pode cair mais”, destaca o economista da Avenue.
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