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Defasagem de preços aumenta pressão para que Petrobras reajuste combustíveis
Empresas citadas na reportagem:
Os preços dos combustíveis praticados pela Petrobras no Brasil começam 2025 com defasagem percentual expressiva na comparação com o mercado internacional. A diferença é puxada pela alta do dólar nos últimos meses do ano passado. E essa realidade aumenta ainda mais as pressões por reajustes na venda de gasolina e diesel nas refinarias da estatal depois de um 2024 com preços praticamente estáveis.
A consultoria StoneX estima que o diesel operava, na sexta-feira (3), com defasagem de 8,9%, enquanto a gasolina era vendida nas refinarias da Petrobras 12,3% abaixo dos preços internacionais. Nas contas da Associação Brasileira dos Importadores de Combustíveis (Abicom), a defasagem seria ainda maior: de 19% no diesel e de 13% na gasolina. E para a XP, os percentuais são de 14,9% e 12,5%, respectivamente.
Como o Valor mostrou na semana passada, a Petrobras só reajustou uma vez o preço da gasolina nas refinarias no ano passado. Foi em julho, quando subiu o combustível em 7,04%. O óleo diesel, por sua vez, não teve mudanças: a última alteração foi um corte de 7,85% em dezembro de 2023.
Naquele ano, a estatal abandonou o preço de paridade de importação (PPI) e adotou uma fórmula que passou a considerar parâmetros nacionais para o cálculo, além da cotação do barril de petróleo do tipo Brent e do dólar, “abrasileirando” os preços da petroleira.
De acordo com uma fonte que acompanha o setor, as cotações internacionais ajudaram a Petrobras a evitar mudanças de preços ao longo de 2024, uma vez que, ainda que tenha sofrido com a pressão da alta do dólar, a cotação do petróleo teve pouca oscilação.
Em 2024, o Brent fechou a US$ 74,24 por barril, com queda de 3,74% sobre 2023. No começo de 2025, o petróleo opera cotado na faixa dos US$ 75 por barril. O dólar, por sua vez, continua forte e operou, na sexta-feira (3), na faixa de R$ 6,18.
Os cálculos da StoneX indicam que a defasagem de 8,9% corresponderia a R$ 0,30 por litro, enquanto na gasolina, a diferença de 12,3% ante o mercado externo equivaleria a R$ 0,36 por litro.
Caso seja considerada como referência apenas o Golfo do México como origem da importação de diesel, a defasagem no produto vendido pela Petrobras no mercado doméstico seria de 15,9%, ou R$ 0,55 por litro do combustível. O cálculo exclui as importações de diesel russo que tem entrado no país a preços subsidiados.
No caso da Abicom, a defasagem de 19% para o diesel vendido nas refinarias da Petrobras equivaleria a R$ 0,67 por litro abaixo do mercado internacional. Na gasolina, essa diferença seria de 13% ou R$ 0,37 por litro. Segundo a entidade, o câmbio pressiona os preços domésticos.
Thiago Vetter, analista da StoneX, diz que, além do câmbio, a subida da cotação do petróleo Brent a partir de dezembro também influi no cenário.
Segundo ele, as atuais cotações do dólar indicam um novo patamar de preços do petróleo, o que suscitaria eventual reajuste pela Petrobras. Vetter avalia, porém, que a estatal já esteve diante de defasagens maiores sem alterar os preços nas refinarias, o que pode indicar que a companhia siga segurando reajustes a curto prazo.
“A empresa [Petrobras] pode buscar a estabilidade e só subir [os preços] quando houver uma defasagem maior”, diz.
Victor Arduin, gerente em gestão de riscos para energia e câmbio da Hedgepoint Global Markets, também aponta o câmbio como um dos responsáveis pelo aumento da defasagem e avalia que o cenário futuro não indica arrefecimento da moeda americana diante do quadro fiscal no mercado interno e das incertezas sobre os efeitos de eventuais políticas protecionistas do novo governo de Donald Trump, que toma posse dia 20.
Arduin vê também preços mais fracos das commodities globalmente, inclusive do petróleo, o que levaria à menor entrada de dólares no país. Arduin também aponta fatores sazonais, como o inverno no Hemisfério Norte, que pressiona os preços externos dos derivados.
Adriano Pires, sócio-fundador e diretor do Centro Brasileiro de Infraestrutura (CBIE), avalia que o governo e a companhia tiveram “sorte” em 2024 diante do comportamento mais estável do câmbio e do Brent.
Mas com a valorização do dólar, sobretudo em dezembro, a Petrobras deveria fazer reajustes, destaca: “Não é que a empresa esteja, hoje, perdendo dinheiro, mas poderia ter um lucro maior”, disse Pires. Para ele, além dos acionistas e da própria empresa, quem perde com a prática atual de preços da estatal são os importadores, que não conseguem competir com a estatal.
A Federação Única dos Petroleiros (FUP) observou que os preços nas refinarias fecharam 2024 com queda de mais de 20% em comparação com o último dia de 2022, quando ainda era vigente o PPI.
A Petrobras reafirmou, em nota, que, desde maio de 2023, adota estratégia comercial que considera as melhores condições de produção e logística na precificação de diesel e gasolina na venda para as distribuidoras. Segundo a empresa, a estratégia contribuiu para o alcance de resultados operacionais e financeiros no terceiro trimestre, como a geração operacional de caixa de R$ 62,7 bilhões, fluxo de caixa livre de R$ 38 bilhões e lucro líquido de R$ 32,9 bilhões, entre outros indicadores.
“Essa estratégia permite à empresa mitigar a volatilidade do mercado internacional e da taxa de câmbio, proporcionando períodos de estabilidade de preços para os seus clientes, assim como contribui para uma melhor competitividade dos seus produtos frente às principais alternativas de suprimento, considerando a participação no mercado que permita a otimização dos seus ativos e a rentabilidade de maneira sustentável”, disse a Petrobras.
Com informações do Valor Econômico
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