Os principais desafios do presidente Lula na área fiscal

Para pagar os benefícios sociais em 2023, está em estudo uma PEC, mas sustentabilidade financeira do governo demanda reformas profundas

Faz uma semana que Luiz Inácio Lula da Silva (PT-SP) ganhou, nas urnas, o terceiro mandato de presidente da República. Os primeiros dias da equipe de transição, que, chefiada pelo vice Geraldo Alckmin (PSB-SP), prepara o início de seu novo governo, foram dominados por uma pergunta: de onde tirar dinheiro para bancar as promessas de campanha, como o aumento do salário mínimo acima da inflação e a manutenção do Auxílio Brasil (que volta a ter o nome de Bolsa Família) de R$ 600? (Além dos gastos feitos pelo atual presidente, Jair Bolsonaro (PL-RJ), para tentar agradar a população e conseguir mais votos.)

No curtíssimo prazo, a solução aventada é uma PEC (Proposta de Emenda à Constituição) que acomode essas despesas. Segundo Alckmin, a ideia será discutida com Lula nesta segunda-feira (7). Na terça (8), a conversa é com o senador Marcelo Castro (MDB-PI), relator do Orçamento de 2023.

Mas é preciso pensar em respostas de longo prazo para a sustentabilidade fiscal do país, que é o maior desafio do novo governo.

O vice-presidente eleito, Geraldo Alckmin, durante entrevista coletiva após reunião com o relator-geral do Orçamento 2023, senador Marcelo Castro, e equipe de transição. Foto é de Marcelo Camargo da Agência Brasil.
O vice-presidente eleito, Geraldo Alckmin, durante entrevista coletiva após uma primeira reunião com o relator-geral do Orçamento 2023, senador Marcelo Castro, e a equipe de transição. Foto é de Marcelo Camargo da Agência Brasil.

Reformas necessárias

Para Gustavo Amaral, coordenador do núcleo de estudos fiscais da FGV (Fundação Getulio Vargas), duas reformas podem ajudar a equilibrar as contas públicas: a administrativa e a tributária.

No caso da tributária, Amaral defende uma revisão dos impostos em alguns setores cuja arrecadação é “assimétrica” em relação a outros, como o mercado financeiro. Além disso, o especialista cita que é necessária uma revisão da tabela do imposto de renda da pessoa física e da tributação do lucro presumido, no caso das empresas. “A reforma deve promover uma arrecadação eficiente, não o aumento de carga tributária ou da alíquota dos impostos. Chamamos isso de aumento de eficiência da arrecadação, quando a União tem impostos mais difíceis de burlar, com menos privilégios”, explica o pesquisador da FGV.

A reforma administrativa é mais sensível porque envolveria, conforme Amaral, diminuir privilégios do funcionalismo público. Ele lembra que, hoje, a União tem seu segundo maior gasto previsto no Orçamento com a folha de pagamento de funcionários públicos. A aprovação da medida pode esbarrar no Congresso recém-eleito. “O grande gargalo é tocar na questão do gasto público com funcionalismo. Isso é difícil de mexer com o Congresso”, acrescenta o pesquisador.

Com edição de Denyse Godoy

Este texto é parte de uma série de conteúdos da Inteligência Financeira sobre os principais desafios (e oportunidades) do governo Lula na economia. Nos próximos dias, acompanhe reportagens sobre a indústria, o varejo, o mercado de trabalho, o mercado financeiro, a infraestrutura, a agropecuária e o meio ambiente. Inscreva-se em abaixo para recebê-los por e-mail.