O cenário ‘pesadelo’ de Rogério Xavier para o Brasil em 2024

Apesar de otimista para o PIB e a inflação brasileira, ele afirma que o risco de "quebradeira" do setor imobiliário chinês pode escorrer.

Sinais mistos do outro lado do Pacífico, como a ordem de liquidação da gigante do setor imobiliário Evergrande, mostram que a China está perto de uma crise. No ano do dragão no calendário chinês, o país deve atravessar uma dificuldade “sem precedentes”, de acordo com Rogério Xavier, CEO da SPX Capital, que tem mais de R$ 60 bilhões sob custódia. O CEO da SPX participou nesta terça-feira (30) de uma conversa com investidores no Market Insights do AndBank.

Xavier acredita que este é o cenário de “pesadelo” que o deixa incerto sobre os rumos da economia brasileira em 2024. Apesar de estar otimista para o PIB e a inflação brasileira em 2024, ele afirma que o risco de “quebradeira” do setor imobiliário chinês pode escorrer para o resto da economia da China. E nesse caso, as commodities brasileiras podem passar por um novo ciclo de baixa.

A SPX, afirma Xavier, “está vendida” em commodities.

Rogério Xavier: ‘modelo chinês está fadado ao fracasso’

Rogério Xavier diz que o principal risco para investidores brasileiros está concentrado no gigante asiático. O país, afirma um dos maiores gestores da Faria Lima, está com crescimento nominal de 4%, abaixo da média histórica, e com população encolhendo.

“Para mim o modelo de crescimento chinês está fadado ao fracasso”, disse o CEO da SPX Capital à investidores. “Hoje, a China está produzindo e, portanto, exportando deflação”, completa. Na visão do gestor, a política do governo chinês de aquecer a oferta do mercado via investimentos em empresas privadas “é errada” porque o problema da China atualmente está na demanda.

O país não possui um modelo de previdência e tem uma população focada na poupança. “Com o recuo de 0,15% da população, os mais jovens veem que vão precisar pagar a conta, sustentar as famílias. Assim, eles poupam mais do que gastam”, explica Xavier.

Vento contra da China pode afetar PIB no Brasil, diz Xavier

Um cenário ruim para a economia chinesa é negativo para economias muito ligadas às commodities, como o minério de ferro e o petróleo. É o caso do Brasil.

“A China, como qualquer país, é como um banco. Ela vai quebrando aos poucos”

Rogério Xavier, CEO da SPX Capital

Mas não são todas as commodities que podem sofrer com a desaceleração da China. Alguns setores, como o agronegócio brasileiro, podem apresentar uma resiliência maior. “Não vejo a demanda da China por grãos, como soja e milho, caindo tanto”, afirma o CEO da SPX Capital. O mesmo serve para carnes.

Colheita de soja. Foto: Alex Silva/Estadão Conteúdo

O maior efeito seria sobre o PIB do Brasil. Rogério Xavier está mais otimista para o crescimento do país neste ano, por volta de 1,5% a 2%, impulsionado pelo corte de juros previsto pelo mercado e pelo viés de baixa do IPCA. A inflação anualizada deve cair para 2,80% até dezembro de 2024 nas projeções da SPX.

As projeções ‘vão por água abaixo’ se a China tiver uma crise, pontua Xavier. “Na realidade o Brasil é uma grande fazenda e o que sustenta o PIB é o setor extrativo. A atividade do setor industrial, não ligado às commodities, está fraca. Se ela pegar um vento contra, e a parte que está boa ficar ruim, vamos ter um problema.”

Como a SPX e Rogério Xavier se defendem do risco

Ainda de acordo com Xavier, a tendência para o dólar é de baixa frente ao real. Mas contra economias mais desenvolvidas, a moeda norte-americana deve ganhar terreno, especialmente contra o euro e o iene.

Isso porque o gestor prevê um corte de juros “maior e agressivo” do Banco Central da Europa (BCE) do que do Federal Reserve, autoridade dos Estados Unidos.

Assim, a SPX está apostando na alta de ativos globais no Ocidente como parte da estratégia de “se defender” do risco Brasil-China. “No mundo, estamos observando uma economia global estagnada, com desinflação no Reino Unido e na Europa, com um modelo alemão fracassando”, disse Rogério Xavier.

A exceção é a economia americana, apontou. “Nos EUA, vemos uma inflação convergindo para a meta do Fed (de 3%). Mas no mercado de trabalho, governo, saúde e educação são setores que devem aquecer a economia”, prossegue. Por lá, o índice de preços de consumo subiu na última sexta-feira (26) em linha com expectativas do mercado.