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‘O mercado já está precificando juros acima de 5% nos EUA, o que era impensável um ano atrás’, diz diretor do BC
O diretor de política monetária do Banco Central (BC), Bruno Serra, afirmou nesta sexta-feira que “o mercado já está precificando juros acima de 5% nos Estados Unidos, o que era algo impensável um ano atrás”.
Serra falou nesta manhã em evento promovido pelo Bradesco Asset Management. Segundo o diretor, o aperto leva à desaceleração da atividade econômica, mas em ambiente de mercado de trabalho “muito apertado”.
Sobre economia global, ele destacou que os impulsos fiscais promovidos na pandemia de covid-19 tiveram consequências inflacionárias e que precisaram ser combatidas com política monetária contracionista.
“A primeira consequência disso foi que a política monetária precisou reagir. O Brasil reagiu com antecedência ao resto do mundo, mas todo mundo foi na mesma direção. O Brasil chegou num ponto que pareceu suficiente esse ajuste de juros antes dos pares, mas é algo que se aproxima na maioria dos países”, disse.
Desemprego estrutural
Segundo Serra, há discussões sobre quanto a reforma trabalhista baixou o desemprego estrutural, nível que o mercado de trabalho pode chegar sem gerar inflação. Segundo ele, “há pistas de que está abaixo” do observado antes da pandemia de covid-19.
“Para o consenso de mercado estamos abaixo do desemprego estrutural. Vejo sinais de que essa taxa estrutural é mais baixa [pela reforma], portanto tende a não ser inflacionária nesse nível. A gente acha que tem espaço ainda [no mercado de trabalho]”, ressaltou.
Serra ponderou, contudo, que as séries históricas de mercado de trabalho no país não são tão longas, o que dificulta a análise. O diretor ressaltou que a taxa de desemprego está em nível mais baixo. “É algo que temos atenção”, disse.
Ele afirmou também que não há ganho real nas negociações salariais ainda. “O ganho subiu porque a inflação estava alta. Ainda não tem sinais claros de que o desemprego esteja abaixo da Nairu [taxa neutra de desemprego]”, afirmou.
O diretor disse, ainda, que o BC evita falar sobre política fiscal, “mais ainda em momento de transição de governo”, mas comentou que globalmente viveu-se um período de juros baixos em países desenvolvidos e que “toda crise foi desculpa para expandir gasto”.
“Não tinha muito custo porque o juro era baixo. O que a gente viu na Inglaterra foi um fenômeno diferente, não falamos mais de juro zero. Os mercados não aceitam mais tão bem essa expansão de gastos. Estamos em ambiente externo muito diferente”, pontuou. “No Brasil é diferente, nunca vivemos esse período de juro zero. Fiscal aqui sempre foi um problema a ser resolvido.”
Sobre inflação global, ele disse que “dá para arriscar dizer que o pico da inflação de bens ficou para trás”. “Toda inflação importa para nós, de alguma forma se transmite, mas a inflação de bens é mais facilmente exportável que serviços, então é um bom sinal para nós”, destacou.
Serra falou ainda sobre o que os bancos centrais chamam de “last mile”, ou última milha, que é o final do processo de desinflação. Ele explicou que a primeira parte, que é ligada a bens, cai mais rápido que a última, que é ligada a serviços.
“Mercados estão muito mais ariscos principalmente do lado fiscal, trazer inflação para baixo é um desafio. A gente não sabe se 5% [de juros] vai ser suficiente no Fed, eu acho que vai, mas não está claro”, avaliou.
“Fico preocupado com eventos de cauda, não sei de onde vão vir, é aquele momento de portfólio defensivo nos mercados tradicionais, que os ativos ficam baratos. Piora dos mercados sempre tem impacto sobre atividade econômica, e consequentemente sobre condições financeiras e política monetária, a gente vai ver na esse ‘spill over’ acontecendo”, disse.
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