Itaú: Selic deve ficar em nível contracionista por mais tempo para que inflação convirja à meta

Economistas do banco apontam pouco espaço para redução das expectativas de inflação

As projeções de inflação dos analistas financeiros observadas no Boletim Focus estão descoladas da meta de 3% há alguns trimestres. Mas como esse cenário de expectativas desancoradas influencia os rumos da taxa Selic no Brasil?

Em relatório assinado por Julia Gottlieb, Natalia Cotarelli e Julia Passabom, o Itaú Unibanco vê pouco espaço neste momento para um recuo nas estimativas do IPCA ao longo do prazo.

Diante do cenário, as economistas do banco avaliam que os juros básicos do país tendem a ser mantidos em nível contracionista por mais tempo para que a inflação convirja para a meta.

Domando as expectativas

Para chegar a essa conclusão, um estudo feito pela equipe do Itaú identificou que quanto maior o tempo de desancoragem de expectativas de inflação, maior o impacto na inflação no horizonte relevante.

“As expectativas de inflação, mesmo as de prazos mais longos, têm papel crucial na dinâmica de inflação no horizonte relevante de política monetária (seis trimestres à frente)”, escrevem as economistas.

“Particularmente, no caso de desvios frente à meta de inflação, não é apenas o nível da desancoragem que importa, mas também o tempo em que o descolamento persiste”, acrescentam.

Dessa maneira, explicam elas, as expectativas possuem um componente inercial, que dependem da própria expectativa de inflação. E um adaptativo, que dependem da inflação passada.

Assim, um choque nas expectativas de inflação demora a se dissipar.

“Como resultado, um choque de 50 pontos base nas projeções de inflação por um trimestre resulta em um aumento de 36 pontos base na inflação prospectiva ao longo dos seis trimestres seguintes”, apontam as especialistas do Itaú.

Logo, em um cenário de aproximadamente três trimestres de desancoragem, elas calculam um impacto de 52 pontos na inflação esperada.

“Adicionalmente, mesmo que adotemos a hipótese improvável de reancoragem imediata para a meta de 3,0%, ainda existiria uma penalidade porque as expectativas permaneceram algum tempo acima da meta”, indicam.

Aperto prolongado

Por último, para antecipar os próximos da política monetária, as economistas do Itaú lembram a dinâmica e o balanço de riscos do cenário atual.

Entre outros fatores que podem pressionar a inflação, elas destacam um cenário externo mais desafiador e uma atividade econômica e mercado de trabalho doméstico resilientes.

“Vemos pouco espaço para redução das expectativas de inflação à frente, o que, por sua vez, impacta a indexação da economia e a própria dinâmica de preços”, afirmam.

Contudo, para elas, isso não implica que a autoridade monetária deveria resignar-se, ao contrário.

“Com desancoragem persistente, é necessário manter a taxa de juros em nível contracionista por mais tempo para que a inflação convirja para a meta”, prosseguem.

“Projetamos taxa Selic em 9,25% no final do ciclo, acima do nível neutro estimado por nós, entre 7,5% e 8,0%”, completam.