Para a XP Investimentos e a Tendências Consultoria, a alta da taxa básica de juros, a Selic, vai jogar contra os investimentos
Surpresa no PIB como um todo, os investimentos em construção registraram acomodação em setembro e interromperam uma sequência de três altas, para uma queda de 1,8% ante agosto
Com ajuda da construção civil, mas queda da importação de máquinas e equipamentos, o investimento conseguiu apenas se segurar com leve recuo de 0,1% no terceiro trimestre em relação aos três meses anteriores, segundo informou ontem o IBGE.
No fechado do ano, a formação bruta de capital fixo (FBCF), como é conhecido o indicador dentro do Produto Interno Bruto (PIB), deve crescer acima dos dois dígitos, ainda por causa da base fraca de comparação com 2020. Mas a perspectiva para 2022, com eleições e aumento de juros, é incerta e alguns analistas não descartam retração ao redor de 2% a 3% dos investimentos.
Surpresa no PIB como um todo, os investimentos em construção registraram acomodação em setembro e interromperam uma sequência de três altas, para uma queda de 1,8% ante agosto, segundo cálculos do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea). Ainda assim, os ganhos de julho e agosto garantiram avanço de 5,9% do dado no terceiro trimestre ante os três meses anteriores, feitos os ajustes. O Ipea produz um indicador mensal de investimentos e, após a divulgação de cada PIB, ajusta a pesquisa, com abertura por setores,
Na via oposta, o consumo aparente de máquinas e equipamentos, que é a produção nacional somada às importações, subiu 0,9% em setembro ante agosto, mas encerrou o terceiro trimestre em queda de 2,6%. O desempenho no período foi puxado pelas importações de bens industriais, que encolheram 2,9% ante o segundo trimestre, uma vez que a produção nacional aumentou 2% na mesma comparação.
“Há uma grande complementariedade entre o maquinário doméstico e importado, que foi impactado negativamente pelo encarecimento do dólar e a conhecida falta de produtos na cadeia global”, afirmam os economistas Marco Antonio Caruso, Lisandra Barbero e Eduardo Vilarim, do Banco Original.
A taxa de investimento ficou em 19,4% do PIB no terceiro trimestre, o nível mais alto desde o 2014 para o período e bem acima dos 16,4% do PIB um ano antes. Mas o encarecimento de custos, que diminuiu as importações, também explica o resultado, diz o economista-chefe da corretora Tullett Prebon, Fernando Montero. O deflator da formação bruta de de capita fixo, uma espécie de “inflação” do investimento, subiu 17% em relação ao terceiro trimestre de 2020 e 27% em dois anos, observa Montero.
Na comparação com o terceiro trimestre de 2020, houve alta de 18,8% dos investimentos. O movimento foi puxado pelo crescimento na produção interna e importação de bens de capital, desempenho positivo da construção e no desenvolvimento de softwares, diz Rebeca Palis, coordenadora de Contas Nacionais do IBGE. “Todos os componentes têm desempenho positivo. No caso de importação de bens de capital, o Repetro agora já está muito pouco relevante, agora só tem um resíduo”, diz Rebeca.
O Repetro é um regime aduaneiro que facilita a importação de bens destinados à exploração de petróleo, como plataformas, e costumava elevar artificialmente o dado de investimento.
O Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getulio Vargas (FGV Ibre) espera queda de 5% no investimento no quarto trimestre e baixa de cerca de 2,4% no ano que vem. “Veremos uma desaceleração no ano que vem, principalmente por parte da construção civil, que responde por metade do investimento”, diz Silvia Matos, coordenadora do Boletim Macro, , do Ibre. “O cenário adiante é incerto, o câmbio está muito desvalorizado, o que aumenta o preço de máquinas e equipamentos. O Brasil é visto com muita incerteza. 2022 não será um ano de grande investimento”, acrescenta Silvia.
Para a XP Investimentos e a Tendências Consultoria, a alta da taxa básica de juros, a Selic, vai jogar contra os investimentos. “Olhando para frente, o desempenho dos investimentos deve ser mais fraco dado o processo de elevação da taxa de juros, que tem efeito defasado na economia”, diz Rodolfo Margato, da XP, que prevê queda de 2% a 2,5% do do indicador no ano que vem.
A Tendências Consultoria prevê crescimento de 13% de FBCF em 2021 e queda de 3% em 2022, e ressalta também o encarecimento do crédito.