Inflação e juros: saiba como devem estar esses indicadores no início do mandato de Lula
Cenário pode variar a depender das indicações de Lula sobre a condução da economia; Banco Central tem apenas mais uma decisão até o dia 1º de janeiro
As projeções do Banco Central apontam para uma Selic estabilizada em 13,75% durante os próximos meses para conter uma inflação que deve fechar o ano em 5,60%. Embora a projeção esteja em linha com o que casas de análise, gestoras e bancos esperam, esses números não estão absolutamente fechados.
Então, a manutenção das projeções dependerá basicamente do comportamento do presidente eleito nos próximos meses, até que assuma a Presidência da República. Especialistas ouvidos pela Inteligência Financeira falam sobre o que poderia alterar o cenário até o dia primeiro de janeiro, quando Lula inicia seu mandato.
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Combustível pode impactar projeções
Diante disso, Marcelo Boragini, sócio e especialista em renda variável da Davos Investimentos, diz que as projeções devem ser concretizadas, mas ele chama a atenção para o comportamento do preço dos combustíveis depois de passadas as eleições.
“Concordo com esses números (do Copom). Talvez, o Banco tenha que ajustar os juros um pouco para cima, caso tenhamos um reajuste nos combustíveis agora, depois da eleição, com aumento dos preços”, diz.
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Para Eduardo Lobo, gestor de fundos de crédito da SOMMA Investimentos, a projeção do Banco Central deve se concretizar. “Hoje, nossa expectativa de juros e inflação estão bem alinhadas com as do mercado, que é a Selic encerrando o ano em 13,75% e a inflação medida pelo IPCA, em 5,60%. A taxa de juros atingiu seu pico”, avalia.
Na ótica do controle inflacionário, os meses de queda no IPCA sustentam a tese que novos aumentos da Selic se tornam pouco factíveis, já que a inflação terminal deve ser mesmo de 5,60%, conforme as projeções. “Temos pela frente apenas uma reunião do Copom, a chance para mudar esse cenário é muito baixa”, avalia Lobo.
Europa e política no radar
Ainda assim, um cenário externo desfavorável pode vir a mudar o rumo da taxa de juros básica. “A gente fica preocupado com a subida de juros dos mercados desenvolvidos e como vai ser o desenrolar da guerra entre Rússia e Ucrânia”, completa.
As projeções do Boletim Focus são bem embasadas, diz Fabrizio Velloni, economista-chefe da Frente Corretora, mas pode haver um viés político pelo caminho. Ele avalia a possibilidade de Lula indicar gastos públicos maiores, o que teria poder de impactar dólar, inflação e juros.
“Isso vai gerar insegurança no mercado, e pode pressionar dólar e, por consequência, a inflação. Uma fuga de investidores estrangeiros mexeria com o dólar e o BC teria que subir a Selic para fazer o equilíbrio”, ressalta.
Ciclo de aperto encerrado
A Principal Claritas também concorda com as projeções do BC. “Acreditamos que a Selic vai encerrar nesse patamar porque o balanço de riscos para o BC não deve sofrer grandes alterações na próxima decisão”, diz Marcela Rocha, economista-chefe da Principal Claritas ao mencionar a última reunião do Copom do ano, em dezembro.
“Desde a penúltima decisão, o Banco Central optou em encerrar o ciclo de aperto monetário, que tinha começado em março do ano passado, o BC entende que o balanço de risco para a inflação ainda é negativo e por conta disso o Banco Central afirma que vai manter essa Selic estável em longo período ou não descarta a hipótese de até voltar a subir a taxa de juros, caso seja necessário”, diz a economista-chefe.
Ela ressalta, porém, que o Banco Central parou de subir juros para observar o efeito defasado da política monetária. A autoridade ainda procura entender qual vai ser o impacto desse aperto na atividade econômica e, consequentemente, na inflação. Por isso, as taxas de juros devem ser mantidas no atual patamar, pelo menos, até que Lula assuma a presidência.
“Como só temos mais uma reunião no início de dezembro, a gente acredita que o BC não terá informações novas suficientes para mudar essa avaliação. Teremos dados de crescimento e inflação, mas dificilmente esses números vão fazer o Banco Central ter a certeza de que o balanço de risco piorou para que subisse os juros, ou que as notícias fossem tão boas a ponto de reduzi-los”, completa.
Aumento de gastos está precificado
Mesmo os gastos indicados por Lula, relacionados à manutenção do Auxílio Brasil e um bônus de R$ 150 por filho, conforme as promessas de campanha, já estão precificados pelo mercado e não devem pesar sobre as decisões do BC. Algo além disso poderia mudar o comportamento das autoridades monetárias, avalia Marcela.
“O único cenário possível (de aumento dos juros) é o presidente eleito sinalizar um aumento de gastos muito alto para o ano que vem. Lula já falou em manter os R$ 600 e dar um bônus de R$ 150 para famílias que têm filhos. Esses custos o mercado já espera, apesar das dúvidas sobre como será financiado. Se falássemos de outros aumentos de gastos, aí sim, haveria um risco”, completa.