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‘Não aposte numa queda iminente dos juros, a renda fixa continua atraente’, diz Mário Mesquita, economista-chefe do Itaú Unibanco
Executivo participa da tradicional reunião de primavera do FMI nos Estados Unidos
Presente na tradicional reunião de primavera do FMI (Fundo Monetário Internacional), com o Banco Mundial, políticos globais, economistas do setor privado, investidores, pensadores, o economista-chefe do Itaú Unibanco, Mário Mesquita, explica que a mensagem com que sai das reuniões, das conversas com vários bancos centrais, dos Estados Unidos e de outros países é que, talvez, os mercados estejam otimistas demais quanto a perspectiva de cortes na taxa de juros na segunda metade do ano.
Em entrevista exclusiva para a Inteligência Financeira, o economista afirma notar uma dissonância entre a visão dos mercados mais otimistas com queda de juros e a visão cautelosa das autoridades monetárias. “Há muita cautela dos diferentes bancos centrais perante o problema inflacionário”, afirma.
A política monetária bate primeiro na atividade econômica. Depois, os países experimentam a dor da desaceleração com a inflação ainda alta.
“Acho que vários países estão sofrendo essa experiência. Não é só o Brasil”, explica Mário Mesquita. “Tem de ser muito mais duro no final do processo para realmente debelar a doença”, completa.
Há um debate grande no Banco Central dos Estados Unidos sobre a medida da taxa de juro na política monetária por conta desse estresse no sistema bancário.
Diante da preocupação no continente americano, o economista observa um movimento paralelo nos Estados Unidos e no Brasil em torno da mesma dúvida: o que vai acontecer com o crédito em função da alta taxa de juros e como isso vai impactar a atividade econômica?
Mesquita ressalta o reconhecimento, pelos países presentes na reunião do FMI, da atuação firme do Banco Central do Brasil para conter a inflação.
Os países presente no encontro comparam as perspectivas econômicas do Brasil com as do México. Há um redirecionamento de cadeias produtivas dos Estados Unidos para países próximos, como México e Canadá por uma razão geográfica. Já na América do Sul, com Brasil, Argentina e Uruguai, por exemplo, o cenário não é tão próspero, explica o economista chefe do Itaú Unibanco.
Fala-se no avanço de um acordo comercial com a união europeia que beneficiaria o Brasil. E também sobre as mudanças na política ambiental que deve ajudar o Brasil a se inserir em cadeias produtivas, se posicionando melhor diante de parceiros comerciais.
Em relação à abordagem de uma moeda única para os Brics, mencionada pelo presidente do Brasil, Luís Inácio Lula da Silva, na viagem à China, Mário Mesquita afirma que a moeda só é atraente quando permite acesso ao mercado financeiro, com muita liquidez.
Os Estados Unidos têm isso. A China não tem este atrativo no momento. A moeda tem de ser aceita em uma economia de rede, explica o economista.
Mesquita lembra que havia a expectativa, quando o euro foi criado, de que seria uma alternativa ao dólar. Mas, não há títulos em euro com liquidez equivalente a dos ‘treasures’ dos Estados Unidos. Não é possível diversificar tanto.
Na avaliação de Mesquita, é difícil ter um movimento rápido de substituição do dólar pela moeda chinesa ou pelo euro como moeda de reserva principal na economia mundial.
“Até o real poderia ser uma moeda de reserva, se a gente fizer o trabalho da política monetária direito no Brasil”, afirma o economista. “No momento, acho difícil a preeminência do dólar ser deslocada na próxima década ou até mais”, completa.
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