Reinvestir dividendos da Petrobras trouxe ganho expressivo no 1º semestre, aponta estudo

Confira tabela que mostra diferença entre reinvestir ou não os ganhos

O investidor que teve a iniciativa de reinvestir os dividendos distribuídos pela Petrobras, no primeiro semestre, nas ações da empresa na bolsa (PETR3,PETR4) teve expressivo retorno, aponta um estudo da consultoria TradeMap feito a pedido da Inteligência Financeira.

O estudo também revela quais empresas tiveram o maior dividend yield da bolsa até 30 de junho, métrica que divide o valor do provento distribuído por ação pelo preço do ativo. Em outras empresas, o retorno pode quase triplicar e até aumentar em cinco vezes. Contudo, o yield, como diz o mercado, é um “olhar para o retrovisor”, já que Petrobras não deve continuar com a mesma política de distribuição adiante.

Reinvestir dividendos na Petrobras dobrou lucros até julho

Os dividendos são um atrativo para qualquer investidor na bolsa de valores. Mas o pagamento do provento, obrigatório a empresas que registram lucro líquido, pode aumentar ainda mais o retorno quando reinvestido na bolsa de valores.

Segundo a consultoria TradeMap, o reinvestimento em dividendos repassados pela Petrobras em 2023 teria aumentado o retorno médio do investidor em 23,7 pontos percentuais a mais do que se não tivesse aplicado os proventos nos papéis, conforme a tabela abaixo mostra.

Reinvestir dividendos significa utilizar o lucro distribuído de ações para recomprar os papéis da empresa, ou ainda alocar em outros ativos do mercado de renda fixa e variável. Ou seja, é quando o investidor não guarda o dividendo “no bolso”.

Em 2023, a Petrobras pagou três parcelas de dividendos para acionistas dos papéis ordinários e preferenciais. A primeira foi de R$ 1,60 por ação, a segunda com valor de R$ 1,37 e a terceira de R$ 0,87. No total, R$ 24 bilhões foram distribuídos entre investidores e o governo, acionista de referência da estatal.

No caso das ações da CSN Mineração (CMIN3), por exemplo, o investidor que optou por não reinvestir os dividendos distribuídos em 2023 nas ações da empresa perdeu a oportunidade de multiplicar em cinco vezes o rendimento.

Quais as ações da bolsa com maior rendimento em dividendos?

Confira a tabela das empresas com maior dividend yield de 2023 e quanto seria o rendimento dos investimentos com e sem os dividendos:

EmpresaTickerDividend Yield em 2023Retorno sem reinvestimento de dividendosRetorno com reinvestimento de dividendos
Petrobras PETR419,40%20,53%44,23%
Petrobras PETR316,95%18,05%38,69%
Siderurgia NacionalCSNA312,39%-16,63%-4,52%
CSN MineraçãoCMIN311%2,45%13%
Banco do BrasilBBAS36,6%42,24%50,05%
CPFL EnergiaCPFE36,33%3,58%10,6%
BradescoBBDC36,03%8,69%15,52%
BradescoBBDC45,98%8,58%15,26%
BB SeguridadeBBSE35,55%-8,72%-3,80%
SLC AgricolaSLCE35,53%-10,38%-4,65%
Telefônica BrasilVIVT35,25%12,83%18,67%
Engie BrasilEGIE34,71%20,62%25,78%
UsiminasUSIM54,59%-1,26%3,52%
JBSJBSS34,55%-20,6%-16,13%
CemigCMIG44,49%15,44%20,4%
BradesparBRAP44,16%-25,27%-21,31%
TaesaTAEE114,07%8,57%13%
CyrelaCYRE33,91%59,37%54,02%
TIMTIMS33,73%22,01%17,9%
EletrobrasELET63,46%7,16%2,98%
Fonte: TradeMap até 30/06

Dividendos da Petrobras no futuro

Gestores e analistas ouvidos pela Inteligência Financeira explicam que os dividendos de Petrobras levaram a empresa a viver um momento atípico na bolsa após a eleição.

A volatilidade dos papéis da empresa levou as ações preferenciais de Petrobras (PETR4) a baterem a máxima de R$ 28,09, atingida em outubro de 2022. A ação chegou a valer R$ 31,80 em junho. O que explica também a margem maior para quem reinvestiu os proventos pagos.

A diferença dos resultados sem e com os dividendos é “absurda”, diz Felipe Pontes, sócio-fundador da L4 Capital. “Petrobras passou bem em um momento mais turbulento do mercado. A ação está muito volátil neste ano, o que leva a um salto enorme após a distribuição de dividendos”, afirma.

O gestor ressalta que a empresa, a depender da época em que distribuiu os dividendos, pode ter impulsionado as ações. “A depender da época que dividendos foram distribuídos, ela bate nos períodos de baixa e justifica salto enorme com reinvestimento”, comenta Pontes.

Mas o governo tem planos de mudar a política de dividendos da Petrobras. A companhia pretende revisar a política de distribuição de seu lucro líquido, de acordo com o diretor financeiro da empresa, Caetano Leite. E a nova diretriz deve entrar em vigor a partir nos resultados do 2º trimestre deste ano.

Eduardo Rahal, analista chefe da Levante Corp., afirma que a situação da Petrobras “não deve continuar adiante” na distribuição de lucro. “Até meados de abril a empresa ainda era gerida pela antiga administração, que praticava uma política de distribuição mais arrojada e, não necessariamente e nem provavelmente isso deve continuar mais adiante.”

Por que reinvestir dividendos no mercado financeiro?

O investidor que escolhe reinvestir dividendos da Petrobras ou de qualquer outra empresa ganha vantagens em relação a quem deixa de aportar lucros no mercado financeiro.

A princípio, a vantagem é bater a taxa de juros locais com juros compostos, por meio da taxa de retorno acima da Selic. E os efeitos são sentidos principalmente no longo prazo, conforme o exemplo de Rahal:

“Por exemplo, se você tivesse investido US$ 10.000 na Microsoft em 1986 e simplesmente mantivesse as ações sem reinvestir os dividendos, seu investimento valeria cerca de US$ 7 milhões em 2020. No entanto, se você tivesse reinvestido os dividendos, seu investimento valeria mais de US$ 16 milhões”

Além disso, reinvestimento é uma forma de comprar ações de empresas sem injetar capital, o que permite ao investidor comprar “na baixa”, diz o analista.

O investidor pode até não sentir tanto a diferença no começo, mas, com o passar do tempo, há o famoso efeito “bola de neve” sobre reinvestimento de dividendos. É a avaliação de Vicente Guimarães, CEO da VG Research. “No começo, esse valor é pequeno e ajuda muito pouco na acumulação de capital, porém, com o passar do tempo os dividendos aumentam e quando menos se espera o valor reinvestido já supera em muito o valor do aporte principal. O reinvestimento pode dobrar e até triplicar os resultados do investidor.”

O que Weg, Taesa, Vale e Petrobras têm em comum?

As melhores pagadoras de dividendos da bolsa de valores, como Vale, Weg, Taesa e CSN Mineração têm em comum os fundamentos, dizem especialistas.

Felipe Pontes, da L4 Capital, diz que boas pagadoras de dividendos, geralmente:

  • Tem lucros maiores, mais persistentes e crescem a cada trimestre de forma constante
  • São empresas maduras
  • Com “efeito clientela”: um grupo de investidores atraído especialmente para captar os dividendos, mesmo quando há uma baixa na distribuição
  • São de setores mais propensos a distribuir lucro: energia elétrica, saneamento, mineradoras

Por fim, especialistas dizem que o reinvestimento de dividendos não precisa ser na mesma empresa que distribuiu o lucro.

“Na verdade, o grande benefício do dividendo é que o investidor, ao receber o montante, tem a liberdade para escolher em qual ativo irá alocar o capital. Essa é uma decisão importante pois ele poderá escolher, naquele momento em específico, onde entende que há maior assimetria em termos de risco retorno.”

O porém é o que Pontes chama de “armadilha do DY”. Ou seja, o olhar para o retrovisor do investidor que aplica com base nos indicadores do último trimestre sem analisar o desempenho futuro. “Empresas podem aumentar o DY com a ação caindo. Basta manter a política de dividendos. Mas não significa que a empresa não vai piorar seus resultados seguintes”, diz o sócio da L4 Capital.

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