Nem Black Friday salvou vendas no varejo em novembro; veja o que dizem analistas

Analistas projetam que 2023 será desafiador para o setor varejista

O índice de Vendas no Varejo de novembro de 2022 recuou 0,6% ante outubro e surpreendeu negativamente os analistas, mostrando que nem a Black Friday salvou o setor da retração, resultado causado principalmente pela inflação, desemprego, alta dos juros, endividamento das famílias e inadimplência alta.

Os dados da Pesquisa Mensal de Comércio do IBGE mostram que nem mesmo a Black Friday salvou o comércio naquele mês, o que fica claro na queda de 3,4% contra outubro no ramo de equipamentos e material de escritório, informática e comunicação.

Os dados reforçaram a dificuldade que o setor enfrenta desde junho do ano passado, após um início de 2022 com desempenho positivo. Para o gerente da pesquisa, Cristiano Santos, um dos fatores que explicam o resultado negativo é a inflação.

“Esse desempenho mais fraco da Black Friday contribui fortemente para o resultado negativo do setor varejista em novembro. As condições macroeconômicas, como a falta de crescimento de crédito, a alta dos juros, a estabilidade do Auxílio Brasil e a volta da inflação, impactaram a renda das famílias e diminuíram o consumo”, afirmou Santos.

Tendência deve se prolongar

Segundo o pesquisador da Ibre/FGV, Rodolpho Tobler, a tendência deve ter marcado também a virada de 2022 para 2023, pegando as vendas do Natal, e deve se manter ao menos até a primeira metade deste ano, com desempenho de vendas andando de lado, com viés negativo.

O indicador caiu em junho e julho, andou de lado em agosto e chegou a ter leve recuperação em setembro, com o aumento do Auxílio Brasil para R$ 600 e outros programas de transferências de renda como auxílio para caminhoneiros e para compra de gás. Em outubro, no entanto, houve já uma desaceleração, novamente sob peso da inflação e dos juros.

Itens essenciais

Os itens mais essenciais também sofreram em novembro, mostrado pelo volume de vendas de supermercados e hipermercados, que mesmo após o aumento do Auxílio Brasil, registrou recuo de 0,1% em outubro e estabilidade em novembro.

Nesse segmento há efeito imediato da inflação, avalia o pesquisador da FGV, com pressão de preços que também voltou ao fim de 2022 e fechou o ano acima do esperado e do teto da meta do BC, conforme divulgação do IPCA de 5,8% para o ano pelo IBGE, ontem.

De lado, ou para trás

Para 2023, a Ibre/FGV projeta que o varejo deve seguir andando de lado no decorrer do ano, com viés negativo. Há possibilidade de reação mais ao fim de 2023, mas depende da condução de temas fiscais pelo novo governo. “No cenário atual inflação elevada e juros altos são variáveis macroeconômicas que não serão resolvidas no curto prazo”, afirmou Tobler.

O IBEVAR (Instituto Brasileiro de Executivos de Varejo & Mercado de Consumo) também tem uma projeção ruim para o setor em 2023. Segundo o estudo, as projeções mostram uma queda de 1,42% na intenção de compra no primeiro trimestre de 2023 em relação ao mesmo trimestre de 2022 e de 0,83%, em relação ao quarto trimestre.