Varejo fechou 2022 com menor crescimento de vendas em 6 anos, diz IBGE

Setor de combustíveis impulsiona varejo em pior ano desde 2016; setor de papelaria se recupera com volta às aulas presencial

As vendas no comércio varejista no país encerraram 2022 no campo positivo, com 1% de crescimento, mas esse foi o pior resultado do setor desde 2016, quando houve encolhimento de 6,2%. É o que apontam dados da Pesquisa Mensal do Comércio, (PMC) divulgados hoje pelo IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística).

Em dezembro, as vendas do varejo recuaram 2,6% em relação a dezembro, marcando a segunda queda consecutiva do setor, que encerrou novembro com queda de 0,9%. Cinco das oito atividades pesquisadas pelo IBGE tiveram, contudo, aumento no ano. O destaque é do setor de combustíveis e lubrificantes, com aumento de vendas de 16,6%, e o segmento de livros, jornais, revistas e papelaria, com crescimento de 14,8%.

Isenção de impostos impulsionou venda em combustíveis

O gerente da PMC, Cristiano Santos, aponta que o crescimento de vendas no varejo em 1% em 2022 está compatível com a margem dos anos anteriores. “Em 2021, por exemplo, houve ganho acumulado de 1,4%”, diz o gerente, lembrando que o setor é concentrado na atividade do segmento de combustíveis, que foi de uma alta de 0,3% em 2021 para 16,6% no ano passado.

A trajetória de crescimento do setor de combustíveis vem, segundo Santos, ensaiando recuperação desde julho de 2022. Justamente na época em que o governo de Jair Bolsonaro realizou cortes de impostos que incidem sobre o produto dos postos, o que aumentou a demanda.

“Com essas mudanças, essa atividade teve aumento significativo e, após aquele momento, teve quedas grandes. Em novembro, houve uma perda de 5,4% e o resultado de dezembro intensificou ainda mais essa trajetória. Mesmo assim, o acumulado do ano para esse setor foi o maior da série histórica”, diz Santos. No 2º semestre, combustíveis cresceram 27,8%.

Inflação e Auxílio Brasil explicam recuperação de supermercados

No caso do crescimento no setor de livros e papelaria, a alta em vendas está associada à volta às aulas presenciais em 2022 — não havia aumento da margem em relação ao ano anterior desde 2013.

O setor de hiper e supermercados, que tem maior peso na pesquisa, acumulou 1,4% no crescimento em vendas em 2022.

“Uma das explicações para esse crescimento é a queda de 2,6% no ano anterior”, explica Santos, do IBGE.

“Em 2022, tivemos o efeito da inflação elevada sobretudo em alimentos, o que favorece mais esse setor que outros, já que muitos deixam de consumir outro tipo de produto para continuar comprando esses itens básicos, ainda que reduzam o dispêndio de forma geral. No último trimestre, tivemos também o efeito do aumento do Auxílio Brasil, alcançando as famílias de menor renda que tendem a usar o valor do benefício em hiper e supermercados.”

Os setores de artigos farmacêuticos, médicos, ortopédicos e de perfumaria e equipamentos de material para escritório, informática e comunicação também cresceram em vendas, com ampliação de 6,3% e 1,7%, respectivamente.

No comércio varejista ampliado, que inclui o segmento automobilístico — carros, motos, partes e peças — e material de construção, teve queda de 0,6% em 2022.