Aos berros e sem argumentos técnicos, Bolsonaro volta a disparar: lucro da Petrobras é ‘crime inadmissível’
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Bolsonaro disse que viajará nesta sexta-feira (6) à Guiana com o ministro das Minas e Energia, Bento Albuquerque, e com o presidente da Petrobras.
O presidente Jair Bolsonaro fez ontem um forte ataque à Petrobras e à sua política de preços. Ele classificou o lucro da empresa com “um crime inadmissível” e um “estupro”, no momento em que a alta dos combustíveis pressiona a inflação em pleno ano eleitoral.
Pré-candidato à reeleição, Bolsonaro reforça um discurso que adotou diversas vezes ao longo de seu mandato de críticas à política de preços da empresa. A companhia segue, desde 2016, política de paridade em relação aos preços internacionais e não pode descumprir essas regras sob risco penalidades da CVM e de investidores nacionais e estrangeiros.
Mesmo assim, Bolsonaro segue batendo na tecla do lucro “excessivo” da Petrobras. Esse argumento e a crítica aos reajustes de preços de derivados serviram para demitir os dois últimos presidentes da companhia: Roberto Castello Branco e Joaquim Silva e Luna, substituído em abril por José Mauro Cunha. Ao se defender, a Petrobras sustenta que retorna bilhões de reais ao governo na forma de dividendos e impostos. E tem deixado claro que se o governo quer subsidiar os combustíveis poderia usar parte dos recursos que recebe da companhia para fazê-lo.
Bolsonaro parece não se interessar nos argumentos técnicos da estatal. Dedicou cerca de 30 minutos de sua live semanal ao tema, ontem, em boa parte de forma exaltada e aos berros. Estava ao lado do ministro Augusto Heleno, do Gabinete de Segurança Institucional (GSI). Na transmissão, Bolsonaro afirmou, sem citar fontes, que a Petrobras teve “um lucro de R$ 40 bilhões”. Momentos depois da fala, com a live já encerrada, a companhia anunciou lucro líquido de R$ 44,56 bilhões no primeiro trimestre, alta de 3.718%.
“Está descartada intervenção na Petrobras. Mas eu não posso entender, em momento de crise, a Petrobras faturar horrores. O lucro da Petrobras é maior com a crise, isso é um crime inadmissível”, afirmou. “Quem paga a conta desse lucro é a população brasileira.”
Bolsonaro afirmou que “muitas petroleiras mundo afora reduziram o preço, baixaram a margem de lucro de suas empresas”. “Para que isso [baixar a margem de lucro]? Para o seu país não quebrar. O Brasil, se tiver mais um aumento de combustível, pode quebrar. E o pessoal da Petrobras não entende ou não quer entender. Só estão de olho no lucro”, disse o mandatário. “A gente apela para a Petrobras: não reajustem o preço do combustível. Vocês estão tendo um lucro absurdo. O lucro de vocês é um estupro, é um absurdo. Vocês não podem aumentar mais o preço do combustível.”
O presidente disse ainda que não manda na Petrobras porque “ela não é estatal” – na verdade, é uma empresa de economia mista. “Se fosse estatal, eu teria mandado diminuir a margem de lucro”, disse. “O conselho, a diretoria têm como resolver esse assunto. É um crime aumentar mais uma vez o óleo diesel no Brasil.” Ainda de acordo com Bolsonaro, a Petrobras tem uma “gula enorme em cima do povo”. “O povo está perdendo o seu poder aquisitivo. Está vendo, Petrobras?”, disse o presidente.
O Valor consultou a assessoria da empresa na noite de ontem por email perguntando se a Petrobras iria responder às declarações de Bolsonaro. Até o fechamento desta edição a assessoria não respondeu. Bolsonaro contou que viajará hoje à Guiana com o ministro das Minas e Energia, Bento Albuquerque, e com o presidente da Petrobras.
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