Alta do dólar: entenda o que levou o câmbio ao maior valor desde março de 2023

Dólar ultrapassou R$ 5,27 na máxima nesta terça-feira e segue com maior alta desde março de 2023; economistas explicam valorização

A alta do dólar no pregão da bolsa de valores nesta segunda-feira (15), na contramão do Ibovespa, levou o câmbio a um novo patamar em 2024. A moeda norte-americana atingiu os R$ 5,27 nesta terça-feira, e especialistas explicam que, ao mesmo tempo em que a valorização da maior reserva de valor do mundo é global, o Brasil enfrenta “desafios domésticos” que provocam a fuga do câmbio.

Enquanto, do lado de fora, a incerteza sobre a escalada de violência no Oriente Médio provoca uma aversão ao risco do capital estrangeiro, no Brasil o maior risco ao investidor é o fiscal. Pelo menos, esta é a avaliação de economistas ouvidos pela Inteligência Financeira ao explicarem o que está por trás da alta do dólar.

O que está por trás da alta do dólar?

A alta do dólar não é um movimento restrito ao Brasil. No mundo inteiro, dizem especialistas, a divisa norte-americana vem se fortalecendo.

Nesta quarta-feira, o dólar chegou a ultrapassar os R$ 5,20 na cotação máxima do dia no Ibovespa na segunda. Já no pregão desta terça, a moeda norte-ameriacana chegou à máxima de R$ 5,27, e agora recua para R$ 5,26. Em 2024, o dólar acumula alta de 8,43%.

O principal motivo da alta global do dólar, na visão de Felipe Sales, economista-chefe do C6 Bank, é a resiliência da economia dos Estados Unidos.

Os últimos dados de inflação ao consumidor dos EUA (CPI) vieram acima do esperado pelo mercado. Houve o avanço de 0,4% no principal índice de preços do país, enquanto a projeção de analistas era de uma expansão de apenas 0,3%. Além disso, as vendas do varejo do país também surpreenderam economistas nesta segunda-feira.

“Esses dados deixaram claro que é improvável que o banco central americano, o Fed, corte juros em breve”, diz Sales. “Inclusive existe a chance do BC americano nem cortar juros neste ano”, completa.

Os fortes números da economia americana, mesmo sob efeito da atual taxa de juros de 5,25% a 5,50% ao ano, azedaram expectativas na magnitude de cortes do Fed. Esta é a avaliação de Alexandre Espírito Santo, economista-chefe da Way Investimentos

“Antes o mercado trabalhava com seis cortes, agora discute se serão um, dois ou três”, comenta o economista. “Assim, com juros ‘higher for longer‘ a tendência é que o dólar fique mais firme nos mercados externos, fora as questões geopolíticas, como as guerras que ajudam a pressionar o câmbio”, prossegue.

Conflito entre Irã e Israel leva capital estrangeiro ao dólar

O agravamento do conflito no Oriente Médio também traz ainda mais incerteza ao investidor global. O ataque de Irã contra Israel no último sábado provoca uma fuga de capital estrangeiro à maior reserva de valor do mundo: o dólar.

“Além da alta dos Treasuries, tivemos a escalada de conflito no Oriente Médio. Apesar dos pedidos de cessar-fogo, vemos autoridades importantes de Israel afirmando que haverá retaliação”, afirma Yan Vasconcellos, sócio da One Investimentos.

De acordo com especialistas ouvidos pela Inteligência Financeira, existem efeitos do ataque iraniano em ativos mais arriscados na renda fixa do Brasil.

Meta fiscal volta ao radar de investidores

O reajuste de meta fiscal de 2025 também influenciou na alta do dólar a patamares históricos nesta quarta-feira (15), dizem os economistas ouvidos pela reportagem.

Nesta segunda, o ministro da Fazenda Fernando Haddad (PT) afirmou que o governo deve perseguir uma meta de déficit primário de 0% do PIB em 2025. Antes, o objetivo do governo previsto no Arcabouço Fiscal era de perseguir um superávit de 0,5%.

“O real vem perdendo mais valor frente ao dólar do que moedas de demais países emergentes, sugerindo que há fatores domésticos por trás”, afirma Sales, do C6 Bank. “Vemos conversas sobre a mudança de meta fiscal e isso pode mudar a aversão ao risco, considerando fuga de dólares do país.”

Gabriel Meira, especialista da Valor Investimentos, afirma que o reajuste da meta fiscal leva o mercado a acreditar “que o governo tem tido uma dificuldade criar novas fontes de receita e vem aumentando despesas”.

“Isso traz, portanto, um medo ao investidor estrangeiro”, pontua Meira.

Por outro lado, segundo Luiz Fernando Gênova, superintendente de Tesouraria do Banco Daycoval, a alta do dólar de hoje “não justifica tanto o descolamento do real”.

Para ele, a mudança de alvo da meta pelo governo “não é um gatilho” para a valorização do câmbio porque todo mercado esperava pelo reajuste.

“Acho que é uma reprecificação dos ativos de risco, principalmente em ativos emergentes”, conclui