CPI das Pirâmides Financeiras: trabalho da comissão irá resgatar confiança do investidor no mercado de criptoativos?

Os trabalhos feitos pela Comissão podem tornar evidentes as diferenças entre as empresas sérias do mercado de criptomoedas e as pirâmides financeiras

Entre 2018 e 2023, investidores brasileiros que acreditavam estar investindo em criptoativos foram lesados por diversas pirâmides financeiras. Usando o termo ‘criptomoedas’, ainda pouco familiar ao público geral, os orquestradores destes esquemas conseguiram atrair milhões de investidores.

A promessa era sempre a mesma: lucros exorbitantes e fixos supostamente pagos mensalmente. Ao tentarem sacar os valores, porém, os investidores eram surpreendidos com a paralisação das retiradas. As justificativas variavam entre atualizações na plataforma de pagamento, problemas com o banco e até mesmo ataques de hackers.

Como era de se esperar, não eram feitos investimentos em criptomoedas. Os lucros dos usuários mais antigos da plataforma eram pagos com o dinheiro dos usuários mais novos.

Através de estimativas feitas pela Polícia Federal em suas investigações, os 14 maiores esquemas de pirâmides financeiras em atividade nos últimos cinco anos causaram um prejuízo de R$ 48,4 bilhões aos seus clientes.

Além do triste episódio para as famílias que foram vítimas desses golpes, a reputação do mercado de criptomoedas foi duramente abalada no Brasil.

Golpes financeiros: Separando o joio do trigo

Uma pesquisa da ConsenSys, publicada em 27 de junho, revelou que 53% dos brasileiros apontam a “presença de muitos golpes” como uma das barreiras de entrada para a criptoeconomia. Essa barreira fica atrás apenas da volatilidade do mercado, que foi mencionada por 54% dos entrevistados.

Para esses 53% de brasileiros, é compreensível que haja confusão entre o que é, realmente, o mercado de criptomoedas e o que são as pirâmides financeiras. A CPI das Criptomoedas pode ter um papel fundamental para auxiliar essa diferenciação.

A Comissão, além de convidar membros de esquemas que lesaram clientes na condição de investigados, também tem mostrado um grande interesse em ouvir diferentes vozes ligadas ao mercado de criptomoedas.

Um bom exemplo é a convocação do Mercado Bitcoin e outras dez exchanges de criptomoedas como testemunhas técnicas. Será uma excelente oportunidade de usar o momento atual do mercado de criptomoedas, que passa por um período de regulamentação, para salientar o trabalho sério que algumas empresas têm feito no Brasil.

A Comissão tem a chance, através de seus trabalhos, de delinear como age uma pirâmide financeira. Com isso, é possível reduzir o número de pessoas que podem ser vítimas desses golpes.

Vítimas famosas

Quando falamos de pessoas, é importante lembrar que as vítimas não se restringem apenas ao investidor médio no Brasil. Sasha Meneghel, filha da apresentadora Xuxa, perdeu R$ 1,2 milhão ao investir na suposta pirâmide Rental Coins.

Além disso, há o recente e icônico caso dos jogadores de futebol Gustavo Scarpa e Mayke. Juntos, eles investiram quase R$ 11 milhões na Xland, outra suposta pirâmide financeira, por recomendação de um ex-companheiro de time.

Por isso, ao trazer a atenção do público para o tema através de uma CPI, o Congresso pode reduzir de forma considerável os impactos causados por novos golpes no futuro.

Além disso, essa é a chance que empresas atuantes na economia digital precisavam para mostrar que o mercado cripto não é um mar de golpes. As pirâmides financeiras já existiam antes do surgimento das criptomoedas, e continuarão existindo quando a próxima grande transformação tecnológica ocorrer.