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Cenário para captações externas no começo de 2025 segue positivo, mesmo com maior incerteza global
Empresas citadas na reportagem:
Depois de um ano aquecido, a janela de captação externa do início de 2025 promete ter tração, com até oito companhias brasileiras se preparando para acessar o bolso do investidor estrangeiro no mercado americano. A projeção é que o ano será movimentado para a emissão de “bonds”, assim como ocorreu em 2024, segundo especialistas consultados pelo Valor. Até aqui, a leitura é que a eleição de Donald Trump não mudou os planos de ofertas, ainda que haja a expectativa de juros altos por mais tempo nos Estados Unidos e a valorização do dólar frente a outras moedas.
“É claro que tem a questão macroeconômica, que será discutida ao longo de um tempo, e a influência das decisões do Federal Reserve [BC americano], mas, para todos os efeitos, o ritmo dos planos de captação não mudou, assim como o apetite dos investidores”, disse Samy Podlubny, chefe da área de dívida do UBS BB.
Perspectivas para dólar e juros
Sobre a apreciação do dólar, a leitura geral é que ela não deve fazer com que as companhias desistam de captar recursos, mas eventualmente provocar um reajuste no valor das operações.
A eleição americana aumentou a perspectiva de alta dos juros e pressionou para cima os “yields” (taxa de retorno) dos bônus, elevando o custo de financiamento, afirma Miguel Diaz, responsável pela área de dívida externa do Santander Brasil. Por outro lado, no viés positivo, os recentes dados macroeconômicos dos Estados Unidos vieram “construtivos” e há um movimento, como consequência, de entrada de recursos em ativos de renda fixa no geral.
“Analisando o volume de bonds emitidos na primeira semana após eleição do Trump, de empresas americanas, notamos uma dinâmica positiva: o prêmio para novos emissores ‘investment grade’ [de baixo risco] está baixo, na ordem de 0,3 ponto percentual, e a demanda está até três vezes maior que a oferta. Esse é o melhor pulso para ver como está o humor em geral na renda fixa”, diz o executivo do Santander.
Brasil e América Latina: cenário positivo
Para o Brasil e América Latina, como um todo, esse cenário também deve ser positivo. Isso porque, com os prêmios mais apertados para as empresas americanas de baixo risco, os investidores poderão ampliar o escopo e buscar um retorno melhor com títulos de emergentes, explica Diaz.
Na avaliação dele, se não fosse o período de divulgação de balanços por aqui, as companhias brasileiras poderiam captar nos próximos dias com boas condições. “A janela atual está viável, construtiva e com demanda, mas não vejo nada para acontecer logo”, aponta o executivo do Santander.
O mesmo é visto por Gustavo Siqueira, responsável pela área de renda fixa do Morgan Stanley no Brasil. Em tese, o mercado possui ainda duas semanas — excluindo o feriado de Ação de Graças — de janela aberta para captação externa, mas segundo ele não há movimentações no curto prazo. Isso poderia mudar caso alguma notícia positiva abra uma oportunidade atrativa em termos de taxas. Nesse caso, haveria espaço para uma transação oportunista de um emissor que tenha a capacidade de lançar oferta muito rapidamente, diz.
Isso não significa que o mercado tenha precificado, de forma integral, todo o impacto gerado com a mudança no comando da maior economia do mundo. Uma fonte, que preferiu falar em condição de anonimato, disse que olhará com atenção as falas de Trump nos próximos 60 dias, dessa vez como presidente eleito. A depender do discurso, poderá haver efeito na fila de emissões, “de forma positiva ou negativa”, disse. Por outro lado, pondera, a vitória de Trump era esperada e, com isso, estava de todo modo já incluída nos preços.
Resultados financeiros do terceiro trimestre
A emissão mais recente de uma companhia brasileira lá fora foi em outubro, do BTG. Desde então, as companhias se concentraram na divulgação de resultados financeiros do terceiro trimestre. Alguns nomes preferiram esperar as eleições nos Estados Unidos, que aumentam a volatilidade dos mercados, e deixaram para emplacar operações no início de 2025.
A “janela” de emissões iniciada nos primeiros dias de janeiro costuma ser uma das mais movimentadas do ano. Enquanto as empresas buscam equacionar as necessidades de financiamento dos orçamentos dos próximos meses, investidores começam os trabalhos do ano com dinheiro em caixa em busca de alternativas de investimentos.
Siqueira, do Morgan Stanley, aponta que as empresas já estão se organizando, sendo algumas com vencimento de papéis entre 2026 e 2027, para acessar o mercado no início de 2025. “Vemos de cinco a sete nomes se preparando para o começo do ano que vem”, frisa o executivo. Segundo ele, algumas empresas que estão mais alavancadas também voltaram a olhar o mercado externo para se preparar para o vencimento de debêntures no mercado local, já que, por aqui, os investidores estão se mostrando mais seletivos para a emissão de determinados nomes.
Primeiro trimestre animado
Podlubny, do UBS BB, também aposta em um primeiro trimestre animado. Ele lembra que o volume de emissão de brasileiras no exterior encolheu nos últimos anos, ainda que em 2024 tenha crescido. “Mas há bonds [de empresas brasileiras] vencendo e juros sendo pagos. Isso significa que há dinheiro voltando para o investidor e que precisará ser alocado. Essa dinâmica, na minha opinião, é até mais importante na decisão do que um governo novo, porque é um sinal de demanda.”
De todo modo, o volume de emissões externas também vai depender de como estará o mercado de renda fixa local, que tem absorvido operações de grande porte e com prazos mais longos, depois de um grande fluxo de capital para o segmento. No momento, os gestores de crédito privado estão dando sinais de que não absorverão todas as emissões, mas a visão geral é que esse mercado seguirá aquecido, visto que no país o ciclo é de aperto monetário.
Balanço de 2024
O balanço de 2024 é positivo, segundo os bancos. Foram cerca de US$ 21 bilhões em emissões, conforme dados da Bond Radar, superando os US$ 16,1 bilhões de 2023. Apenas na última janela de emissões, em setembro até meados de outubro, período que antecedeu as eleições nos Estados Unidos, o volume de captação das empresas brasileiras chegou em US$ 5,1 bilhões.
Ao todo foram quase 30 captações ao longo do ano. A primeira, como é de praxe, foi do Tesouro Nacional, que levantou US$ 4,5 bilhões com títulos de dez e de 30 anos na última semana de janeiro. Em seguida, a Cosan puxou a fila das emissões corporativas, com uma oferta de US$ 600 milhões.
Alguns nomes estrearam no mercado de bonds após dois anos sem o debute de uma brasileira. A petroleira independente 3R Petroleum fez uma emissão de US$ 500 milhões, e a Ambipar, especializada em gestão de resíduos, levantou US$ 750 milhões. Outras estreantes foram LD Celulose, que emitiu US$ 650 milhões, e Oceânica, que captou US$ 375 milhões. Ambas as operações foram em setembro.
Entre as emissões corporativas, a maior foi da Raízen Energia, de US$ 1,5 bilhão, em fevereiro. A empresa fez uma oferta em duas séries, uma delas com prazo de 30 anos, algo que não ocorria havia dois anos. Em setembro, a companhia voltou a acessar o mercado de dívida em dólar e emitiu mais US$ 1 bilhão.
Com informações do Valor Econômico
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