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Bolsa e ações de estatais começam o ano em queda
Empresas citadas na reportagem:
O primeiro pregão de 2023 foi fortemente negativo para os ativos locais. Os investidores ficaram incomodados com a prorrogação da desoneração de tributos federais sobre combustíveis, anunciada no domingo pelo novo governo. Além dos impactos fiscais da medida, eles interpretaram o episódio como a primeira derrota do ministro da Fazenda, Fernando Haddad, para a ala política do PT. Ele havia declarado preferência pela recomposição dos impostos. Houve, adicionalmente, pressão sobre as ações das estatais federais, após o presidente Luiz Inácio Lula da Silva sinalizar em seus discursos que o governo pode exercer maior influência nos negócios das empresas.
Em dia de liquidez baixa devido ao feriado de Ano Novo em países como os Estados Unidos, o Ibovespa registrou perdas de 3,06%, aos 106.376 pontos, enquanto as ações ordinárias e preferenciais da Petrobras recuaram 6,67% e 6,45%, respectivamente, e Banco do Brasil ON teve queda de 4,23%. O dólar fechou em alta de 1,52%, cotado a R$ 5,3581. A taxa do contrato de Depósito Interfinanceiro (DI) para janeiro de 2024 subiu de 13,41% do ajuste anterior para 13,525%; e a do DI para janeiro de 2027 passou de 12,61% para 12,92%.
Nas últimas semanas, os ativos brasileiros demonstravam certa trajetória de melhora, em recuperação técnica e após falas de Haddad, contrárias à extensão da isenção fiscal sobre os combustíveis, o que poderia gerar melhora na arrecadação de curto prazo. A confirmação da notícia de que o benefício será ampliado por 60 dias, portanto, provocou desconforto em boa parte do mercado. O custo anual da desoneração aos cofres públicos é de aproximadamente R$ 53 bilhões.
“A primeira medida que o Haddad queria implementar acabou sendo barrada. Lideranças do PT reclamaram e acabaram voltando atrás. A partir de agora, tudo que o Haddad quiser implementar a gente vai ter que esperar uns dias para ver se outros setores do PT vão aprovar”, avalia o sócio e gestor da Novus Capital, Luiz Eduardo Portella. “Antes existia o benefício da dúvida. Agora, vão ter que implementar as medidas, na prática, para os preços mudarem”, conclui.
Para o gestor macro da AZ Quest, André Kitahara, o ministro da Fazenda pode ter dado um sinal de fraqueza em sua primeira disputa, sendo derrotado pelo lado da não responsabilidade fiscal.
Já a gestora dos fundos macro da Truxt Investimentos, Mariana Dreux, diz que, apesar das sinalizações um pouco mais alinhadas às preferências do mercado por parte de Haddad, não há nenhum detalhe ou plano de execução das medidas. “Essas pequenas medidas que a gente vê aprovadas, dia após dia, com apoio do Congresso, são na direção de tornar o trabalho de ajuste fiscal maior ainda. É um discurso que não está amparado pelas ações e deixa o mercado mais desconfiado.”
Nessa linha, Tomás Awad, sócio-fundador da 3R Investimentos, aponta que a tentativa de discurso mais fiscalista apresentada nos últimos dias tem pouco a ver com as medidas aprovadas pelo governo até agora, como PEC da Transição e a desoneração, que apontam para mais gastos. O gestor discorda, inclusive, da percepção de “derrota” de Haddad na segunda questão, enxergando uma tendência estrutural do Executivo para medidas com o perfil. “Não dá para dizer que o Haddad é a referência pró-mercado dentro do governo.”
Também em direção oposta ao esperado pelo mercado, Lula disse em discurso durante a posse que as estatais teriam um papel importante no novo ciclo do país, o que causou temores de maior interferência nessas empresas e voltou a derrubá-las na bolsa. No caso da Petrobras, investidores se preocuparam ainda com prováveis mudanças na política de preços da petroleira e nos planos de dividendos e investimentos, temas já abordados pelo novo presidente da empresa, o senador Jean Paul Prates (PT-RN).
“Pensando nas estatais, acredito que a questão nem é encontrar ou não valor nos papéis, que já caíram muito. Mas não faz sentido ser acionista minoritário de empresas como essas pelos próximos quatro anos e precisar ficar monitorando cada movimento do controlador, ainda mais com um patamar de juros elevado como o que temos”, afirma Awad.
Outro fator de preocupação para os participantes do mercado foi a nova elevação nas projeções de inflação no Relatório Focus do Banco Central. O documento apontou que a mediana da projeção para 2023 passou de 5,23% para 5,31%; para 2024, subiu de 3,60% para 3,65%; e, para 2025, saltou de 3,20% para 3,25%.
“As expectativas de inflação vêm piorando de forma consistente e começam a sinalizar uma possível necessidade de o Banco Central, em um horizonte curto, ter que tomar alguma ação. É um ambiente em que as perspectivas fiscais estão cada vez piores”, avalia Dreux. Neste contexto, ela vê uma assimetria na curva de juros. “Ainda acho os juros baixos na curva. O DI de dois anos está sendo negociado abaixo do CDI e acho que isso tem que mudar. Acredito que a probabilidade de o próximo movimento do Banco Central ser de alta é maior do que ser de queda.”
Por Gabriel Roca, Arthur Cagliari, Augusto Decker e Matheus Prado
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