As lições de um investidor do Vale do Silício

Para Naval Ravikant, o problema de investir em startups se resume ao café. “Eu realmente me cansei de reuniões e tomar café”, disse Ravikant, empresário de tecnologia que se tornou investidor, em uma entrevista ao jornal The New York Times. Tão esgotado, na verdade, que comprou o endereço idontdocoffee.com. Quando startups que buscam financiamento solicitam reuniões presenciais, elas recebem uma resposta do endereço de e-mail naval@idontdocoffee.com.

“Pensei: ‘deve haver uma maneira melhor e mais eficiente de avaliá-las do que fazer milhares de reuniões’”, diz Ravikant. “O café deve ser o último passo, não o primeiro.” Com este pensamento em mente, em fevereiro de 2009, Ravikant e Babak Nivi, colega e mentor de startups, fundaram o AngelList, um site de networking que substitui intermináveis ​​reuniões de pitch por matchmaking pela Internet.

O AngelList funciona de forma semelhante a sites de namoro online. Ele permite que empresas iniciantes ansiosas por investimentos se unam a investidores que desejam comprar o próximo Twitter ou Facebook. O site se tornou um sucesso e projetou os nomes de Ravikant e Nivi nas rodas de executivos de venture capital e empreendedores do Vale do Silício, nos EUA.

Fortuna com o mínimo de esforço?

Precisamos de mais um livro sobre como conseguir paz e fortuna com o mínimo de esforço? “Mas esta é uma obra única porque não foi ‘escrita’, mas construída”, garante ao Valor o americano Eric Jorgenson, autor de “O almanaque de Naval Ravikant – um guia para a riqueza e a felicidade”, publicado nos Estados Unidos em 2020 e lançado agora no Brasil. “Durante três anos, cataloguei tudo o que Naval compartilhou de ensinamentos e transformei 1 milhão de palavras em 50 mil.”

Naval Ravikant, o personagem-título do livro, é um megainvestidor indiano que emigrou para os EUA aos 9 anos, pobre e filho de mãe solo. Hoje, aos 48, o ex-CEO da startup AngelList, plataforma que conecta investidores a novos negócios, tem participações em mais de 200 empresas e foi um dos primeiros empreendedores a canalizar aportes em marcas como Uber e Twitter.

Jorgenson coletou tuítes, postagens em blogs, depoimentos em podcasts e entrevistas que Ravikant espalhou nas redes sociais durante dez anos para montar uma “introdução” às ideias do empresário, principalmente sobre os caminhos da prosperidade.

“As orientações dele me foram recomendadas pela primeira vez quando eu tinha 19 anos, para aprender como levantar capital de risco no Vale do Silício”, diz o escritor de 27 anos, que foi da equipe fundadora da startup Zaarly, de prestação de serviços para residências, e hoje ministra um curso on-line sobre alavancagem de negócios.

Dividido em duas partes – riqueza e felicidade -, o volume tem algo a dizer na primeira metade e pouco a ser copiado na segunda. Para Ravikant, a melhor fórmula de rechear a conta bancária combina fazer o que se gosta na carreira profissional (“para muitos vai parecer trabalho, mas para você será diversão”) com empreendedorismo.

“Quem não é dono de algo não ganha dinheiro enquanto está dormindo”, destaca. Se alguém é pago para vender seu tempo, como médicos e advogados, pode até acumular recursos, mas serão insuficientes para garantir liberdade financeira, ensina. “Quando médicos ficam ricos, isso acontece porque eles decidiram abrir um negócio.”

Ravikant fundou seu primeiro empreendimento em 1999, aos 25 anos. A Epinions, vendida em 2003, funcionava como um fórum na internet com críticas sobre produtos, numa época em que esse tipo de atividade era pouco explorado. A partir daí, tudo o que lucrava ia para a compra ou criação de novas organizações. Quase 20 anos depois, em 2018, foi reconhecido como o investidor anjo, ou pessoa que investe em empresas nascentes, do ano. A motivação continua.

Somente neste início de 2022, Ravikant participou de três rodadas de investimentos, junto com outros gestores e fundos, que somam US$ 50 milhões. As investidas são a plataforma de treinamento para jogadores de videogame Metafy; a ePlane Company, de aviões elétricos; e a Deepnote, dona de uma plataforma de colaboração de dados, usada por universidades como Stanford e Harvard.

No “almanaque” de Jorgenson, Ravikant deixa claro que o sucesso na vida financeira também é fruto da combinação de construção de imagem e confiança. “Para ganhar dinheiro, é importante ter uma reputação que leva o mercado a fazer negócios com você”, afirma. Quando ficamos conhecidos pela integridade, somos procurados por quem não quer selar contratos com estranhos, aponta.

Como exemplo, ele cita um dos seus gurus declarados do mundo financeiro, o investidor americano Warren Buffett. “Ele recebe ofertas para comprar companhias graças à reputação que conquistou.”

Na segunda etapa da obra, sobre felicidade, o autor explica que Ravikant considera esse estado de espírito como uma habilidade que pode ser aperfeiçoada ao longo dos anos. É como seguir uma dieta ou fazer exercícios, diz. “Tudo na base da tentativa e erro, até descobrir o que vai funcionar.” Para ele, a meditação matinal e banhos sempre gelados funcionam como atalhos para atingir esse patamar.

“Os princípios de Ravikant são amplos”, justifica Jorgenson. “Mas qualquer um pode encontrar pelo menos uma ideia no livro para mudar algo na vida.” Enquanto aguarda o feedback dos leitores, ele prepara um novo compêndio, agora sobre o estilo de acumular fortuna de Balaji Srinivasan, outro investidor de origem indiana conhecido por fundar e vender, em série, firmas inovadoras da indústria de tecnologia.

O almanaque de Naval Ravikant – um guia para a riqueza e a felicidade

Eric Jorgenson. Trad.: Paula Diniz Intrínseca, 240 págs. R$ 44,90

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