Álbum da Copa do Mundo resgata vínculo com escritório

Profissionais levam a troca de figurinhas para as empresas, e tem até RH apoiando a iniciativa, dando uma força para o pessoal completar a coleção mais rápido

Em ano de Copa do Mundo, já virou tradição: o álbum com os rostos dos jogadores que disputam o torneio cai no gosto dos brasileiros. E não pense que a troca de figurinhas é coisa só de criança e adolescente. Adultos também entram na brincadeira, que invade até os ambientes de trabalho.

Há poucas semanas, o escritório da fintech Neon virou arena de troca. “Ano de Copa do Mundo é sempre aguardado com muita ansiedade por mim”, confessa o gerente de growth marketing Matheus Yamashita, 29 anos, que coleciona os álbuns desde 1998, quando o mundial aconteceu na França. “Desde que ingressei na Neon, em junho deste ano, comento com os meus colegas a expectativa por todas as etapas da copa, desde o pré-aquecimento com a compra do álbum e figurinhas, até a decisão de quem leva a taça como campeão. Comecei a trocar figurinhas aqui na empresa há algumas semanas”, diz.

A relação de Yamashita com o álbum da copa começou quando ele era criança, em 1998. “Com cinco anos eu morava em um prédio onde, em época de Copa do Mundo, as crianças se reuniam para trocar e colar figurinhas”, lembra. “Tenho ótimas memórias. Como eu era pequeno, meu pai ficava responsável pela compra e por me ajudar a completar o álbum com as figurinhas que demorávamos para encontrar.”

Para ele, hoje, montar o álbum, traz uma sensação de afeto. “Lembro dos momentos em que era criança e meu pai, mesmo com suas tarefas do dia a dia, dedicava um tempo para comprar figurinhas e me ajudar a completar o álbum”, recorda. “Na época da adolescência também, em 2010 e 2014, em que sempre me juntava com os amigos para trocar as figurinhas e comentar sobre o time que cada uma das seleções havia escalado para o campeonato.”

Agora que frequenta o mundo do trabalho, o ambiente muda, mas a paixão segue. “Desde o lançamento do álbum, em agosto, temos comentado em reuniões e durante a pausa para o almoço ou café quando estamos no presencial. Eu mesmo, quando tive a oportunidade de ir para o escritório nas últimas semanas, não deixei de levar as minhas figurinhas repetidas para tentar a sorte e conseguir alguma que ainda não havia encontrado”. O mesmo acontece quando Yamashita sai para encontrar amigos e familiares.

Roberta Valezio, head de engajamento e experiência na Neon, diz que a troca de figurinhas é recorrente na empresa, e já aconteceu em copas anteriores. “Não poderíamos deixar de incentivar uma ocasião para interação entre os times”, afirma.

O RH da Neon criou um grupo específico em um dos canais internos de comunicação chamado #troca-figurinhas-copa-2022. Por meio desse canal, as pessoas podem postar suas figurinhas repetidas e, por conta própria, combinar a troca. “Também organizamos dias e horários em nossos escritórios e nos coworkings espalhados pelo país, incentivando que a galera se encontre e além da troca de figurinhas, possa se aproximar e conectar ao vivo – fugindo das rotinas de interação exclusivamente sobre trabalho.”

Nos escritórios da Neon em São Paulo, onde foi feita a foto desta reportagem, as trocas oficiais estão acontecendo às terças e quintas, em três horários ao longo dia (às 10h, meio-dia e às 15h). “Os colaboradores têm se reunido em nossas áreas de descanso e em um totem que foi instalado justamente para ajudar a identificar onde está acontecendo as trocas de figurinhas”, explica Valezio. “Para nós, é um momento de descontração, que ajuda a aliviar o dia a dia. Todo mundo se diverte, mesmo quem não participa ativamente e só assiste.”

Na Empiricus Investimentos, assim como na Neon, a troca de figurinhas no escritório surgiu de forma espontânea, algo que o RH vê de forma positiva. “Acreditamos que é uma iniciativa muito interessante para a integração espontânea, orgânica entre pessoas e áreas das diferentes empresas do grupo”, diz Thiago Veras, head de RH da empresa.

Um dos envolvidos na troca de figurinhas na Empiricus é Marcos Neves, 32 anos, head de risco e produtos. Para ele, colecionar o álbum da copa é uma tradição familiar. “Eu e meus irmãos colecionamos desde 1990, com todos os álbuns completos”, diz. “Como sou o irmão mais novo, levo essa herança até hoje.”

Neves conta que o burburinho para a troca começou já no início do ano. “Não se falava mais em outra coisa. Combinávamos de trocar no almoço”. Ele diz que, além da diversão, um fato interessante é que a troca de figurinhas foi importante para a integração das pessoas e equipes.

Thays Iafrate, 30 anos, analista de backoffice na Empiricus, também entrou na brincadeira. Ela coleciona os álbuns da copa desde 2014, quando o evento aconteceu no Brasil. “Com a influência do meu namorado na época, hoje esposo, que é apaixonado por futebol, iniciamos nosso primeiro álbum juntos em 2014, ele já coleciona desde 2006”, conta. Este ano, o filho de 4 anos do casal está participando da brincadeira. “Ele fica empolgado a cada figurinha nova para colar junto. A gente gasta um dinheiro na empolgação e depois quer trocar as sobras até conseguir completar a missão.”

Iafrate diz que antes de começar a colecionar o álbum criticava adultos que se envolviam na brincadeira. “Falava que era coisa de adolescente, coisa de escola. Mas é bacana o desafio de completar a coleção.”

Yamashita dá o recado para quem critica os adultos que se divertem com o álbum da copa. “As pessoas tentam criar rótulos sobre o que ser, o que gostar e acabam não aproveitando o que a prática pode causar no dia a dia, as boas memórias que pode proporcionar”, diz. “A minha ligação com os álbuns da copa me faz criar e relembrar momentos bons, de afeto e de muita colaboração que passei com o meu pai e amigos.”

Ele ainda completa: “se eu puder dar um conselho para quem critica adultos que gostam de colecionar e trocar figurinhas, esteja aberto para viver, seja participando ou apenas acompanhando essa experiência. Tenho certeza de que como eu crio boas memórias, todos podem criar”.

Por Adriana Fonseca

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