Usiminas (USIM5) dispara quase 40% em 12 meses; é hora de ter na carteira?

Ações da Usiminas seguem subindo em 2024, na contramão do setor; veja o que analistas falam sobre o futuro dos papéis

Enquanto a bolsa estava em seu caminho para atingir patamares históricos em 2023, o setor de mineração e siderurgia patinava por conta das incertezas com relação aos preços do minério de ferro e do aço. Mas, entre as empresas do setor, uma andava na contramão positiva: a siderúrgica Usiminas (USIM5), que segue avançando, a despeito do desempenho negativo dos pares em 2024.

A resiliência da empresa fez com que o Itaú BBA mudasse sua recomendação para o papel da siderúrgica, passando de neutra para compra. O banco se amparou nas novas estimativas de preços das commodities metálicas e resultados operacionais das mineradoras e siderúrgicas do quarto trimestre, que mostraram a Usiminas em boa posição para o restante do ano, para colocar o papel entre os que recomenda para compra.

Após a reavaliação, o preço-alvo do papel para o Itaú BBA passou de R$ 9,50 para R$ 12 ao final de 2024, potencial de alta de 18%. O banco enxerga “melhores perspectivas operacionais e valuation atrativo” para a empresa, segundo relatório deste mês.

No pregão de ontem, 11 de abril, USIM5 fechou perto de R$ 10,30.

“Temos uma visão mais otimista em relação a um potencial declínio nos custos da produção de aço nos próximos trimestres, o que provavelmente sustentará um lucro positivo, gerando um impulso para a ação”, dizem os analistas do time de siderurgia e mineração do IBBA, liderados por Daniel Sasson.

“Vemos a ação sendo negociada em 2024 a um múltiplo EV/Ebitda de 3,6 vezes, o que parece barato em relação aos níveis históricos”, complementam.

Desempenho da Usiminas em relação aos pares

EmpresaAção no IbovespaValorização em 12 mesesValorização em 2024
UsiminasUSIM5+38,26%+9,69%
ValeVALE3-17,23%-16,28%
CSN CSNA3+1,77%-26,96%
CSN MineraçãoCMIN3+21,72%-34,28%
GerdauGGBR4-6,75%-3,64%
Metalúrgica GerdauGOAU4-0,37%-1,48%
Fonte: B3 / Dados atualizados às 16h do dia 11 de abril

O que a Usiminas produz?

Os principais produtos da Usiminas (USIM5) são os aços planos. Isso diferencia a empresa da Vale, por exemplo, que tem como principal negócio a venda do minério de ferro, matéria-prima utilizada para fabricação dos aços.

A Usiminas também produz minério de ferro, embora em proporção menor que de outras mineradoras e até mesmo siderúrgicas, como a CSN.

Além disso, a Usiminas produz coque, uma das principais matérias-primas utilizadas para produção de aço, junto com minério de ferro.

A proporção de cada uma dessas matérias-primas nas despesas e receitas das empresa do setor dirá se a empresa será beneficiada ou prejudicada pelo aumento ou recuo no preço do aço e do minério de ferro e a relação entre um preço e outro. Isso atua diretamente no preço das ações na bolsa.

Diante disso, a Usiminas se beneficiou da redução do seu preço de custo, tendo em vista que para fazer uma tonelada de aço é preciso gastar 1,6 tonelada de minério de ferro.

Recomendações e preços-alvos para as ações da Usiminas (USIM5)

InstituiçãoPreço-alvoRecomendação
Itaú BBAR$ 12Compra
AtivaR$ 11Neutra
Genial R$ 12Neutra
AndbankR$ 11Neutra
CM R$ 12Neutra

Aumento de preços contratados para 2024

Mesmo com um cenário ainda difícil para o setor de mineração e siderurgia em 2024, a Usiminas tem surfado altas ainda maiores na bolsa neste ano.

O que pode ajudar a explicar o otimismo com relação à ação é o anúncio de aumento dos preços nos aços planos, enquanto o minério tem expectativas mais modestas. “Está contratado um aumento de preços (dos aços planos) para os próximos 90 dias”, explica Ilan Arbetman, analista da Ativa Investimentos.  

Além disso, Arbetman crê em avanço nos preços também no segundo semestre, impulsionado por um aquecimento da demanda. Contudo, diz que “não dá para cravar que 2024 vai ser muito melhor” por conta das incertezas relacionados a essa retomada da demanda, que depende da recuperação do setor imobiliário na China.

Dessa maneira, a Ativa tem recomendação neutra e preço-alvo em R$ 11.

O que explica os ganhos das ações da Usiminas acima do setor?

A Usiminas tem se beneficiado da demanda no segmento automotivo. “Segmento automotivo representa um terço das vendas de aço da Usiminas, mais exposta a esse segmento do que os pares”, diz Igor Guedes, analista de Metais e Mineração da Genial Investimentos.

Nesse sentido, a queda de juros no Brasil e seu impulso ao segmento automotivo tem ajudado a Usiminas mais que outras siderúrgicas. O aquecimento desse segmento da economia está expresso nos resultados das vendas do varejo desta quinta-feira (11), com veículos, motos, partes e peças registrando avanço de 3,9% em março, bem acima da alta de 1,2% do varejo ampliado como um todo.

Esse cenário positivo contrabalanceou a ligeira queda no preço dos aços planos (principal produto da Usiminas) no mundo ao longo de 2023 por conta da redução da demanda chinesa e aumento de quase 50% nas importações de aços planos, o que obrigou as siderúrgicas a reduzirem seus preços.

Enquanto a Usiminas está mais exposta ao valor do aço, especificamente de aços planos, outras empresas do setor sofrem mais com o preço pouco atrativo do minério de ferro, mesmo as metalúrgicas. Enquanto a Usiminas tem uma produção que beira as 9 milhões de toneladas de minério por ano, a CSN produz 40 toneladas por ano.

Isso mostra que a CSN, no período, foi mais punida pelo preço do minério em queda do que premiada, enquanto a Usiminas se beneficiou da queda dessa commodity, barateando seus custos de produção.

Nesse sentido, o Itaú BBA reduziu suas projeções para CSN enquanto aumentou para Usiminas, com o preço-alvo da primeira caindo de R$ 20 para R$ 15 ao fim de 2024, com rebaixamento de neutra para venda.  

Retomada da produção e redução de despesas com Capex em 2024

O desempenho da Usiminas (USIM5) no segundo semestre de 2023 foi positivo, mesmo com uma conjuntura adversa em relação ao preço das commodities e com um peso extra sobre seu orçamento.

Isso porque o principal alto-forno da empresa para produção de carvão ficou desligado ao longo do segundo semestre para reforma, o que elevou os custos com Capex para perto de R$ 3 bilhões.

Pesou ainda a contratação de mais de 2 mil funcionários temporários para executar a reforma e a compra de placas de aço plano para estocar e vender enquanto o forno estivesse fechado.

Além disso, a produção foi integralmente suspensa no principal alto-forno da siderúrgica.

“Naquele momento, o múltiplo EV/EBTIDA de Usiminas ficou entre 2,6x e 3,5x (bem abaixo da média histórica de 5x), o que mostrava um nível de desconto alto”, detalha Guedes, da Genial.

“A Usiminas foi o patinho feio do setor durante basicamente o ano passado inteiro. O papel começou a descolar dos pares apenas em outubro (final do ano), quando foi anunciado que em novembro a companhia concluiria a reforma do alto-forno”, complementa.

A retomada do equipamento ajuda a explicar o desempenho ainda mais forte da Usiminas em 2024. E, além do ganho de produtividade, a empresa também se beneficia da redução nas despesas para este ano, com Capex reduzido em ao menos um terço.

Além disso, parte importante do Capex previsto para 2024 (R$ 950 bilhões) será destinado à produção de coque, reduzindo sua dependência de fornecedores e os custos a médio e longo prazo para fabricação do aço.

“A redução de custo vai acontecer, mas a verdade é que ninguém sabe qual será o nível dela”, avalia Guedes.

A Genial tem preço-alvo de R$ 12 para os papéis e recomendação neutra. O analista da corretora diz que “o excesso de otimismo já entrou no preço” das ações e avalia que “o mercado pode ter exagerado na alta”.

“As condições setoriais são difíceis, e a Usiminas chegou a fechar o Alto-forno 1 puramente por falta de demanda. Não acreditamos que uma melhora na eficiência de custos compense a competição com o aço chinês, que atinge mais a Usiminas que a Gerdau, por exemplo”, pondera.

Ações da Usiminas estavam ‘largadas na bolsa’

Fernando Bresciani, analista de investimentos do Andbank, diz que a Usiminas chegou a valer 0,4 vezes seu patrimônio e que as ações estavam “largadas na bolsa”, com o setor como um todo já descontado ao longo do ano passado.

“Em relação aos pares, ela estava mais barata que todas (Vale, CSN e Gerdau), e o pessoal resolveu investir. Ainda mais depois que a Vale passou por problemas (políticos, relacionados à possível troca na gestão), e isso afetou ainda mais as ações da mineradora.”

O valor da ação continua 0,5 vez o valor patrimonial, “ainda muito barata”, segundo Bresciani.  Faltam novidades para puxar o papel, e elas podem vir do minério. Se ele voltar para a faixa de US$ 110 ou US$ 115, algo esperado para maio, os papéis podem dar um novo salto.

Por isso, é preciso acompanhar os dados da China, especialmente relacionados ao PIB e mercado imobiliário, para verificar se, de fato, as ações da Usiminas devem seguir em trajetória de alta acima da média do setor.

Para o Andbank, o preço-alvo também é de R$ 11, sem upside.

Ações da Usiminas x ações da Vale

Quanto ao preço do minério de ferro, é importante destacar que ele exerce um impacto significativo em todas as empresas do setor siderúrgico e de mineração, como Gerdau e CSN. Quando os preços do minério de ferro estão em baixa, essas empresas tendem a se beneficiar, pois isso se traduz em maiores receitas provenientes da venda de aço e outros produtos derivados.

“No entanto, o efeito é oposto para a Vale, uma das maiores produtoras de minério de ferro do mundo. Para a Vale, preços mais altos do minério de ferro significam diretamente maiores receitas e lucratividade, uma vez que a empresa é uma fornecedora de matéria-prima, e não uma consumidora como as siderúrgicas”, diz Nilson Marcelo, analista quantitativo da CM Capital.

A CM tem preço-alvo de R$ 12 para o papel. Hoje, as ações da Usiminas valem R$ 10,36, enquanto a Vale (VALE3) custa R$ 61,60.