‘Fábrica de bilionários’, WEG cai na bolsa após salto de 400%: é hora de investir?

É hora de comprar ações da WEG? Especialistas falam sobre o potencial da empresa depois de valorização histórica

Até 2019, as ações da WEG (WEGE3) pareciam navegar em um mar sem ondas. Com pequenas variações nos 4 anos anteriores, os papéis registravam precificação abaixo dos dois dígitos. No quadriênio seguinte, tudo mudou. As ações dispararam, passando de pouco mais de R$ 9 para o pico de quase R$ 45 em meados de 2021.

Além de motores elétricos e componentes eletrônicos, a WEG ficou conhecida nos últimos anos por produzir bilionários em profusão. Um levantamento da Forbes de 2022 apontou que a companhia era a empresa que mais gerava essa classe de acumuladores de capital no Brasil.

Depois da disparada nos últimos anos, as ações da WEG tem registrado queda em 2023: -14% de janeiro ao final de outubro. Entenda o porquê da desvalorização e se é hora de comprar ações da WEG ou se o momento já passou.

O que está acontecendo com as ações da WEG?

Antes da divulgação do balanço do terceiro trimestre de 2023 da Weg, que veio pior que o esperado para muitos analistas e fez as ações da empresa caírem 10% no dia, o Itaú BBA já havia apontado uma “desaceleração moderada” em receita e margens da empresa.

Depois do balanço, divulgado na manhã do dia 25 de outubro, o banco disse que os resultados tinham vindo “um pouco abaixo” das expectativas, acentuando a queda das ações no ano.

Uma surpresa positiva, se houvesse, poderia desencadear uma recuperação de curto prazo, já que a ação está subavaliada. “Porém, este não foi o caso, e os resultados confirmaram a tendência de desaceleração”, avaliou o banco.

A receita da empresa já apresentava desaceleração desde o primeiro trimestre, devido à forte base de comparação de 2022 e ao câmbio. Além disso, houve uma queda adicional de receita em algumas das operações mais importantes da empresa.

Por que as ações da WEG estão caindo em 2023?

A queda no preço das ações se deu por conta de um otimismo exacerbado, disse Alberto Valerio, analista de equity research do UBS BB. “Talvez o mercado estivesse muito otimista e não visualizou esse topo de ciclo em 2023”, avaliou.

Valerio explica que chegou o momento de a WEG sofrer o ajuste do preço de suas ações com relação à expectativa dos mercados, que estavam muito altas. Além disso, passou a pesar contra a empresa o custo de capital com juros globais em patamares recordes.

“Depois de 4 anos com crescimento médio de 25% ao ano, a WEG deve apresentar um ‘modesto’ crescimento de 10% este ano. Além disso, o custo de capital subiu no mundo inteiro. O resultado é um valuation menor para os papéis”, explica o analista do UBS BB.

Por que as ações da Weg subiram tanto?

“Crescimento é um fator importante no valuation das empresas. Ter crescimento e ao mesmo tempo manter o nível de rentabilidade é ainda mais importante. Outro componente fundamental para avaliação das empresas é o custo de capital, que caiu durante a ascensão da empresa na bolsa. Isso tudo colaborou com a disparada dos papéis”, diz Valerio.

“Assim, a WEG teve este momento de expansão de receita com rentabilidade neste período, com juros nos patamares mais baixos registrados no mundo. O resultado foi uma super apreciação das ações, com o valuation chegando a 70x preço/lucro”, destaca.

É hora de comprar ações da WEG?

O Itaú BBA diz manter-se “fiel” à classificação anterior que o banco fez da empresa, indicando neutralidade para os papéis. Ou seja, nem compra nem venda.

O banco afirma que aguarda “resultados catalisadores” e um “melhor ponto de entrada”. “Não somos compradores ainda, mas continuamos fãs da história”, diz a instituição em relatório.

Em novo relatório recebido pela Inteligência Financeira, o Itaú BBA disse, na terça-feira (31), reiterar sua posição. Além disso, afirma que a estimativa do banco relacionada ao Lucro por Ação (EPS) da WEG está 10% abaixo da projeção da média do mercado.

Outro ponto acrescentado pela instituição é que a tendência de lucros mais fracos continue nos próximos trimestres, até o final de 2024, “impulsionada pela fraca demanda, margens em queda, impostos mais elevados e real mais forte (o dólar encerrou o 4T22 cotado a R$ 5,25)”.

O UBS BB também enxerga “ventos contrários à frente” ao mesmo tempo em que a empresa vem sendo negociada a múltiplos muito altos. “Vemos qualquer reclassificação como improvável e o risco ligeiramente distorcido para o lado negativo”, afirma o banco em relatório.

Por outro lado, há quem acredite que o desempenho ruim da empresa na bolsa possa ter aberto uma boa oportunidade para comprar. Desde o rebaixamento da WEG, em maio, de “compra” para “neutra” pelo Itaú BBA, as ações da companhia caíram quase 18%, contra ganho de pouco mais de 11% do IBOV. 

“Mesmo com valuation um pouco mais caro, nossa posição é de compra”, diz Fernando Ferrer, analista da Empiricus Research.

“Mesmo que os resultados tenham decepcionado um pouco, principalmente depois da maior aquisição de sua história, a companhia se prepara para mais avenidas de crescimento”, avalia Ferrer.

O que esperar da WEGE3?

Com tendências negativas ainda vigorando para a empresa, o Itaú BBA afirma que, ao cobrir a empresa na bolsa, observa três fatores importantes: expectativas de crescimento, previsões de rentabilidade e custo de capital próprio.

“Num horizonte de 12 meses, continuamos a observar tendências negativas para todos esses vetores, sem sinais de inflexão futura”, diz o banco.

O crescimento da empresa deve continuar desacelerando diante de dados industriais (PMIs) fracos em todo o mundo. Com isso, “as margens continuarão a cair (menor preço, procura mais fraca) e o seu custo de capital aumentará (principalmente nos títulos do Tesouro dos EUA)”, explica a instituição.

Ações da Weg vão voltar a subir?

Para Valerio, do UBS, a WEG é especialista em surpreender o mercado, mas quanto maior ela fica, mais difícil é sustentar crescimentos extraordinários como os registrados anteriormente, como a elevação de 10% na receita em 2019 e de 30% em 2020 e 2021.

Além disso, a desvalorização do real e o crescimento em praticamente todas as divisões ajudaram a empresa a alcançar esses resultados. Situação bem diferente atualmente.

O mercado estima que a WEG apresente um CAGR (taxa de crescimento anual composta, na sigla em inglês) de 11% até 2040, muito saudável, porém abaixo do registrado entre 2019 e 2021.

Tida como empresa quase perfeita, a WEG viu o mercado “subir a régua” com relação ao seu desempenho, o que tende a colocar enorme pressão sobre o preço dos papéis na bolsa.

“As ações da WEG sempre foram muito caras, então, qualquer resultado um pouco abaixo já é suficiente para derrubar os preços”, afirma Gabriel Bassotto, analista-chefe de Ações do Simpla Club.

O que pode ajudar a WEG?

Hoje, a WEG tem três projetos importantes em fase de maturação, na Índia, na China e no México. Além disso, a transição enérgica nos EUA está oferecendo oportunidades de crescimento, segundo o UBS BB. Isso tudo pode ajudar a empresa a ampliar participação de mercado e receita.

Além disso, o consumo de máquinas pelo setor de exploração de petróleo no Brasil pode continuar a suportar uma grande parte dos resutados do segmento industrial da WEG, segundo a Genial Investimentos.

“No acumulado do ano, tivemos um aumento de 108% na exportação de máquinas para o segmento mencionado”, diz a Genial, em relatório, com bases em dados da Abimaq (Associação Brasileira da Indústria de Máquinas e Equipamentos).

A demanda forte no longo prazo tem garantido a manutenção de números altos de pedidos à WEG, o que, por consequência, tem sustentado as margens da companhia em altos patamares por um período prolongado, o que pode favorecer a empresa no médio e longo prazos.

Avanço sobre as concorrentes

A expetativa para a economia global não é das mais animadoras, com a possibilidade de forte desaceleração, o que impactaria sobremaneira empresas de bens de capital, como a WEG. Porém, mesmo nessa realidade, de crescimento global menor, a companhia pode se beneficiar.

“Resta saber se, nesse cenário, a WEG vai ganhar participação de mercado, o que aconteceu nos trimestres passados. Além disso, nova avenidas de crescimento, como transição energética e infraestrurua para mobilidade, nas quais a empresa vem apostando, podem sobrepor essa desaceleração”, diz Ferrer, da Empiricus.

Para isso, a empresa aposta bastante na maior e mais recente aquisição, da Regal Rexnord, comprada por US$ 400 milhões.

“A margem EBITDA da Regal é de 9,5%, enquanto a da Weg é de 19% a 20%. A expectativa da WEG é elevar a margem da empresa adquirida para perto de 20% por meio de sinergias, melhora de footprint industrial e posicionamento dos equipamentos. Para isso, tem bastante trabalho a ser feito”, diz Ferrer.