Ações da Sabesp disparam mais de 30% com avanço da privatização; é hora de comprar?

Saiba se é uma boa comprar ações da Sabesp diante da possibilidade de privatização e como devem ficar os dividendos da empresa

As ações da Sabesp (SBSP3) experimentaram forte alta na bolsa – de mais de 30% – a partir de abril, quando o governador Tarcísio de Freitas anunciou novos passos para desestatização da companhia de saneamento e água do estado de São Paulo. Desde então, o projeto de privatização vem avançando, ainda que a Justiça de São Paulo tenha suspendido, na segunda (6), a audiência pública sobre privatização da estatal na Assembleia Legislativa de São Paulo (Alesp).

O governo de São Paulo enviou à Alesp, no dia 17 de outubro, em caráter de urgência, o projeto de lei que visa permitir a privatização da Sabesp e dar as bases legais para o processo. Relatórios de bancos apontam perspectiva de que o processo seja aprovado no final de novembro ou início de dezembro.

Mas qual a expectativa com relação ao preço das ações da empresa com a perspectiva da privatização? Saiba o que dizem especialistas consultados pela Inteligência Financeira.

Quem controla a Sabesp?

Hoje, o governo de São Paulo tem 50,3% da empresa. O projeto de privatização deve ser feito via follow-on (venda de ações), e o governo do estado de São Paulo quer reduzir sua participação para 30% a 15% das ações.

Ainda assim, a ideia do governo é manter a chamada golden share, ou seja, participação que permite ao estado vetar decisões estratégicas.

É uma boa comprar ações da Sabesp?

Em relatório, o Santander parabenizou o projeto de privatização e se mostrou “otimista” com a empresa, recomendando compra. O banco tem boas projeções para ações da Sabesp com a desestatização e prevê que cheguem a R$ 83,75 (preço-alvo). Isso representaria uma alta de quase 37% com relação à cotação do dia 17, quando o relatório foi concluído.

Além disso, segundo outro relatório, do BTG Pactual, a necessidade de garantir igualdade de acesso aos serviços, como o previsto no projeto, pode limitar investimentos em áreas de maior retorno financeiro.

Ainda assim, o BTG tem avaliação de “compra” para as ações da Sabesp antes da privatização. “A Sabesp é nossa principal escolha entre as concessionárias estatais”, diz o banco em seu relatório. “O processo de privatização parece estar a avançar, aumentando a nossa confiança”, complementa o texto.

Para o BTG, o preço da ação da Sabesp depois da privatização poderia chegar a R$ 90, valorização de 47% em relação ao preço do último fechamento antes da conclusão do relatório, que foi produzido no início de outubro.

Preço-alvo e recomendação para as ações da Sabesp

Instituição Projeção para as ações da SabespPreço-alvoRecomendação
SantanderAlta de 41%R$ 83,75Compra
BTG PactualAlta de 47%R$ 90Compra
GenialAlta de 11%R$ 66Compra

O que acontece com as ações da Sabesp se a privatização não der certo?

Por outro lado, “em um cenário pessimista, caso o processo de privatização não avance, o potencial de perda seria limitado a algo entre 15 e 25% em relação aos preços atuais”, segundo relatório da Genial Investimentos.

“Deixamos claro que é uma recomendação arriscada, porque depende de um processo que é eminentemente político e legal. Por outro lado, privatizações, na média, são muito interessantes”, diz Vitor Sousa, analista da Genial Investimentos que cobre setor elétrico e de saneamento.  

De acordo com o Santander, além do fracasso da privatização, o que pode alterar o cenário são:

  • Mudança do marco do saneamento no âmbito federal
  • Falta de avanços regulatórios
  • Revisões tarifárias deficientes
  • Melhorias financeiras e operacionais abaixo do esperado

Como ficarão os dividendos da Sabesp com a privatização?

As mudanças com a privatização devem alterar o pagamento de dividendos da empresa, conforme explica o relatório do Santander, assinado pelos analistas Andre Sampaio, Guilherme Lira e Julia Zaniolo.

O investimento de R$ 66 bilhões até 2029 para universalização dos serviços, “no curto prazo, vai afetar o pagamento de dividendos de maneira negativa. Mas é importante mencionar que a Sabesp hoje, do jeito que ela está, já não é uma boa pagadora”, diz Sousa.

Por outro lado, a Sabesp tem hoje ineficiências com impacto de R$ 3 bilhões a R$ 4 bilhões sobre o Ebitda. Assim, a privatização tem o potencial de gerar resultado à medida que a casa for arrumada e, nos médio e longo prazos, aumentar o pagamento de dividendos.

“Hoje, empresas como Sabesp distribuem muito pouco do lucro, exatamente porque existe essa necessidade de investimentos para universalização dos serviços”, diz o analista da Genial.

Para Hulisses Dias, analista independente e mestre em Finanças, os dividendos e JCPs devem reduzir por um período de dois a três anos após a privatização, “até que os efeitos positivos da redução de despesas se tornem palpáveis e a empresa conclua os investimentos que pretende realizar”, acrescenta.

O que muda para municípios e consumidores?

Do ponto de vista dos municípios, o BTG avalia que as atividades de saneamento no estado têm importantes subsídios cruzados. Ou seja, boa parte do valor do serviço é subsidiado, o que seria apagado diante de uma privatização. Isso pode encarecer o serviço, o que é um problema para que as prefeituras passem a apoiar a privatização.

Segundo o banco, o projeto “não seria economicamente viável de forma independente” para alguns municípios, em especial, os menores, “o que provavelmente exigirá aumentos substanciais de tarifas para garantir remuneração e serviços adequados”, alerta o banco.

Assim, a parceria com empresas e outros municípios ajudaria a manter tarifas mais baixas, diz o banco. Os municípios teriam dificuldades de abrir novas licitações, o que pode forçá-los a aceitar a decisão do governo sobre a companhia.

Pontos de atenção

Ainda que a Sabesp se torne uma empresa mais eficiente, isso não significará necessariamente que ela se tornará um investimento melhor, avalia Dias. “O que os investidores devem se perguntar é: o quanto dessa melhora de produtividade já está precificada?”, diz o especialista.

Para ele, o mercado já absorveu boa parte da perspectiva positiva gerada pela provável privatização. “Para um período de cinco a dez anos acredito que a empresa entregará um retorno acima do mercado. Porém, num período mais curto, o melhor momento de entrada já passou”, complementa.

As ações da Sabesp subiram 93% desde 2021, já precificando uma possível privatização desde então, o que aumenta a percepção de precificação já realizada. “Inclusive, é possível que após a privatização, caso de fato ocorra, o preço das ações seja corrigido para baixo. Essa é a natureza do mercado, sobe no boato e cai no fato”, avalia Dias.

Risco de judicialização

A aprovação, se não sair na data imaginada, até dezembro, pode ter resistência em 2024, principalmente por questões políticas relacionadas às eleições municipais. Além disso, há questões jurídicas que podem atrapalhar os planos do governo.  

“Eu não vejo que o cenário hoje seja de segurança jurídica para quem queira se imaginar como investidor numa Sabesp privatizada”, diz Pedro Cortes, professor do Programa de Pós-graduação em Ciência Ambiental do Instituto de Energia e Ambiente (IEE) da USP. O especialista tem acompanhado os desdobramentos políticos de processos de privatização, como os da Eletrobras e, agora, da Sabesp.

“O que eu verifico hoje é que existe uma movimentação de bancadas de partidos que se opõem à privatização e que estão estudando ações a serem tomadas (para barrar a privatização). Ou mesmo já entraram com ações”, ressalta.  

O professor menciona ação movida pelo PT e pelo PSOL no STF e que está sob apreciação do ministro André Mendonça. Os partidos afirmam que o governador Tarcísio de Freitas estaria retirando dos municípios a capacidade de decidir sobre os seus próprios serviços de saneamento. “Uma decisão desse tamanho precisa passar não só pelo prefeito, mas pelas câmaras, e está sendo questionada por muitos vereadores dos mais diversos municípios.”, destaca.

Perspectiva do Itaú BBA para os resultados do 3T23

O Itaú BBA vê a Sabesp como um dos destaques positivos no setor de utilidade pública, em especial, por conta do aumento do faturamento que a empresa deve apresentar no próximo balanço, que será apresentado na quinta (9), devido ao ajuste tarifário, promovido em maio.

Além disso, o banco diz esperar “alguma melhora nas despesas com inadimplência em relação ao trimestre anterior, resultado das iniciativas que a empresa vem realizando nos últimos meses”. Além disso, há reduções de custos relacionadas ao programa de demissão voluntária, mas que deve ser sentido mais intensamente em 2024.