Ações de empresas endividadas devem liderar ganhos na bolsa com a queda da Selic

Com a perspectiva de juros mais baixos, analistas acreditam que a redução dos custos financeiros das empresas seja revertida em ganhos para os acionistas

As ações de empresas com alto endividamento, mas com bom desempenho operacional, devem estar entre as líderes de ganhos na B3 nos próximos meses. Ainda mais com a perspectiva de queda da taxa básica de juros (Selic), os analistas de ações acreditam que a redução dos custos financeiros destas empresas seja revertido em ganhos para os acionistas.

Ações de empresas endividadas dos setores de varejo, educação, imobiliário e aéreo são alguns dos que tendem a refletir mais fortemente a melhora das perspectivas econômicas, quando a taxa básica cair, de acordo com profissionais consultados pela Inteligência Financeira.

O Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central (BC) manteve a taxa de juros em 13,75% ao ano, frustrando quem esperava uma indicação de queda breve. E, apesar do tom do comunicado do Banco Central após a decisão do Copom, mais duro do que o esperado, as projeções do mercado financeiro têm apontado para uma queda na taxa Selic de 0,25% a 0,50% até o final do ano.

Em 2023, até o momento, ações de empresas endividadas – cuja dívida é mais do que o dobro do que geram de caixa em um ano – já estão entre as de de melhor desempenho no Ibovespa, o índice com os ativos mais negociados da B3, como mostra a tabela abaixo.

EmpresaSetorAlavancagem financeira *Performance da ação em 2023**
Yduqs (YDUQ3)Educação3,060%
Azul (AZUL4)Aéreo3,758%
Cogna (COGN3)Educação4,754%
Cyrela (CYRE3)Imobiliário1,269%
Magazine Luiza (MGLU3)Varejo3,747%
MRV (MRVE3)Imobiliário4,056%
Gol (GOLL4)Varejo4,045%
Aliansce (ALSO3)Varejo1,052%

*Medida pela relação entre dívida líquida e Ebitda, com dados do BTG Pactual
**Até 21 de junho

Queda nos custo dos empréstimos

Segundo o chefe de análise da Guide Investimentos, Fernando Siqueira, esse movimento já reflete a sucessão de indicadores econômicos melhores do que as expectativas (emprego, inflação e PIB), o que tende a ser completado com um ciclo de cortes da Selic, e isso na prática diminui o custo dos empréstimos que as empresas tomam para investir e futuramente remunerar os acionistas.

“As empresas foram penalizadas nos últimos dois anos pelos juros altos e resultados fracos”, afirmou Siqueira em relatório, citando 25 empresas, incluindo os nomes acima. “Acreditamos que nos próximos meses a maré irá virar a favor das empresas endividadas, uma vez que com juros em queda, o potencial de crescimento dos lucros destas empresas é maior”.

De fato, um levantamento feito pelo Trademap a pedido da IF, mostra o efeito somado do aumento dos juros sobre os indicadores de dívida bruta e líquida e do caixa de 391 empresas listadas na B3, excluindo Petrobras. Os números estão em bilhões de reais.

Resultados operacionais fortes

Mas só o alto endividamento não é garantia de que a ação vai performar bem, mesmo com os juros em queda aliviando o custo financeiro, disse Luan Alves, analista-chefe da VG Research. “Os papéis que têm tido os melhores desempenhos e que devem seguir assim são de empresas que já vinham tendo resultados operacionais fortes, que vinham sendo comidos pelo pagamento de despesas financeiras elevadas”, disse ele, citando como exemplos companhias de educação.

Foi com essa percepção que o Bank of America elevou nesta quarta-feira (21) a recomendação para a ação da Yduqs (YDUQ3). Com o título: “A primeira onda se foi, a segunda está porvir”, o relatório do banco alega que o cenário econômico mais positivo vai dar vazão aos resultados operacionais da empresa.

O mesmo fizeram BTG Pactual e Santander Brasil recentemente ao reforçarem recomendação para MRV.

Azul (AZUL4) e Gol (AZUL4), que devem se beneficiar duplamente da queda de Selic e do dólar, que referencia a dívida em moeda estrangeira de ambas, também receberam avaliações positivas de casas de investimentos após divulgarem seus resultados operacionais até maio.

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