Vítimas de pirâmides financeiras têm mais chance de cair em novos golpes, aponta pesquisa da CVM/FGV

Estudo entrevistou 1.377 pessoas, que também demonstraram maior inclinação a convidar novos investidores para os esquemas fraudulentos

Vítimas de pirâmides financeiras têm mais chance de cair de novo no golpe. Elas são são mais propensas a investirem novamente em esquemas irregulares e de alto risco do que quem nunca caiu em golpe algum. Essa é a conclusão da pesquisa divulgada nesta quinta-feira (11) pela Comissão de Valores Mobiliários (CVM), feita em parceria com a Fundação Getúlio Vargas (FGV).

O objetivo do estudo, realizado com 1.377 investidores, foi analisar o efeito da percepção de risco na tomada de decisão em investimentos com características semelhantes a pirâmides financeiras. Ao contrário do que se pode imaginar, as possíveis vítimas de esquemas fraudulentos não são pessoas inexperientes ou pouco instruídas. A idade média dos entrevistados foi de 43 anos, com pós-graduação completa e renda média familiar de R$ 19.393, o equivalente a 13,7 salários mínimos.

Aliás, se você foi vítima de um esquema de pirâmide financeira, leia nosso texto Como sair de uma pirâmide financeira?.

Criptomoedas como isca

Os pesquisadores apresentaram investimentos fictícios, entre os quais criptomoedas, para medir a propensão a investir e convidar novos participantes. Os entrevistados podiam escolher entre 4 tipos de aplicações financeiras, sendo duas regulares e duas irregulares, de baixo e alto risco.

Além disso, o estudo também avaliou características da personalidade, numa tentativa de entender como os golpistas se aproveitam de vieses psicológicos para angariar novos investidores.

Ao final, concluiu-se que indivíduos que já foram vítimas de pirâmides financeira têm mais chance de cair de novo nos golpes. E eles também demonstraram maior inclinação a convidar novos investidores para os esquemas fraudulentos.

O incentivo a convidar amigos ou conhecidos a investir é uma das principais características do esquema de Ponzi, outro nome dado às pirâmides financeiras.

Apetite por risco e falta de educação financeira

De acordo com os pesquisadores da Escola Brasileira de Administração Pública e de Empresas da Fundação Getúlio Vargas (FGV-EBAPE), Matheus Moura e Ricardo Lopes Cardoso, uma possível explicação para essa inclinação é a predisposição das vítimas em investir em esquemas de alto risco.

Já o inspetor Philip Silberman, da Gerência de Educação e Inclusão Financeira da CVM, acredita que a propensão a aceitar esquemas fraudulentos pode estar relacionada à falta de conhecimento do funcionamento do mercado financeiro, bem como de parâmetros econômicos básicos.

“Este desconhecimento torna o investidor propenso a acreditar em retornos irreais uma vez que lhe faltam ferramentas de comparação que ajudem seu julgamento. A solução só pode vir com a educação financeira maciça da população”, diz.

Acesse o relatório na íntegra e confira os resultados do estudo.

Crime já lesou milhões de brasileiros

De acordo com o deputado Aureo Ribeiro, que presidiu a Comissão das Pirâmides Financeiras, milhares de brasileiros de todas as classes sociais são lesados por esquemas de pirâmides. Segundo ele, apenas os crimes investigados na CPI são da ordem de R$ 100 bilhões e prejudicaram cerca de quatro milhões de brasileiros.