Chegamos à metade de junho e até agora nada de recessão nos EUA, o S&P500 sobe cerca de 13% desde janeiro e falamos em fim do ciclo de aperto monetário. É um 'turning point' da economia?
O ano de 2023 tem sido de reversão daquilo que vimos ao longo de 2022. O corolário do ano anterior foi: inflação alta, economia desacelerando, necessidade de aumentos de juros e especulações de até onde esse aumento iria. Tudo isso fez com que 2022 fosse um ano onde tanto ações quanto a renda fixa performassem muito mal. Começamos 2023 com a “virtual certeza” de que teríamos uma recessão nos EUA. Afinal de contas, 10 dos últimos 13 ciclos de aperto monetário terminaram com uma recessão nos EUA. E agora, qual é a percepção do mercado?
Chegamos à metade de junho e até agora nada de recessão. E mais, falamos com mais frequência em fim do ciclo de aperto monetário e um turning point na economia.
Pois bem, nessa semana que passou o mercado entrou no chamado bull market, expressão usada para quando o conjunto dos investimentos sobe mais de 20% desde a mínima, contrariando todos os prognósticos mais negativos.
Você tem um universo paralelo de grande parte do índice S&P500 que até aqui não apresentou a mesma performance. Enquanto o S&P500 sobe cerca de 13% desde janeiro, ações do setor de petróleo, bancos ou saúde tiveram altas modestas ou mesmo quedas. O índice das Small Caps até poucos dias estava no zero a zero no ano.
O jogo virou?
A justificativa? Diria que é normal acontecer um “rotation” setorial após as fortes altas que vimos nas ações de tecnologia.
Veja que, diferentemente do S&P500, os índices de small e mid caps ou S&P Equal Weight (ou seja, todas ações com o mesmo peso no índice), negociam a múltiplos descontados das suas médias de 20 anos. Então, o mercado parece migrar para aqueles setores que apresentam ações mais descontadas.
É difícil dizer se continuaremos a ver isso, mas estou aqui trazendo um insight do que tenho observado do mercado. Repito, o mercado parece migrar para setores que apresentam ações mais descontadas.
Mas e a economia?
É interessante que o desempenho do mercado muitas vezes “descola” daquilo que a realidade econômica sugere. Apesar de alguns dados mais fortes que o esperado nas últimas semanas, ainda existem vetores de preocupação acerca da evolução da economia.
Vimos que os pedidos de seguro desemprego que foram divulgados atingiram o maior nível desde outubro de 2021. A percepção ou a confiança do setor industrial com a economia atingiu o menor nível desde 2020. Não obstante, os pedidos de financiamento imobiliário se encontram nos menores níveis em anos, com as taxas de juros mais altas e o volume de vendas de casas caiu fortemente. Além disso, seguimos vendo análises e indicadores que apontam para a probabilidade de recessão nos EUA.
O ponto central aqui parece ser a defasagem de impacto de política monetária na economia. A ANZ Research analisou a evolução dos gastos dos consumidores em bens e serviços nos meses seguintes ao primeiro aumento da taxa do Fed, usando dados desde 1967 e excluindo o ciclo atual.
Em média, o crescimento anual dos gastos tende a atingir o pico de 15 a 18 meses depois que o Fed começa a aumentar as taxas e tende a desacelerar nos 15 meses seguintes.
O que esse tipo de análise sugere é que parece ser uma questão de tempo até que o impacto seja percebido pela economia real. E isso casa com pesquisa recente do Deutsche Bank acerca das expectativas sobre a recessão.
Conclusão: mais e mais vemos tais expectativas migrarem para o primeiro semestre de 2024.