O bear market faz bem à infraestrutura Web3

Ao acessar a internet, é muito provável que você não se importe com DNS, IPv6, IPv4, gateways e outras questões técnicas. Tá certo! O que interessa é a aplicação prática

Hoje, esse é o maior gargalo da Web3. É necessário certo nível de conhecimento técnico para interagir com as soluções disponíveis, algo que prejudica a experiência do usuário. Além disso, a auto custódia acaba deixando de ser algo positivo e passa a ser um terror constante. “Se perder minhas chaves privadas, perco todas as minhas criptomoedas.”

O ponto é: para que a Web3 prospere, o usuário não deve ficar se perguntando o que está acontecendo. Ele deve utilizar, e só. Felizmente, o ciclo de baixa do mercado de criptomoedas tem feito com que os desenvolvedores se preocupem menos com preços, e mais com infraestrutura. O ‘bear market’, como esse período é chamado, tem feito muito bem à Web3.

Nomes, não números

O mundo descentralizado, na prática, assusta. Pessoas deixam de ter nomes e passam a ser um aglomerado de números e letras, que representam os endereços de suas carteiras. Caso você troque uma letra maiúscula por uma minúscula ao enviar criptomoedas a um amigo, perderá o valor enviado. Não há volta.

Essa possibilidade assusta, principalmente quando somada a novos conceitos que precisam ser aprendidos, a preços, a tokens, a plataformas. A descarga de informação é alta e, muitas vezes, um potencial novo usuário da Web3 simplesmente opta por continuar usando as plataformas que sempre utilizou.

Para tornar essa interface inicial mais amigável, foi criado o Ethereum Name Service, ou ENS. O aglomerado de letras e números é substituído por um nome que faça sentido, com o sufixo “.eth”. Eu, por exemplo, sou andrefranco.eth na Web3.

Embora isso pareça pequeno para quem já é investidor de criptomoedas e interage com esse mercado há algum tempo, o ENS torna muito mais prática a entrada na Web3. Esse conceito, inclusive, já está sendo aproveitado em aplicações da indústria blockchain, como o Lens Protocol.

Tudo em um só lugar

A Web2 é a fase atual da internet, dominada pelas grandes empresas de tecnologia, as big techs. Elas pegam seus dados, sabem tudo da sua vida, e isso é péssimo. Mas, ao mesmo tempo, é cômodo. Com apenas uma conta do Google, é possível acessar praticamente qualquer serviço na internet.

O equivalente disso na Web3 está sendo desenvolvido pelo Lens Protocol, um projeto focado nas relações sociais descentralizadas. Com apenas uma conta, é possível acessar diferentes redes sociais, sem a necessidade de lembrar dados de login para cada uma delas. Outro ponto positivo é que o Lens já emprega o sistema de nomes, semelhante ao ENS.

Este apelo às redes sociais é um case muito favorável à Web3, pois é muito difícil conhecer alguém hoje, com menos de 40 anos, que não interaja com alguma rede social. No ano passado, o Instagram passou dos dois bilhões de contas ativas. E o Lens influencia diretamente esse setor ao oferecer uma solução melhorada para as interações sociais feitas online, inserindo a Web3 em um contexto amigável.

O Lens, porém, não resolve todos os problemas. Aprovar transações na carteira a cada movimentação feita dentro de um ambiente descentralizado, por exemplo, é uma obrigatoriedade nociva à experiência do usuário.

A boa notícia é que desenvolvedores já estão trabalhando em uma solução para isso.

Por baixo do capô não interessa

Usar a internet é sinônimo de clicar em algo e executar uma ação. Pode parecer estranho para alguém novo na Web3 que, ao tentar realizar uma ação clicando em um botão, nada aconteça. Após quase um minuto, o usuário novato nota um ícone no topo do navegador, que geralmente é uma raposa com o número um ao lado.

O que eu acabei de descrever é o processo de aprovar transações. Como você pode imaginar, isso pode atrapalhar muito a fluidez na hora de interagir com aplicações da Web3. Esse é um dos problemas resolvidos pelo account abstraction.

Sem incorrer na ironia de ser técnico demais em um texto sobre simplificação, o account abstraction muda, na prática, a forma como desenvolvedores podem programar plataformas. Atualmente, o modelo no qual as interações entre carteiras são baseadas é limitante, impedindo que experiências mais agradáveis aos novos usuários sejam criadas.

Recuperar a chave privada, evitar aprovações de transações a todo instante e ter saldo em criptoativos para realizar algumas interações são algumas possibilidades nesse novo modelo para criação de carteiras.

Juntas, as três soluções mencionadas aqui têm o potencial de fazer com que novos entusiastas da Web3 usem aplicações desse ecossistema como usam a internet. Basta conectar uma conta, que não é mais um amontoado de letras e números, e desbravar esse novo mundo.