Como reequilibrar as contas sem mexer nos investimentos nem recorrer a empréstimos

Uma medida é olhar para o orçamento no começo do mês, não no final
Pontos-chave:
  • Especialista recomenda racionalidade na hora de avaliar o que é possível cortar
  • É fundamental ter uma noção de como o dinheiro vai ser usado assim que ele entra na conta

A pesquisa Raio X do Investidor Brasileiro, realizada pela Anbima em parceria com o Datafolha, apontou que mais da metade da população (54%) precisou de dinheiro para alguma emergência no ano passado. O levantamento indicou também que, na hora do aperto, as pessoas buscaram recursos prioritariamente em aplicações financeiras ou se endividando.

Nas classes A e B, conforme a sondagem, 45% dos entrevistados sacaram dinheiro de investimentos ou de outras reservas que tinham antes da pandemia de covid-19. Já o cheque especial, o limite dos cartões de crédito e até novos empréstimos foram a segunda principal ferramenta financeira (28%) para casos de urgência. O comportamento da classe C foi parecido, em que 43% sacaram alguma aplicação, enquanto 28% preferiram entrar no cheque especial ou usar o cartão de crédito.

Os impactos da pandemia

A necessidade de dinheiro para situações inesperadas foi motivada principalmente pela continuidade dos impactos negativos da pandemia no orçamento doméstico. Apesar da retomada das atividades com o avanço da vacinação, o cenário segue delicado. Dois importantes termômetros do mercado de trabalho têm captado uma melhora gradual do emprego, mas com uma piora dos salários. Na PNAD Contínua, do IBGE, a renda salarial média (R$ 2 489) é a segunda mais baixa desde janeiro de 2012. Já no quadro acompanhado pelo Caged, do Ministério do Trabalho, a média salarial (R$ 1 878,66) das vagas com carteira assinada abertas em fevereiro deste ano ficou R$ 61,14 menor em relação a janeiro.

Quando ligar o alerta do aperto financeiro?

Quem não quer colocar os investimentos em risco ou recorrer a empréstimos, especialmente no atual momento de encarecimento dos juros, precisa estar atento aos sinais de que está gastando mais do que ganha. A planejadora financeira Vivian Rodrigues, criadora da empresa Papo de Valor, destaca que o uso excessivo do cartão de crédito pode ser um forte indício de que as coisas não vão bem.

“Usar o cartão de crédito como necessidade para fechar as contas do mês é uma das principais evidências de que se está além de um padrão de vida possível”, afirma. “Principalmente quando vem atrelado a muitos parcelamentos. Porque a pessoa está adiando o pagamento de algo que está querendo usufruir agora, mas não tem todo o dinheiro que a sua condição financeira permite”, acrescenta.

Readequando o padrão de vida

Voltar a ter controle das contas, para não cair em um aperto maior e ter que usar as reservas financeiras, passa por ter consciência do que está sendo feito com o dinheiro, avalia Vivian Rodrigues. A especialista sugere olhar o orçamento doméstico no começo do mês – e não no final, como muita gente faz para tentar entender a origem do problema. “É fundamental ter uma noção de como o dinheiro vai ser usado quando entra na conta. Assim, a pessoa pode direcionar melhor os recursos conforme as prioridades do mês, entre gastos fixos, despesas variáveis, investimentos e outros projetos dela”, diz.

Seja racional

Cortar custos colabora com o processo de ajuste do padrão de vida, mas a planejadora financeira recomenda racionalidade antes de tomar medidas radicais. “É importante enxergar antes de tudo os gastos que a pessoa tem atualmente para tentar estabelecer pontos de controle e ver se é viável reduzir um pouco de cada coisa”, comenta. Assim, ela aponta que fica mais fácil identificar o que pode ser revisto, sobretudo planos de TV por assinatura, de internet ou serviços de streaming, por exemplo.

Defina valores para os gastos

Também é possível definir um valor disponível semanalmente para gastos flexíveis, como refeições fora de casa ou programas de lazer. “O lado emocional precisa ser levado em consideração. Cortar drasticamente esportes, alimentação saudável, uma terapia ou atividades que fazem bem pode trazer um outro tipo de prejuízo na rotina. É melhor olhar para um campo mais amplo e abrir mão de coisas que impactam menos a vida”, aconselha.

O que não fazer

O que não pode, na avaliação de Vivian Rodrigues, é tentar empurrar o abacaxi para frente, na esperança de que uma solução para a dificuldade financeira apareça naturalmente. “Isso não muda o fato de que a pessoa vai ter que lidar com o problema. Não pode cair na ilusão de que vai ter uma disciplina de uma hora para outra para economizar e ficar mais fácil de se resolver. O risco é criar uma bola de neve e deixar o quadro cada vez mais fora de controle”, completa.