Quer saber como organizar a vida financeira e sair das dívidas? Aqui está o passo a passo

10 coisas bem práticas que você pode fazer ainda hoje para sair da lista dos 70 milhões de brasileiros inadimplentes

Você tem contas atrasadas? Seu nome já está na lista da Serasa? E sabe como organizar a vida financeira? Sabemos que essas perguntas podem ser incômodas, mas é preciso falar sobre isso – sem julgamentos.  

Sabe por quê? Porque, neste momento, mais de 70 milhões de brasileiros estão inadimplentes. É um número recorde. Desde que a Serasa Experian faz esse estudo, nunca houve tanta gente nessa situação.

A boa notícia, porém, é que existem formas de sair da inadimplência. E nós, da Inteligência Financeira, fomos atrás delas. O resultado é um passo a passo detalhado para você organizar o pagamento das dívidas.

Quem consultamos

Para desenvolver este material, consultamos um time de especialistas. Eles são: Claudia Ramenzoni Izzo, co-autora do livro Independência Financeira ao alcance das mãos, Marlon Glaciano, especialista em finanças e planejador financeiro, Paula Bazzo, Planejadora Financeira CFP pela Planejar (Associação Brasileira de Planejamento Financeiro) e Tay Rodrigues, especialista em finanças pessoais.

Preparado para começar? Então, é para já. Vamos respirar fundo, tomar coragem e seguir a leitura.

O que é ser inadimplente?

Em primeiro lugar, é importante entender o que é de verdade a inadimplência, que tanto a gente ouve falar.

“A inadimplência é caracterizada pela falta de pagamento dentro do prazo estabelecido”, define Tay Rodrigues, especialista em finanças pessoais da Guide Investimentos.

Mas quando você pode ser considerada uma pessoa inadimplente?

Bem, de forma bem simples, inadimplente é alguém que tem uma dívida em atraso. Ou várias atrasadas.

Por isso, se você estiver com alguma conta pendurada – pode ser boleto do condomínio, mensalidade da escola ou financiamento da casa – você está inadimplente em relação a essa dívida.

O que acontece com o inadimplente?

A inadimplência pode causar diversos problemas. Aqui, vamos nos concentrar nos principais deles para você entender por que é importante organizar as dívidas e sair dessa situação.

Cobranças 

“Primeiramente, a pessoa inadimplente tem de lidar com todo processo de cobrança, que envolve ligações, mensagens e cartas”, lembra Marlon.

Nome sujo

Além disso, claro, existe a questão de “sujar o nome”. E o que isso quer dizer, na prática?

Ter o “nome sujo” significa estar com o nome registrado em serviços de proteção ao crédito.

E qual é o grande problema disso? “O problema mais imediato é ter uma redução do score de crédito, que é um indicador do quanto a pessoa é boa pagadora (ou não)”, explica Paula.

A queda dessa pontuação pode fazer com que você tenha mais restrição para conseguir crédito, com menos ofertas e condições mais duras, com taxas e multas maiores, por exemplo.

Muitas pessoas que estão com nome sujo acreditam que seja uma boa estratégia esperar a dívida caducar depois de cinco anos.

Se você pensa assim, preste atenção, porque essa pode ser uma decisão equivocada. Considere que, enquanto não for paga, a dívida vai continuar crescendo, com cobrança de multas e juros.

Além disso, mesmo que ela não possa mais negativar o seu nome depois desse prazo, ainda poderá ser cobrada informalmente.

E tem mais: se a dívida for com banco ou cartão de crédito, você pode continuar tendo problemas para abrir conta, conseguir empréstimo ou qualquer outro serviço de instituições financeiras.

Isso porque as dívidas (mesmo prescritas) podem ser consultadas no Registrato, que é o sistema do Banco Central. Ou seja, os bancos continuarão tendo acesso a essa informação mesmo que seu nome não esteja mais “sujo”.

Acúmulo de dívidas

Outra consequência de estar inadimplente é o acúmulo de dívidas ao longo do tempo. “Os juros e as multas podem aumentar o valor total da dívida, tornando ainda mais difícil para a pessoa pagar tudo de uma vez”, afirma Tay.

O pensamento de que é melhor aguardar a dívida caducar é equivocado e não é uma boa decisão para a vida financeira.

Justiça

Além disso, existe ainda a possibilidade de a pessoa sofrer ações legais por parte do credor para reaver o valor devido.

Problemas de saúde

No meio dessa confusão toda, também é comum que a pessoa tenha dificuldades emocionais, ansiedade, perda de produtividade, insônia.

Ou seja, sair da inadimplência é primordial para a saúde financeira, física e mental. E existe saída, viu? Vamos lá entender como organizar a vida financeira e sair das dívidas.

Como organizar a vida financeira e sair das dívidas

Agora chegamos ao passo a passo para você organizar as dívidas e sair da inadimplência.

Adiantamos que o caminho pode não ser muito fácil (de verdade não existe fórmula mágica), mas ele existe e você pode começar a dar os primeiros passos.

1. Faça uma lista com todas as suas despesas

Sim, precisamos começar do começo. Claro que não é uma tarefa agradável, mas este primeiro item é essencial para sair das dívidas.

“Para se organizar, uma pessoa inadimplente precisa ter clareza do seu atual cenário financeiro”, alerta Marlon.

Portanto, coragem!

Faça uma lista no papel, no computador, no celular, onde preferir.

É preciso considerar tudo o que você e sua família gastam, incluindo desde despesas essenciais (claro) até juros das dívidas que você não está conseguindo pagar.

2. Categorize suas despesas em obrigatórias e não-obrigatórias

Feita a lista, Marlon sugere que você classifique suas despesas, dividindo os itens da lista entre despesas obrigatórias e não obrigatórias.

Despesas obrigatórias são aquelas que você não consegue abrir mão de um dia para outro. Financiamento, aluguel, condomínio, alimentação essencial, por exemplo.

As não obrigatórias são aquelas que você pode cortar sem perder a dignidade e sem ficar inadimplente.

Você não pode simplesmente não pagar a mensalidade da escola ou faculdade porque vai cair na inadimplência.

E que tipo de despesas estão relacionadas à sua dignidade? O essencial de alimentação, bebida, transporte, saúde, vestuário.

Entendeu a diferença? Bora organizar a lista.

3. Avalie quais despesas você pode cortar ou ajustar

Depois que tiver cumprido o item 2, tenha coragem para enxergar onde você pode cortar custos com despesas não obrigatórias. Pelo menos até que suas contas estejam em ordem novamente.

Pedir comida pronta ou comer fora de casa, pagar estacionamento no shopping, comprar uma roupa nova (que você não precisa). Crie a sua lista.

No entanto, nessa nova organização, não esqueça de priorizar gastos que possam ser fontes de renda para a família.

Se alguém trabalha online, cortar custos com internet pode não ser a melhor alternativa. A mesma regra vale para quem usa o carro para gerar renda.

“É importante montar um novo orçamento e ter metas claras que a família deve atingir”, diz Claudia.

Mas não vale ficar só papel, ok? É preciso colocar em prática e se manter fiel a esse planejamento.  

Uma dica: antes de sair de casa, defina quanto você pode gastar. E não ultrapasse esse limite, ok?

4. Faça uma lista das dívidas e entenda a taxa de juros de cada uma

Agora entramos em uma parte mais técnica.

Faça uma lista de todas as suas dívidas (cartão de crédito, cheque especial, financiamento de carro ou casa, prestação do celular, tudo mesmo) e entenda qual é a taxa de juros efetiva de cada uma.

Organize a lista colocando no topo aquelas dívidas que têm as maiores taxas de juros. Faça um ranking mesmo, da maior para a menor taxa de juros.

É importante ter essa informação porque quanto mais juros tiver uma dívida, maior ela será. “Por isso as dívidas que tiverem juros maiores precisam ser priorizadas”, alerta Tay.

5. Tente negociar as dívidas com o(s) credor(es)

O passo seguinte é entrar em contato com os credores para tentar renegociar as dívidas.

Siga a dica de Tay e comece as tentativas de renegociação pelo topo da lista que você criou no item 4.

Se a dívida estiver com o banco, entre em contato com seu gerente para falar sobre possibilidade de renegociação. Em geral, nessa situação, os bancos podem oferecer produtos com taxas de juros mais baixas e prazos de pagamento mais longos.

E tem outra vantagem: existe a possibilidade de limpar o seu nome até cinco dias depois dessa renegociação. Mesmo antes de você quitar toda a dívida.

Sabemos que pode não ser a tarefa mais agradável de fazer, mas ela é muito importante neste momento em que você tenta cortar gastos de todas as formas.

Importante você saber que o credor vai te ouvir e ser receptivo. Se possível, vá para a reunião com uma proposta factível para o pagamento da dívida.

6. Pesquise a possibilidade substituir crédito caro por crédito mais barato

Nessas tentativas de negociação, a ideia é pesquisar possibilidades para trocar um crédito mais caro e por um mais barato.

Existe isso? Com certeza existe – e entender como funciona é parte fundamental deste processo de organização das dívidas.

“Se você com dívidas que possuem altas taxas de juros, como cartão de crédito ou empréstimos pessoais com taxas elevadas, é possível buscar um novo empréstimo com taxas mais baixas para substituir essas dívidas mais caras”, diz Tay.

E qual é a diferença entre as taxas de juros? “O cartão de crédito pode chegar a ter 14% de juros ao mês”, alerta Paula. Os juros mensais do cheque especial ficam em média em 8%. “Aquele crédito que a gente pega no aplicativo está em média em 5,5%”, diz ela.

Por outro lado, ela destaca, o crédito consignado, aquele que é descontado da folha de pagamento, gira em torno de 2,5% ao mês. Como ele tem características próprias, é importante saber se você tem essa modalidade disponível para contratação.

7. Calcule o que vale mais a pena para você

Para decidir se vale a pena substituir um crédito por outro, é preciso tomar alguns cuidados e fazer cálculos.

Vamos aos principais passos que você deve seguir para tomar uma decisão consciente:

Avalie sua capacidade de pagamento

Antes de assumir o compromisso, você precisa ter certeza de que pode arcar com os pagamentos mensais do novo empréstimo, além de lidar com outras despesas e obrigações financeiras.

Compare as taxas de juros…

… os termos e as condições oferecidas por diferentes instituições financeiras. “Assim, você pode escolher o crédito que oferece as condições mais favoráveis e adequadas à sua situação”, diz Tay.

Compare as taxas de juros do novo crédito com as taxas de juros das dívidas existentes

Calcule o custo total de cada operação ao longo do tempo. “Assim, você consegue analisar se o novo crédito tem uma taxa de juros significativamente mais baixa do que suas dívidas atuais para descobrir se há uma economia substancial em termos de pagamentos de juros”, lembra Tay.

Observe se a taxa de correção de juros é variável ou fixa

“Sempre opte por taxas fixas para ter previsibilidade do seu compromisso”, sugere Marlon.

Busque instituições regulamentadas e qualificadas para não cair em golpes

Não custa lembrar que dinheiro fácil não existe.

Claro que quando estamos nos afogando em dívidas, todo dinheiro pode parecer uma boia de salvação. Mas, veja bem: a ideia é resolver o problema e não trocar um problema por outro, certo?

8. Avalie a possibilidade de refinanciamento de bens

Se você estiver muito atolado em dívidas, existe ainda a opção de fazer refinanciamento de um imóvel ou veículo.

“Essa estratégia pode diminuir o peso da dívida do mês a mês e dar um pouco mais de fôlego para o orçamento doméstico”, afirma Paula.

Neste caso, mais uma vez, é preciso prestar atenção nas condições que serão oferecidas e fazer os cálculos para saber se vale a pena seguir por este caminho.

O passo a passo do item anterior pode ser utilizado aqui, ok?

9. Considere a necessidade de vender bens

Eventualmente, dependendo da situação, pode ser o caso de vender bens. Claro que ninguém quer isso. E nem todo mundo precisa de fato tomar essa atitude.

“A decisão de vender um bem, como um imóvel ou um carro, para pagar dívidas deve ser tomada em certas situações específicas”, afirma Tay.

Essas situações ocorrem quando você está enfrentando dívidas excessivas e tem muita dificuldade de honrar os pagamentos mensais, por exemplo.

A alternativa também pode ser considerada se você estiver pagando uma alta taxa de juros, como dívidas no cartão e empréstimos pessoais, e não conseguir um tipo de crédito mais barato para fazer a troca sugerida no item 6.

Nesses casos, é preciso reduzir o padrão de vida o mais rápido possível. “Você pode pensar em mudar para um imóvel menor, trocar o automóvel por um mais simples ou até ficar sem, se ele não for essencial para gerar renda”, afirma Claudia.  

E se o bem estiver financiado?

Aí a situação fica mais complexa – mas ainda tem solução, calma.

A recomendação da especialista Tay é considerar estes pontos na hora de negociar um bem financiado:

  • Se o bem ainda estiver financiado, a venda deve cobrir o valor pendente do empréstimo;
  • Antes de vender, entre em contato com o banco ou a instituição financeira responsável pelo financiamento para obter o valor exato necessário para quitar o empréstimo;
  • Alguns financiamentos podem ter cláusulas que exigem o pagamento de penalidades ou taxas adicionais, caso o empréstimo seja liquidado antecipadamente. É importante verificar as condições do contrato de financiamento para entender esses custos adicionais e levá-los em consideração nessa decisão;
  • Por último, avalie o mercado para ter uma ideia realista do valor que pode ser obtido com a venda. Isso evita você fazer um mau negócio por conta da pressa e do sufoco.

10. Mude seu comportamento

Agora chegamos ao ponto mais complexo para a maioria das pessoas: a mudança de comportamento.

Exceto para quem sempre teve bons hábitos financeiros e entrou na inadimplência porque passou um longo período desemprego ou teve emergência em família, por exemplo, esta etapa é essencial para sair da inadimplência – e não voltar a ela.

Sem mudar a forma como você lida com finanças e consumo, toda a estratégia que desenhamos até aqui pode ir por água abaixo. E o ciclo de endividamento pode se repetir.

“Uma dica para organizar sua vida financeira daqui para frente é utilizar o método 50-30-20”, afirma Tay.

Funciona assim:

  • 50% da sua renda deve ser destinada a despesas essenciais, de sobrevivência;
  • 30% vão para despesas livres, aquelas opcionais, comprar uma roupa mais cara (que não é necessária), jantar fora, viajar nas férias;
  • 20% da renda você usa para quitar as dívidas e, depois, criar uma reserva de emergência.

“Em linhas gerais, para evitar a inadimplência, estabeleça um orçamento detalhado para controlar suas despesas e receitas mensais”, diz ela. “Isso ajudará a ter uma visão clara do seu fluxo de caixa e tomar decisões mais conscientes”, complementa.