Quer viver de renda? Saiba como fazer os juros trabalharem por você

Qualquer pessoa pode viver de rendimentos, desde que siga uma boa estratégia

Pergunta rápida: você gostaria de passar anos vivendo de renda? Se a resposta for sim, saiba que, provavelmente, muitas pessoas também têm o mesmo sonho. Diante disso, as próximas questões são: de quando dinheiro você precisa? E quando você pretende fazer isso?

Para Nélio Costa, head de planejamento financeiro da Nord Research, essas são perguntas essenciais para quem realmente quer ter uma renda passiva no futuro. Nada de sonho! Estamos falando mesmo de planejamento, cálculos e mix de investimentos.

Nesta entrevista, o especialista mostra o caminho das pedras e sinaliza que qualquer pessoa pode percorrer essa estrada (desde que tenha tenho e foco no seu objetivo). Confira!

Como começar a se organizar para viver de renda?

O investidor precisa ter clareza de quanto custa o seu objetivo, ou seja, quanto dinheiro ele realmente precisa todos os meses para viver.

Se você necessita de R$ 10 mil por mês, tem de ter uma carteira que renda esse montante mensalmente, já descontados inflação e imposto de renda.

Quanto é preciso para passar anos vivendo de renda?

Para começar, vamos considerar que 0,4% ao mês seja uma rentabilidade razoável líquida. Isso daria algo próximo a 5% de ao ano.

Fazendo as contas, se ele precisa de um rendimento de R$ 10 mil por mês, precisaria de R$ 2,5 milhões investidos para viver de renda e pagar suas contas.

E qual é o passo seguinte?

Definindo esse objetivo, o próximo passo é correr atrás dele. O investidor precisa se planejar para conseguir ter os R$ 2,5 milhões daqui a 5 ou 10 anos, por exemplo, partindo do patrimônio que ele tem hoje.

Se tem R$ 1 milhão hoje e precisa de R$ 2,5 milhões, é preciso projetar quanto sua carteira vai render e considerar quanto ele ainda precisa investir para que, em determinado prazo, tenha o valor total investido.

É muito complicado fazer esse cálculo?

Depende, porque existem duas formas principais de fazer esse cálculo. A primeira forma é a de perpetuidade.

Nela, o patrimônio se mantém perpetuamente, ou seja, o investidor vai vivendo dos rendimentos e deixa o patrimônio para a próxima geração.

Essa é uma conta simples de fazer. É preciso considerar uma rentabilidade real líquida (entre 0,35% ou 0,4%) e dividir seu custo de vida por ela.

O cálculo é R$ 10 mil (do custo de vida) divididos por 0,4% (da rentabilidade líquida). O resultado é R$ 2,5 milhões.

A segunda forma considera que o investidor consuma o patrimônio. Ou seja, mensalmente ele retira mais do que a rentabilidade líquida até zerar totalmente o patrimônio.

Esse cálculo é mais complexo e precisa da ajuda de uma planilha ou calculadora financeira para considerar as 5 variáveis que estão sempre ligadas:

  1. Patrimônio atual, que é quanto você precisa ter para começar a viver de renda;
  2. Patrimônio final, que é zero, já que o objetivo é zerar esse montante;
  3. Prazo em que esse patrimônio será consumido, que é a estimativa de tempo que você deve viver com rendimento e consumo do patrimônio. Se você tem 60 anos, por exemplo, pode projetar 30 anos para considerar que o dinheiro vá durar até 90 anos.
  4. Rentabilidade real líquida;
  5. Valor dos saques mensais.

Qualquer pessoa pode passar um tempo vivendo de renda?

Cada planejamento é único e, portanto, precisa ser avaliado caso a caso. Ainda assim, de forma geral, a resposta é sim.

Mesmo quem não é um grande investidor e não poupou a vida inteira consegue viver de renda desde que ainda tenha tempo e recursos para poupar.

Quando começar a se programar para viver de renda passiva?

É o horizonte de tempo que a pessoa tem para poupar. Se com 30 anos você começar a poupar para os 60 anos, dá tempo. Se começar com 35, talvez dê tempo também.

Agora, se você estiver com 55 anos e quiser começar a poupar para viver de renda a partir dos 60, não dá tempo.

Mas se a pessoa tiver 50 anos e quiser parar de trabalhar com 75, ela pode conseguir.

É mais uma questão do horizonte de investimentos do que da idade em si, entende?

Como tornar viável viver de renda no futuro?

Quem quer viver de renda passiva precisa considerar que a liberdade financeira tem um custo.

É impossível que alguém que poupa R$ 100 por mês junte 2,5 milhões em 20 anos. Mas alguém que poupa R$ 1,5 mil ou R$ 2 mil pode muito bem juntar R$ 2,5 milhões daqui a 35 anos.

Qual é o perfil ideal para quem quer viver de renda passiva?

Meu ímpeto é responder que uma pessoa jovem consegue viver de renda. Alguém que esteja começando a vida agora, com seus 20 e poucos anos, que leia esta entrevista e comece a se disciplinar vai conseguir viver de renda.

Mas claro que cada caso é um caso. Depende de quanto a pessoa ganha e de quanto ela consegue poupar por mês.

Não é realista dizer que um jovem que ganha R$ 1,5 mil por mês e precisa de R$ 1.490 para viver e pagar o básico possa viver de renda no futuro apenas por ser jovem.

De maneira geral, então, o perfil ideal é uma pessoa jovem que tenha capacidade de poupança de 10% a 15% da sua renda. Essa pessoa vai conseguir viver de rendimentos no futuro.

E qual o perfil mais improvável ou impossível?

O perfil impossível é o oposto: alguém com 55 anos que queira parar de trabalhar com 60, não tenha como poupar muito e ainda não tenha patrimônio.

Ou seja, horizonte de investimento curto, com pouco patrimônio e pouca capacidade de poupança. É um perfil impossível.

É seguro viver de rendimentos?    

Sim!!! Viver de rendimentos é seguro. O que existem são riscos. Por exemplo, de a pessoa não cuidar bem do seu patrimônio, que pode ser arruinado antes do prazo previsto.

Ou ela se encantar com algum milagre impossível e comprar um investimento que é fraude e perder o patrimônio que acumulou a vida inteira.

Agora, para uma pessoa responsável, com uma carteira bem-feita, é mais seguro viver de rendimentos do que de renda ativa.

Quando alguém vive apenas de renda ativa, toda a sua qualidade de vida depende única e exclusivamente da sua força de trabalho. Se esse ponto falhar, ela perde tudo.

Agora, se estiver vivendo de rendimentos, diversificando a carteira com diferentes ativos, se um deles der problema, ela não perde o padrão de vida. No máximo, pode ter de fazer ajustes.

É por isso que minha pergunta sempre é se não viver de rendimentos é seguro. Depender apenas da renda ativa é a verdadeira dor das pessoas.

Quais são os melhores investimentos para quem quer viver de renda?

Investimentos de renda fixa são os melhores para quem quer viver de renda. Ainda que seja possível colocar um percentual do patrimônio em investimentos mais agressivos.

É por isso que recomendamos títulos pós-fixados ou com vencimentos curtos para fazer uma carteira escalonada. Por exemplo, títulos que vençam a cada 6 meses ou a cada ano.

Ou seja, se meu padrão de vida anual for de R$ 120 mil, eu tenho que ter um investimento que no próximo ano vá vencer R$ 120 mil acima da inflação para eu pagar meu custo anual.

E por que renda fixa?

Basicamente, porque temos menos surpresas com eles, o que é importante para quem vive exclusivamente de renda passiva.

Em uma carteira mais agressiva, é comum ter períodos de queda de performance que podem durar de um a 4 anos.

Quem tem patrimônio suficiente para garantir que, mesmo com essa queda, o rendimento será suficiente para se manter até a recuperação, pode fazer alguns investimentos agressivos.

Da mesma forma, quem ainda investe mês a mês, trabalhando e tendo sobra de caixa, pode ter uma parte da carteira em investimentos mais agressivos.

Pode ainda, nesses momentos de baixa, comprar os mesmos ativos mais baratos, se isso ainda fizer sentido, aproveitando a oportunidade para ter um patrimônio ainda maior quando o período de queda passar acabar.

É diferente da pessoa que vai precisar vender o ativo em queda para pagar o plano de saúde. Ela é sou obrigada a realizar prejuízo em momento de queda para pagar as contas. Entende?

Então quem quer viver de renda deve ter uma carteira mais conservadora?

Quem vive de renda não tem capacidade para correr muito risco, ou seja, não deve correr risco, mesmo que esteja disposto a isso.

Ele precisa ter uma carteira majoritariamente conservadora de renda fixa. Pelo menos a parte do patrimônio que vai sustentá-lo pelos próximos 5 ou 10 anos deve ser bem arroz com feijão.

Por outro lado, se ele tiver um patrimônio maior com horizonte maior, pode começar a colocar na carteira alguns ativos de renda variável, de bolsa, focando majoritariamente em empresas e ativos que pagam dividendos – e não em crescimento de capital.

Normalmente são empresas maiores ou até fundos imobiliários, mas é preciso fazer uma mistura dos ativos em si.

Por fim, mais uma vez, reforço a importância de ter uma carteira conservadora de renda fixa com vencimentos escalonados para fazer saques a cada seis meses ou a cada ano.