Governo desiste de exigir diversidade em conselhos de distribuidoras de energia

As companhias brasileiras listadas em bolsa devem eleger para seu conselho de administração ou diretoria ao menos uma mulher e um integrante de comunidade sub-representada

O governo Lula (PT) desistiu de exigir que distribuidoras de energia tenham em seus estatutos regras voltadas à busca de diversidade para a escolha de membros do conselho de administração.

A exigência estava em minuta de decreto que cria regras mais rígidas para o setor. A versão final foi publicada na sexta-feira (21), mas ficou sem o trecho após uma análise feita pela Casa Civil.

O decreto, que endurece uma série de outros requisitos para distribuidoras renovarem seus contratos, foi publicado pelo Ministério de Minas e Energia após uma série de falhas no fornecimento de empresas como a Enel, que atua na cidade de São Paulo.

O rascunho inicial do decreto foi enviada pelo Ministério de Minas e Energia para a Casa Civil em maio, a partir de quando passou a sofrer alterações durante a análise por parte do Palácio do Planalto.

No trecho excluído, acerca dos critérios de diversidade, o texto pedia originalmente “a inclusão no Estatuto, ou atos constitutivos equivalentes, de critérios de diversidade como requisitos de indicação para o conselho de administração”.

Segundo uma pessoa envolvida com o tema, que pediu para não ser identificada, a justificativa é que tal trecho poderia configurar uma interferência do governo nas empresas sem o devido respaldo legal.

Procurada, a Casa Civil afirmou que fez a mudança em diálogo com o Ministério de Minas e Energia. A “alteração do estatuto de uma empresa privada poderia ser lida como interferência do governo na vida da empresa”, disse a pasta.

“Ressaltamos que a política de diversidade é um valor para o governo federal e por isso estimulada na atual gestão”, afirmou, em nota.

Diversidade na B3

Atualmente, empresas negociadas na bolsa brasileira já precisam atender a esse tipo de regra. Em julho de 2023, a CVM (Comissão de Valores Mobiliários) aprovou medidas propostas pela B3 para estimular a diversidade de gênero e a presença de grupos sub-representados em cargos de alta liderança.

O mecanismo chamado de “pratique ou explique” exige que as companhias deem transparência ao mercado sobre as ações adotadas para o atendimento das medidas ou expliquem os motivos da sua não adoção.

Essas evidências precisarão ser incluídas no Formulário de Referência, um documento público que toda empresa de capital aberto deve divulgar anualmente e os primeiros relatórios devem começar a ser feitos em 2025.

Pela medida, as companhias brasileiras listadas em bolsa devem eleger para seu conselho de administração ou diretoria ao menos uma mulher e um integrante de comunidade sub-representada (pessoas pretas, pardas ou indígenas, integrantes da comunidade LGBTQIA+ ou pessoas com deficiência), em até dois anos a partir da vigência das regras.

Apesar da retirada da iniciativa do decreto do governo, foram mantidos outras exigências, como a que demanda das empresas a “promoção de capacitação de profissionais da área de concessão, incluindo critérios de diversidade e condições socioeconômicas”. Os critérios passam a valer para os novos contratos, a partir desta sexta.

O decreto trouxe uma série de outras exigências. Agora, as empresas também devem ter um plano para que suas redes de distribuição de energia sejam mais resilientes. Mesmo em caso de queda de energia em razão de eventos climáticos, as empresas terão que atender a parâmetros mínimos para regularização no serviço, sob pena até de rompimento do contrato.

“É o que aconteceu especificamente com a Enel em São Paulo, o que chamamos de expurgo, quando há um fato superveniente, um evento climático severo que suspenda o serviço. [Atualmente] esse tempo não é aferido para efeito regulatório. A partir desse decreto, com objetivos de serem modernizados e exigir maior qualidade de serviço, [esse tempo] passa a ser aferido”, disse o ministro Alexandre Silveira.

“Se fosse hoje, o que aconteceu com a Enel de São Paulo, e já aconteceu com outras concessões […], com certeza teria um grande risco, muito mais eminente e rigoroso, de caducidade ou intervenção”, afirmou Silveira.

Com informações do Valor Econômico