‘Temor sobre fiscal não deve se dissipar’: porquê Wells Fargo projeta o dólar a R$ 5,50

Perspectiva do banco americano é de que o peso da dívida brasileira já está elevado e se mostra insustentável, e a posição recente do governo sugere deterioração adicional

As incertezas envolvendo a evolução da dívida pública pesaram sobre o desempenho do câmbio brasileiro recentemente e devem continuar a exercer pressão na moeda ao longo deste ano — e talvez até em um horizonte mais distante. Essa é a avaliação dos economistas do Wells Fargo, que projetam o dólar a R$ 5,50 no fim do terceiro trimestre deste ano, mantendo-se nesse patamar até o fim de 2024.

“A retórica fiscal desencadeou uma liquidação do real brasileiro, tirando a moeda do um dos postos mais altos do ranking de melhores performances [contra o dólar] entre divisas emergentes para a notável posição de pior desempenho em todo o espectro dos pares, seja emergentes ou da América Latina”, dizem os economistas Nick Bennenbroek, Brendan McKenna e Anna Stein, em nota a clientes.

A perspectiva do banco americano é de que o peso da dívida brasileira já está elevado e se mostra insustentável, e a posição recente do governo sugere deterioração adicional. “Na nossa opinião, as preocupações fiscais se intensificaram e é pouco provável que se dissipem num futuro próximo”, afirmam os economistas do Wells Fargo.

Com esse cenário fiscal incerto, a instituição financeira americana reitera que o Banco Central deverá manter seu ciclo de afrouxamento interrompido, o que pode mudar no ano que vem com as indicações do governo para a diretoria do BC e também para o comando do autarquia.

“Com chances de o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) continuar pressionando por uma política monetária mais frouxa no próximo ano, o Comitê de Política Monetária (Copom) poderá sentir-se compelido a cortar as taxas numa demonstração de lealdade ao presidente”, dizem os profissionais do banco.

Em tese, os economistas não veem a redução da Selic como algo que necessariamente contribuiria para uma moeda mais fraca no Brasil. “Contudo, se os mercados questionarem a independência do Banco Central, a depreciação da moeda [brasileira] poderá persistir no médio e longo prazo”, afirmam. “A piora fiscal e as preocupações com a independência do Banco Central poderiam funcionar como uma fonte de desempenho inferior do real brasileiro ao longo do tempo.”

Ao longo de 2025, no entanto, o Wells Fargo mantém por enquanto uma perspectiva de queda do dólar contra o real, com a moeda americana recuando para R$ 5,40 no fim do primeiro trimestre e caindo gradativamente até alcançar o nível de R$ 5,10 no fim do ano.

Com informações do Valor Econômico