Argentina corta juros: vale a pena viajar para lá? Afinal, o país ficou mais caro para os brasileiros?

Especialistas mostram como a situação local pode impactar os preços para os turistas brasileiros

Será que ainda vale a pena viajar para Argentina? Essa pergunta ganhou fôlego em meados deste mês, quando o Banco Central argentino reduziu a taxa básica de juros de 50% para 40%. O anúncio ocorreu poucas horas depois da divulgação a inflação argentina para o mês de abril, que ficou em 8,8%. Desde outubro do ano passado, foi a primeira vez que o índice ficou em um dígito.

Para entender de que forma esses anúncios impactam (ou não) os planos de turismo no país vizinho, consultamos quatro especialistas. Confira o que eles dizem.

A Argentina está mais cara para os brasileiros?

Quando se perguntam se vale a pena viajar para a Argentina, o que muitos brasileiros querem saber é se o país está mais caro para nós, que ganhamos em reais.

De acordo com os especialistas, a resposta é: sim, a Argentina está mais cara para os brasileiros.

Para Ricardo Igarashi, economista e professor da Faculdade do Comércio, diversos pontos contribuem para isso. “Um deles é a suspensão dos subsídios do governo”, diz ele.

Outro ponto é a persistência da inflação alta. “Esses fatores têm impactado diretamente o custo de vida da população, o que gera preços mais elevados também no setor de turismo”, afirma.

Como está a inflação na Argentina?

E como anda a inflação no país vizinho? O economista Carlos Eduardo Oliveira Jr., presidente Sindicato dos Economistas de São Paulo, destaca que o país terminou 2023 com uma inflação anual de 211,4%.  

Patrícia Krause economista chefe Latin América da Coface, complementa dizendo que, no acumulado de dezembro de 2023 a abril de 2024, a inflação foi de 107%. “Ou seja, ainda que a leitura mensal tenha caído, saindo de 25,5% em dezembro e chegando a 8,8% em abril, ainda é uma inflação mensal muito alta”, alerta.

Depreciação no câmbio paralelo

De acordo com Marlon Glaciano, planejador financeiro e especialista em finanças, entre as diversas medidas de Milei que impactaram a economia, uma das principais foi a desvalorização do peso em relação ao dólar.

“Esse ajuste corrigiu a disparidade que existia entre o preço oficial e o preço paralelo do dólar, que é o dólar blue, cotação utilizada pelos brasileiros”, afirma. “Esse ajuste impacta diretamente no poder de compra dos turistas naquele país”, explica.

Patrícia complementa lembrando que, desde que o novo presidente assumiu o governo, a taxa paralela de câmbio teve volatilidade, mas não depreciou muito. “Se compararmos o patamar de 8 de dezembro, que foi o fechamento antes de ele assumir, com a taxa em final de abril, a depreciação é de apenas 4%”, diz ela.  Ou seja, bem inferior aos 107% de inflação acumulada no período.

Então, considerando todos esses fatores, faz mesmo sentido que os brasileiros tenham a percepção de que ficou mais caro ir para a Argentina.

Mas ainda vale a pena viajar para Argentina?

Agora chegamos à grande questão. Será que ainda vale a pena viajar para Argentina? A resposta depende dos seus objetivos como turista.

Para Carlos Eduardo, há vantagens e desvantagens. No primeiro grupo, ele destaca a variedade de destinos turísticos, que incluem Buenos Aires e Patagônia, por exemplo. Há também a possibilidade de conhecer a cultura argentina, interagir com as pessoas e a aproveitar a culinária local.

“Por outro lado, entre as desvantagens, estão os desafios econômicos enfrentados pelo país e as questões relacionadas à segurança, especialmente em grandes cidades como Buenos Aires”, diz ele. “Ou seja, viajar para a Argentina pode ser uma experiência gratificante, mas é importante considerar prós e contras, e se preparar para desafios que possam surgir durante a viagem”, alerta.

Na opinião de Marlon, ainda pode valer a pena viajar, mas é preciso considerar ajustes no planejamento financeiro.

Já para Patrícia, o importante ter consciência de que aquela ideia de que a Argentina é muito barata mudou. “Não é mais tão barata quanto foi meses atrás”, alerta.

E tem mais: os três concordam que a tendência é de que o país continue ficando mais caro para nós. Mas isso não necessariamente impossibilitará uma viagem para lá. Mas você terá que fazer um planejamento financeiro mais bem detalhado para que nada saia do seu controle.