Como você pode ajudar na reconstrução do Rio Grande do Sul

Estado é um dos mais deficitários do Brasil, e agora precisa enfrentar mais esta tragédia

Eu amo minha profissão e amo escrever. No entanto, em toda minha carreira de colunista, este foi o momento em que tive maior dificuldade para trazer em palavras o que sei. Mas hoje precisamos falar sobre como a enchente Rio Grande do Sul impacta a economia.

Sou gaúcha, moro no Rio Grande do Sul e tenho certeza que mesmo que você não viva aqui, saiba o motivo de eu estar dizendo isto.

Aqui, estamos sofrendo, na pele, os impactos da crise climática do Brasil. Chuvas fortes e extensas provocaram enchentes e deslizamentos de terra que devastaram praticamente todo o Estado.

Embora esteja em boa condição física, é difícil manter-se bem diante de uma catástrofe que, até agora, tirou a vida de 161 pessoas, deixou 88 desaparecidas e criou ao nosso redor um cenário de guerra, afetando quase 90% do Estado.

Sobreviver é o mais importante

Diante do contexto das enchentes Rio Grande do Sul, em que sobreviver é o mais importante, falar ou escrever sobre economia, dinheiro ou investimentos, chegou a me parecer algo muito fútil. 

Então, percebi que eu, mesmo defendendo que autoconhecimento é a mãe do conhecimento, deveria acolher meus sentimentos e, principalmente, dar um tempo.

Agora estou de volta porque desistir não é uma opção.

Enquanto há vida, há esperança, e a esperança que eu acredito é a do verbo “esperançar” que significa persistir, insistir e jamais desistir.

Então, vamos entender melhor o que está acontecendo no meu Estado?

Rio Grande do Sul em números

O Rio Grande do Sul (RS) tem uma população de 11,3 milhões de habitantes, sendo o 6º estado mais populoso do País.

Possui o 5º maior produto interno bruto (PIB) do país, atrás apenas de São Paulo, Rio de Janeiro, Minas Gerais e Paraná. 

O PIB per capita do Rio Grande do Sul é de R$50.693,51, sendo 20% superior à média nacional, que é de R$42.247,52.

Em 2023, o RS exportou US$22,3 bilhões, ocupando a sexta posição entre os principais estados exportadores do Brasil, atrás apenas de São Paulo, Rio de Janeiro, Minas Gerais, Mato Grosso e Paraná.

Catástrofe ambiental também é um problema econômico

As enchentes no Rio Grande do Sul afetaram 94,3% de toda economia do Estado, segundo levantamento da Federação das Indústrias do Estado (Fiergs). Entretanto, os efeitos serão sentidos em todo o Brasil e inclusive também no Exterior.

Apresento abaixo 4 dos principais impactos na economia brasileira:

1 – Aumento da inflação

A inflação é a variação de preços e esta oscilação é dada pela lei da oferta e demanda. Logo, se há menor quantidade de produto no mercado, o preço tende a aumentar.

O Rio Grande do Sul é uma das potências do agro brasileiro, respondendo por mais de 70% da produção de arroz do Brasil; 50,7% de uva; 15% de carnes (12% da produção de frangos e 17% da produção de suínos); 15% da soja e 4% de milho.

Não é coincidência que o preço do quilo do arroz tenha aumentado e os supermercados em todo o país tenham começado a limitar a compra do produto. Isso ocorre porque as pessoas iniciaram uma corrida para estocar arroz.

A corrida pelo produto só acalmou quando o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística – IBGE, divulgou que 80% da safra do arroz já havia sido colhida e o governo federal anunciou, que se for necessário realizará a importação do produto para manter os preços.

Ainda assim, há bastante incerteza e temor de que os preços da carne suína e de frango, além de outros produtos fornecidos pelo Rio Grande do Sul, também possam subir de preço.

2 – Retração do PIB

A economia gaúcha corresponde a 6,5% do PIB brasileiro e o Estado representa 12,6% do PIB da agricultura nacional.

Entre as mais afetadas, a Região Metropolitana de Porto Alegre, Vale dos Sinos e a Serra Gaúcha contribuíram com R$220 bilhões para a atividade econômica brasileira.

Logo, a alta projetada de 2% no PIB brasileiro para 2024 se torna ainda mais incerta e economistas já estimam impacto de 0,2 a 0,3 pontos percentuais das inundações na economia nacional, sobretudo por causa do agronegócio.

3 – Aumento do desemprego

Quase 90% do Rio Grande do Sul, 435 dos 497 municípios foram atingidos pela catástrofe. São cidades, casas, lavouras e empresas debaixo d’água.

Na Região da Serra, as cidades como Caxias do Sul, Bento Gonçalves, Farroupilha são responsáveis pela produção nos segmentos metal mecânico como veículos, máquinas, produtos de metal e móveis. Já, Gramado e Canela concentram o turismo do Estado e figuram entre os 10 destinos mais procurados no Brasil

A Região Metropolitana de Porto Alegre também produz metalmecânicos (veículos, autopeças, máquinas), além de derivados de petróleo e alimentos. Já a Região do Vale dos Sinos é famosa pela produção de calçados.

Somente essas três regiões concentram 23,7 mil indústrias que empregam 433 mil pessoas.

Além disso, mais de 50 mil vagas de empregos são geradas por micro e pequenas empresas no Rio Grande do Sul. Os pequenos negócios respondem, em média, por oito em cada 10 empregos criados na economia do Estado.

Segundo o Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (SEBRAE), cerca de 600 mil micros e pequenas empresas foram afetadas pelas chuvas no Estado.

O índice nacional de desemprego do 1º trimestre de 2024, foi de 7,90%. O relatório demonstrava que o Rio Grande do Sul possuía a quarta menor taxa de desemprego do país (5,80%). O que já se sabe é que este índice vai apresentar elevação, contribuindo para o aumento na taxa de desemprego no país.

4 – Risco fiscal e aumento do endividamento

Em uma catástrofe como a do Rio Grande do Sul, inevitavelmente todos perdem. Há risco fiscal tanto para o governo, quanto para as pessoas.

Em meio aos esforços do governo para arrecadar mais do que gasta e alcançar um superávit fiscal, o Rio Grande do Sul, um dos Estados mais deficitários do Brasil, agora precisa enfrentar mais esta tragédia.

O índice de endividamento das famílias no Brasil foi 78,1% em março deste ano. O Rio Grande do Sul já apresentava um dos índices mais elevados, com 88,3% das famílias gaúchas já endividadas.

Ajuda ao Rio Grande do Sul

Suprida a necessidade básica de sobrevivência, as pessoas começam a pensar no dia seguinte: como eu vou trabalhar? Como vou sustentar minha família? Como vou reerguer minha empresa?

Minha sugestão é que você 𝗰𝗼𝗻𝗵𝗲𝗰̧𝗮 𝗲 𝗰𝗼𝗻𝘀𝘂𝗺𝗮 𝗽𝗿𝗼𝗱𝘂𝘁𝗼𝘀 𝗲 𝘀𝗲𝗿𝘃𝗶𝗰̧𝗼𝘀 𝗱𝗼 𝗥𝗶𝗼 𝗚𝗿𝗮𝗻𝗱𝗲 𝗱𝗼 𝗦𝘂𝗹.

Alguns supermercados no país já aderiram a campanha e inclusive destacam nas prateleiras, indicando os produtos produzidos no Estado.

Convido você a fazer o mesmo em relação a serviços. Contrate, indique e incentive a contratação de profissionais gaúchos ou que morem no Rio Grande do Sul.

Na minha visão, esta é uma das melhores e mais dignas maneiras de ajuda e fomento à economia.

Até a próxima coluna!